sábado, 5 de outubro de 2013

A polêmica sobre médicos

O debate sobre a importação de médicos para atenderem as regiões desguarnecidas do Brasil, é intenso,  emocional , técnico e, possivelmente influenciado  por algum corporativismo. O que não parece razoável é que a população indigente interiorana, desprovida  de apoio médico, com enorme mortalidade infantil, com imensa fragilidade sanitária, a ninguém possa recorrer, senão às preces aos vários Deuses  que povoam sua mística. Se a iniciativa privada não o faz, cabe ao Estado dar a seus cidadãos, pobres que são, o apoio mínimo que este lhes deve.

Compreende-se o aspecto concorrencial, onde muitos  profissionais brasileiros  se opõem a dividir o mercado com médicos “importados”.  É compreensível  que rejeitem   permissão  aos “estrangeiros”  praticar sua profissão sem validar seus diplomas. Argumentam, ainda,  que tais regiões, hoje abandonadas, não dispõem de qualquer estrutura hospitalar que dê viabilidade ao projeto. Também parece razoável concluir-se que os médicos formados no Brasil, após 6 anos de intenso estudo, busquem satisfação profissional e financeira, atuando em regiões que lhes propiciem qualidade de vida, ainda que por vezes modesta, relutando, ou, por vezes, negando transferência para áreas de extrema pobreza.

Contudo, revelando a real penúria de apoio médico no Brasil, torna-se impositivo a leitura, ainda que resumida, de recente relatório da Organização Mundial de Saúde:

“O Brasil tem, proporcionalmente à população, metade dos médicos dos países europeus - no Norte e Nordeste, essa taxa se aproxima à de alguns dos países mais pobres do mundo. Dados que serão divulgados nesta segunda-feira (20), pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na abertura de sua assembléia anual, em Genebra, revelam que a média de profissionais para cada 10 mil pessoas no Brasil está abaixo da do continente americano e é bastante inferior à dos países ricos.
O governo brasileiro vem discutindo a ideia de importar médicos, justamente para atender áreas de maior déficit. Se em alguns centros urbanos os números chegam a superar a média de países ricos, em outras regiões a penúria é dramática, com mais de 300 municípios em dificuldades.”
Assim sendo, parece correto o governo tentar solução para esta lacuna no atendimento ao qual todo cidadão tem inalienável direito. Solucionar o problema tomando por base as naturais forças do mercado, da demanda e oferta,  seria ineficaz, pois as forças naturais da economia, na busca da satisfação,  rejeitam o sacrifício. Nestes casos, somente o Estado pode oferecer solução por direcionar, ainda que de forma artificial, o vetor que propiciará a solução. 

A espera, por muitos anos,  pela solução “natural” de mercado, ou seja, a gradual expansão do número de médicos,  terá por preço quantidade incontável de mortes e deficiências permanentes  que poderiam ter sido evitadas.


Tratando-se de saúde, melhor será buscar-se solução objetiva, deixando-se de lado o conteúdo ideológico e políticos na sua análise. Os “Médicos sem fronteiras” nos dão exemplo cabal como a ajuda humanitária, por médicos estrangeiros, qualificados,  porém sem revalidação de diplomas,  podem chegar, com sucesso, aos recantos mais inóspitos de nosso planeta.

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