Comparações e conclusões
Parece
estranho lembramos que um presidente da FIFA e um presidente do Brasil teem algo
em comum.
João Havelange
mostrou o caminho, e, anos mais tarde, Luis Ignácio Lula da Silva seguiu-lhe os
passos. Trata-se aqui da conquista daqueles que no Congresso são denominados de
Anões. Sim, aqueles países, que no campo internacional pouco peso tem.
Ignorados pela sua pobreza e por sua irrelevância na política internacional,
são permanentemente esquecidos, e porque não dizê-lo, desprezados. Ao perceber
que estes muitos países possuem voto em nada diferenciado daquele dos
poderosos, João Havelange buscou-lhes o apoio, assim garantindo sua eleição à
presidência da FIFA, uma das mais poderosas organizações multilaterais do
planeta.
Dele não
diferiu o ex Presidente. Percebendo a força do voto nos forii internacionais decidiu
arrebanhá-los, para surpresa da diplomacia tradicional brasileira. Esta, criada
e treinada nas décadas que abrangeram a Guerra fria e seu término, deve
adaptar-se ao novo equilíbrio geopolítico, que reconhece ter o voto de Angola o
mesmo peso que o aposto pelo Reino Unido.
Estima-se
em 96 os votos dedicados a Roberto Azevedo para presidente da OMC, dentre os
159 membros da organização internacional. Ainda, se considerarmos ter sido
derrotado o candidato mexicano, aliado dos Estados Unidos nesta disputa, conclui-se
que a maioria dos países desenvolvidos, sob influência de Washington, teve que
conceder a vitória ao Brasil. É razoável supor-se que esta maioria de países
que formam a “banda pobre” do mundo já não acredita serem os interesses norte
americanos e de seus aliados necessariamente coincidentes com os seus. Já não
temem a represália que outrora, tal desafio provocaria.
No momento em que as organizações multilaterais assumem crescente importância na determinação da política internacional, onde a crescente globalização político-econômica torna-se cada vez mais visível, observa-se a diluição do voto qualitativo. Deixa, assim, aos países mais poderosos a escolha de, ou aceitar as novas regras do jogo no convívio internacional, ou atropelá-lo através do uso crescente das decisões unilaterais ou de pequenas alianças. Ainda, recairá sobre o Conselho de Segurança das Nações Unidas tensões crescentes, onde o realinhamento de interesses soberanos far-se-ão sentir.
Tais
tensões poderão colidir com os interesses do Brasil, pois sua interdependência
com as nações poderosas não se extinguirá no tempo. Pelo contrário, deverão se
acentuar. É, portanto, razoável
concluir-se que, apesar de ter o Brasil atingido uma vantagem no
tabuleiro, verá, também, o aumente de sua responsabilidade. Sem
desdenhar a política de agregação das nações menores, a maturidade no trato com
as grandes nações é essencial, sem o que os avanços ora conquistados serão
exauridos em tentativas pouco realistas no jogo de poder internacional.
Caberá ao Itamaraty
e ao Sr. Roberto Azevedo, no seu campo específico, consolidar este passo a frente bem como a gradual
expansão de nossa influência mundo afora.
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