O debate sobre a importação de médicos para
atenderem as regiões desguarnecidas do Brasil, é intenso, emocional , técnico e, possivelmente
influenciado por algum corporativismo. O que não parece razoável é que a população
indigente interiorana, desprovida de apoio
médico, com enorme mortalidade infantil, com imensa fragilidade sanitária, a
ninguém possa recorrer, senão às preces aos vários Deuses que povoam sua mística. Se a iniciativa
privada não o faz, cabe ao Estado dar a seus cidadãos, pobres que são, o apoio
mínimo que este lhes deve.
Compreende-se o aspecto concorrencial, onde muitos profissionais brasileiros se opõem a dividir o mercado com médicos “importados”. É compreensível que rejeitem permissão aos “estrangeiros” praticar sua profissão sem validar seus
diplomas. Argumentam, ainda, que tais
regiões, hoje abandonadas, não dispõem de qualquer estrutura hospitalar que dê
viabilidade ao projeto. Também parece razoável concluir-se que os médicos
formados no Brasil, após 6 anos de intenso estudo, busquem satisfação profissional
e financeira, atuando em regiões que lhes propiciem qualidade de vida, ainda
que por vezes modesta, relutando, ou, por vezes, negando transferência para áreas
de extrema pobreza.
Contudo, revelando a real penúria de apoio médico no
Brasil, torna-se impositivo a leitura, ainda que resumida, de recente relatório
da Organização Mundial de Saúde:
“O Brasil tem,
proporcionalmente à população, metade dos médicos dos países europeus - no
Norte e Nordeste, essa taxa se aproxima à de alguns dos países
mais pobres do mundo. Dados que serão divulgados nesta segunda-feira (20),
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na abertura de sua assembléia anual, em
Genebra, revelam que a média de profissionais para cada 10 mil pessoas no
Brasil está abaixo da do continente americano e é bastante inferior à dos
países ricos.
O governo
brasileiro vem discutindo a ideia de importar médicos, justamente para atender
áreas de maior déficit. Se em alguns centros urbanos os números chegam a
superar a média de países ricos, em
outras regiões a penúria é dramática, com mais de 300 municípios em
dificuldades.”
Assim sendo, parece correto o governo tentar
solução para esta lacuna no atendimento ao qual todo cidadão tem
inalienável direito. Solucionar o problema tomando por base as naturais forças
do mercado, da demanda e oferta, seria ineficaz,
pois as forças naturais da economia, na busca da satisfação, rejeitam o sacrifício. Nestes casos, somente o
Estado pode oferecer solução por direcionar, ainda que de forma artificial, o vetor que propiciará a solução.
A espera, por muitos anos, pela solução “natural” de mercado, ou seja, a
gradual expansão do número de médicos, terá por preço quantidade incontável de mortes
e deficiências permanentes que poderiam ter
sido evitadas.
Tratando-se de
saúde, melhor será buscar-se solução objetiva, deixando-se de lado o conteúdo
ideológico e políticos na sua análise. Os “Médicos sem fronteiras” nos dão exemplo
cabal como a ajuda humanitária, por médicos estrangeiros, qualificados, porém sem revalidação de diplomas, podem chegar, com sucesso, aos recantos mais inóspitos de nosso planeta.
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