domingo, 9 de fevereiro de 2020

Caminhos perigosos

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Donald Trump escapou à Justiça. O julgamento de seu comportamento quanto às suas relações com a Ucrânia terminou por ignorar os fatos, privilegiando a lealdade partidária.

Sua inocência foi conquistada com os votos partidários, mas estes  não apagaram o comportamento  de um presidente americano que usa a coerção sobre presidente estrangeiro, em busca de vantagem pessoal.

Pois bem, agora é virar a página. Fortalecido pelo veredito e favorecido pela economia que, se não pujante, promete um crescimento em torno de 2% para o ano de 2020, tudo leva a crer que sairá vitorioso nas eleições presidenciais que se aproximam.

Trump, muito provavelmente adentrará seu novo e último  mandato livre para cumprir  suas mais extravagantes fantasias. Não mais contido pela prudência imposta por necessidade de re-eleição e nada mais tendo a perder, o Donald será impelido a tornar-se um força permanente no quadro político norte americano.   Para tal assumirá com pleno vigor a imagem do líder "disposto a tudo" para garantir a supremacia dos U.S.A., seja no campo político, econômico ou militar.

Justo presumir-se que as apostas do presidente  serão crescentes e cada vez mais elevadas, atropelando regras que até hoje regem as relações pacíficas entre as nações. A intimidação será sua arma, embasada no ubíquo dollar e no seu extraordinário arsenal militar. As reações contrárias porventura encontradas servirão para aumentar a intensidade do conflito e fortalecer sua imagem interna.   

Dos conflitos gerados, interno e externo, surgirá a radicalização e a consequente criação de uma facção tendo a prepotência por base, e a ambição desmedida  por resultado. Ter-se-á a volta ao passado distante dos anos 20 do Século passado, onde a manipulação dos conceitos de "Nacionalismo" e  "Pátria" serviram à aglutinação das forças radicais e messiânicas.

Até que ponto Trump é imune?  Difícil saber se o Partido Republicano saberá conter tal  marcha que seguiria direção contrária àquela sonhada pelos Founding Fathers. Será o desejo do poder político mais forte do que a repulsa às decisões anti-democráticas de seu líder? Ou saberá o Grand Old Party¹ conter a caminhada para a aventura que se desenha?   

(1) Denominação informal do Partido Republicano


domingo, 2 de fevereiro de 2020

A MORTE DE UM SONHO

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Ainda, é apenas um plano. Caberá ao Knesset, o parlamento Israelense, a aprovação e sua implementação. Porém, vale uma análise, desde já , de tão nefasto projeto.


Uma semana após as celebrações às vítimas do Holocausto, constata-se que o sofrimento não é monopólio de uma só raça. Anunciado pela dupla Donald Trump e Benjamin Netanyahu, anuncia-se a violação de uma nação em busca de sua legitimação, conforme determina a Lei Internacional. Trata-se de subtração escancarada de terras reconhecidas como palestinas pelas Nações Unidas, sob o pretexto de assegurar a segurança daquele que detêm o mais amplo poder, o Estado de Israel.

Baseado em  lógica distorcida o propalado Plano de Paz agora apresentado ao mundo, inverte a ordem dos fatores  para explicar o inexplicável. O plano, pelo contrário do que diz pretender, promete  rebelião e mortes. Nada é mais sagrado,nas sociedades do que a terra dos antepassados. De seu desvio decorre, não tão somente, a indignação, mas, também, a pobreza e a instabilidade social e política. Este será o cenário instável, em torno do qual Donald e Bibi pretendem construir o sempre crescente Estado de Israel, em cujo lado deveria existir, por determinação legal, o Estado Palestino.

Da forma proposta, onde as colonias judaicas se ilegalmente se incorporaram ao Estado Judeu, o Estado Palestino na Cisjordânia vê-se bissectado, uma vez que o pleno acesso à totalidade de seu territória torna-se estrangulado pela nova realidade geográfica. Sim, porque um estado Palestino, condenado às limitações decorrentes do seu virtual encarceramento pelo Estado de Israel, perde qualquer possibilidade de atingir sua real independência, seja política, seja econômica.

Na Cisjordânia, além da perda de sua capital em Jerusalém-Leste, esta a ser transferida para um bairro  distante de sua localização histórica,  a incorporação israelense da banda oeste do Rio Jordão retira ao Palestino acesso independente à Jordânia e ao mundo exterior. Nenhuma das fronteiras propostas oferece o livre trânsito internacional sem que mereça autorização expressa e limitada  de Israel. Trata-se, na prática, de uma prisão erguida para conter 5 milhões de almas.

Perseguindo a política semelhante à busca do Lebensraum nos idos da Segunda Guerra Mundial, Netanyahu nada mais faz do que apossar-se de terra alheia.

Já ao Oeste Palestino, a Faixa de Gaza  permanece cercada por Israel e Egito e com acesso limitado e controlado à Cisjordânia. Já, a liberdade marítima ao Mediterrâneo lhe é negada pela marinha israelense. Os dois territórios que seriam criados e  cedidos à Palestina no Sudoeste da Faixa de Gaza, se destacam pela extrema aridez daquela região que impede o sucesso econômico.

O plano urdido pela dupla Donald/Bibi, cujos nome e apelido sugerem, erroneamente, dois gnomos  carinhosos, faz lembrar o estrupo da Checoslováquia por Hitler, onde o resto do mundo civilizado se dava por convencido de suas boas intenções. Chegando a Londres, vindo da Conferência de Munique em 1938, o Primeiro Ministro Britânico Neville Chamberlain exclamava: "Peace in our time". Ledo engano, meses depois iniciaria-se a guerra de conquista Nazista.

Pergunta-se, até onde se propagará a ambição territorial de Israel? A península do Sinai, a Jordânia, o Sul do Líbano, as Colinas do Golan já estiveram, no passado, sob as esteiras dos tanques israelenses. Retrocederam por pressão internacional. E se esta não mais existir?

O silêncio que se observa nos forums internacionais face tal iniciativa expansionista, seja por intimidação face aos poderosos, seja por solidariedade com um povo que há muito sofreu (o que não impede que seus líderes, hoje, façam os demais sofrerem), seja por descaso ou ignorância,  gera uma passividade que não condiz com a afronta à Lei Internacional.

Em epilogo, transcreve-se, abaixo, breve comentário do respeitado jornal Israelense:

Opinion - Ha'aretz*


Why Trump's Apartheid Peace Plan Is So Dangerous – and Not Only for Palestine

Last Palestinian envoy to DC: The Trump team endorsing a one-state Greater Israel isn’t surprising: they're diehard settlement supporters But their flagrant attack on international law have repercussions far beyond Palestine









domingo, 26 de janeiro de 2020

HOLOCAUSTO



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Com justiça, cumpre-se neste ano solenidade que homenageia as vítimas do Holocausto.Tamanho genocídio racial não encontra similar na história mundial. A indignação mescla-se com a incompreensão de como sociedade tão civilizado tenha sido palco para semelhante barbaridade. 

Hoje compreende-se que a degradação dos valores e costumes não se dá de um momento para o outro mas sim sorrateiramente, lentamente, propelida pela manipulação da opinião pública, embasada na raiva, no medo e na vingança que lhe trazem a história, e, forçoso dizê-lo, pela concepção distorcida e megalômana de ser o "Ariano" um povo eleito e superior.

O Holocausto(1) que se seguiu aos eventos relatados encontra origens, inicialmente, no anti judaísmo que dominava não só a Alemanha mas todos os países Cristãos, tendo por base dois fatores:
  • a diferença de seus costumes e religião
  • a história de Cristo e seu martírio conforme ensinada pela Igreja à época.
É verdade que era grande a diferença na intensidade praticada desta rejeição racial, sendo tênue na Grã Bretanha e aguda no Império Russo. Contudo, o caso Alemão revela idiossincrasias próprias.

A derrota em 1918 e as condições impostas por seus vencedores levou a Alemanha à ruína econômica. França e Inglaterra, contornando as ideias liberais e condescendentes de Woodrow Wilson, foram implacáveis. A república de Weimar que sucedeu ao Império, ao alijar os antigos protagonistas, foi dominada por políticos de extração judaica que tiverem a habilidade de instaurar a democracia numa sociedade até então autoritária.

Contudo, em busca de "responsáveis!" pela derrota no campo de batalha e do desastre econômico que se seguiu, a culpa foi posta aos pés da nova elite política alemã. Simultaneamente, infectados pela vitória Bolchevique na Rússia surgem na Alemanha os movimentos contestatários comunistas, ameaçando a sociedade de índole ordeira e conservadora. Sob o Primeiro Ministro Philipp Scheidemann, alemão de extração judaica, a República de Weimar se mostra incapaz de restabelecer a ordem política e econômica.

A classe média empobrecida e os milhões de soldados desmobilizados e desiludidos tornam-se eleitores e, em 1933, elegem Hitler ao parlamento tendo por base sua mensagem de ordem e progresso. A sucessão de eventos a partir de sua promoção de deputado à Primeiro Ministro (Chanceler) inicia o processo que terminaria em catástrofe.

Tendo por base a ânsia de normalidade do povo alemão, bem como o desejo de vingança pelo debacle de 1918, dois culpados são designados: as nações vencedoras, como inimigos externos, e os Judeus, como inimigos internos. 

Já sob o comando Nazista seguiram-se, no campo nacional, a promulgação de leis e  regulamentos e, ainda,  práticas criadas para subjugar e manietar a população judaica-alemã:
  • tornava-se cidadão de segunda classe, cujos direitos eram inferiores aos do povo alemão
  • sua propriedade era sujeita à confisco
  • seu livre trânsito era suspenso 
  • a etnia vitimada era encarcerada ou assassinada, dentro e fora dos campos de concentração.
Já no front externo, a busca por mais território tornou-se a prioridade. Atropelando as fronteiras internacionalmente aceitas, desrespeitando direitos históricos, aprisionando os habitantes invadidos, a maquina militar lançou-se em busca do “lebensraum” (2), ou seja mais espaço e riqueza para seu povo às expensas do povo invadido. Não tardou em  subjugar a Checoslováquia. A sequência é bem conhecida dos leitores.

Voltando ao presente, observamos esta terrível história; que ela não se repita, nem com o povo judeu, nem com qualquer outro povo.




  1. Dicionário Google: Sacrifício, praticado  em que a vítima era inteiramente queimada.
  2. Lebensraum: espaço vital

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

20 Minutos


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20 MINUTOS – UM RELATO QUE BORDEJA A VERDADE

No dia 9 de janeiro deste novo ano, com 20 minutos de atraso, o Presidente Donald Trump adentrou a Sala de Imprensa da Casa Branca, seguido de séquito de importância nunca vista nestas ocasiões.

Acompanhavam-no o Vice Presidente, dois generais, um deles o Chefe do Estado Maior, e os Secretários (leia-se ministros) das Relações Exteriores e da Defesa.

Amparado pelo mais poderoso estamento político-militar do país, a imprensa presente pre-sentia, antecipava nas palavras do Comandante em Chefe a conflagração prometida, a nova guerra no Oriente Médio. A retaliação Iraniana, prometida e já cumprida sobre as bases americanas no Iraque, Al Assad e Erbil, exigiria resposta conforme promessa do Presidente: destruição de 52 alvos iranianos, já predeterminados.

Porém, contrariando a mise en scène, a montanha pariu um coelho. Cercado por intimidantes uniformes, Donald Trump derramou-se em apelos pacíficos, ridicularizando os efeitos dos misseis iranianos, alegando a incolumidade das suas tropas. Defendeu, então, a desescalada, a interrupção das represálias, a busca de solução pacífica.

Com aparente alívio para uns e desapontamento para outros os jornalistas registraram as notícias pacificadoras., e dispersaram-se. Mas algo estava errado neste relato oficial; perguntas importantes ficaram sem resposta:
  1. Porque a presença de elementos militares da mais alta patente e dos ministros mais envolvidos no contencioso se a mensagem era de paz?
  2. Tendo havido onze vítimas militares americanas, ainda que não fatais, atingidos que foram nas bases militares alvejadas, porque o fato não foi divulgado na reunião com a imprensa?
  3. Qual teria sido o teor do comunicado original, cuja alteração, segundo informação posterior da Casa Branca, retardou por 20 minutos a chegada do presidente e de seu séquito?

Para buscar-se resposta, vale um passo atrás. Juntando-se as peças, muito indica que a reunião na Casa Branca, convocada por Donald Trump, teria por objetivo anunciar a retaliação ao Irã. Prisioneiro de suas próprias promessas nos dias anteriores, o Presidente não mais poderia retroceder. Os alvos iranianos pré-selecionados seriam aniquilados. Este seria o comunicado original, o pretendido.

Compreende-se, assim, o porque da presença do alto comando militar norte americano. Esta, somente seria justificada caso uma operação militar fosse anunciada.

Face à oposição militar, a intenção do Presidente não se cumpriu. Os Generais presentes, preocupados com a insuficiente presença de tropa americana naquele teatro, e, ainda, surpreendidos pela sofisticação e precisão do armamento iraniano, capaz de causar sério dano durante os vulneráveis momentos que acompanhariam a mobilização sua força militar, teriam vetado a decisão presidencial, impondo o abrandamento da mensagem a divulgar.

Assim, tornou-se necessária a modificação do texto originalmente proposto; em vez de guerra, optou-se pela paz, mesmo que temporária. Da formalização das objeções dos Generais até a revisão do texto, lá se foram os 20 minutos.


P.S. Publicado pelo New York Times em 24 de janeiro, 2020:

34 Troops Have Brain Injuries From Iranian Missile Strike, Pentagon Says

The statement contradicts President Trump’s dismissal of concussion symptoms felt by the troops as “headaches” that were “not very serious.”







sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Amigos sim, Aliados não


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As recentes notícia que dão por provável o ingresso do Brasil na OTAN, causam algumas preocupações.

Esta aliança militar, criada pelos Estados Unidos e seus aliados Ocidentais para contrapor-se à expansão soviética , mais especificamente ao Pacto Militar que congregava os exércitos da União Soviética e de seus satélites, teve sua razão de ser, pois conteve a expansão do comunismo internacional.

Com a queda do Império Vermelho e a ascensão de Boris Yeltsin ao poder, a OTAN perdeu sua razão de ser, conforme as reuniões havidas entre o presidente russo e o Secretário de Estado americano,  James Brady. Ambos concordaram em desmantelar as duas alianças militares.

Contudo, desfeito o Pacto de Varsóvia, Washington voltou atrás, mantendo a OTAN, ainda que seu objetivo aparente, o confronto ao comunismo, não mais existisse. Mas pouco a pouco a razão veio a tona, ou seja, a Rússia, apesar de tornar-se capitalista, continuava vista por Washington como o seu  grande inimigo.

Esta visão, lastreada na dificuldade de aplicar sobre Moscou todo o poder e influência que o governo americano exercia sobre as demais capitais europeias e, ainda, pelo receio causado pelo imenso arsenal nuclear russo, Washington decidiu ver a Rússia como seu maior inimigo potencial, assim privilegiando toda política que viesse a diminuir seu poderio. Não levou em conta que o poderia russo tornara-se uma pálida imagem do que fora na época soviética. Com uma população de apenas 145 milhões  e um PIB inferior ao do Brasil, o maior país do mundo não mais tinha o poder para iniciar grandes aventuras militares, muito menos atacar os Estados Unidos. É mínima a probabilidade de novas aventuras expansionistas por parte de Moscou, que não tenham razão defensiva.

Assim, em vez de cooptar-se a Rússia para os benefícios enormes e incontestes de participar da família euro-americana, unida pelos interesses econômico e comerciais, Foggy Bottom e o Pentágono preferiram agir de forma à, explicitamente, promover o seu enfraquecimento.

Daí em diante, toda ação da OTAN visando cumprir sua missão contra a Rússia encontra resposta fulminante. Washington deveria ter previsto que sua ingerência nos estados tampão que cercam a Rússia, como a Georgia e a Ucrânia, encontrariam resposta imediata e contundente, pois que, para Moscou, qualquer evidência de fraqueza abriria as portas para novas interferências, tornando sua capacidade de defesa ameaçada.

Ao observar a atuação da OTAN, aparte o contencioso russo, observa-se uma série de aventuras mal sucedidas que, em nada, atendem o interesse brasileiro. O ataque a Sérvia como objetivo de separará-la de sua província, criando-se um país inviável, o  Cosovo. Revela um absoluto desrespeito à integridade de um país não beligerante nem hostil. Estabelece, ainda, precedente perigoso, onde uma aliança militar  tem  poderes para redesenhar o mapa político de um país. (vide Brasil e o Amazonas).

 Ainda, a derrubada do ditador Kadafi da Líbia pela OTAN não teve qualquer respaldo da lei internacional; redundou na criação de um caos político e econômico  que perdura atá estes dias. Suas outras operações,no Oriente Médio e no Afeganistão, ambas inconclusas, são estranhas aos interesses brasileiros.

O relato que vai acima ilustra quão distanciado dos interesses do Brasil será participar da OTAN. Não existe qualquer contencioso contra a Rússia; pelo contrário, tem-se boas relações, tanto no nível político quanto no econômico.

Concluindo, uma participação brasileira em aliança militar onde o Brasil não terá qualquer influência desafia a lógica de sua política externa. O tratado estipula que o Brasil entrará em guerra contra o agressor caso qualquer um de seus 29 membros for atacado. Levando-se em conta a distância geográfica que separa o Brasil dos demais signatários do Pacto e sua irrelevância econômica e política na maioria dos casos, tal imposição seria desproporcional à real ameaça à sua segurança. Declarar guerra à Rússia, dona do maior arsenal nuclear do planeta, caso a Lituânia por ela fosse atacada, não parece ser do interesse nacional. 

Finalmente, os custos decorrentes de tal aliança, trazendo de volta a obrigação de crescentes gastos militares, dificilmente encontraria qualquer apoio no povo, este já desassistido, e nas elites brasileiras.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Dano Colateral


Mapa de Irã


Dia 8 de janeiro de 2020 foi o dia em que a guerra poderia ter começado. Não fosse a competência de um espião norte-americano revelando à matriz o envio dos foguetes iranianos em direção às suas bases no Iraque, assim permitindo sua evacuação, hoje a história seria diferente. A morte de uma dezena de militares americanos impeliria Donald Trump à escalada e ao conflito incontrolável. 

E como soe acontecer, esta guerra seria consequência de decisões erradas, tomadas intempestivamente, há anos atrás. Neste caso, a decisão teria sido a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear celebrado pelas seis maiores potências do planeta mais o Irã. Impulsivo e ignorante, Donald Trump desprezou as razões que levaram tão poderosas nações, cada qual com seus interesses a proteger, a concluírem, em rara unanimidade, que mais valia um acordo anti-nuclear com Teerã do que um incêndio no Oriente Médio.

Este acordo reverteu o ambiente de crescente hostilidade entre o Irã e os países Ocidentais, tendo os Estados Unidos por protagonista. A partir da assinatura do tratado, procedeu-se a interrupção das  sanções econômicas, o Irã recuperando somas vultosas antes congeladas nos bancos ocidentais, e reabrindo seu comercio sem o impedimento anterior. Caminhava-se para a normalização e a pacificação do Oriente Próximo e Médio.

Mas não foi essa a opinião de Trump. Este, incomodado com o arsenal de foguetes revelado pelo Irã, e instado por seu aliado Netanyahu que se sentia, com razão, ameaçado, decidiu forçar a re-negociação do tratado em questão. Ambos preferiram ignorar que tais foguetes são armas de dissuasão, defensivas, uma vez que sem o apoio de "boots on the ground" são de benefício passageiro, insuficiente para lastrear aventuras militares. Do ponto de vista de Teerã, eliminados os foguetes, tanto Israel quanto os Estados Unidos, ambos com longo histórico intervencionista, poderiam atuar sem o risco de retaliação.

Com base na sua falta de base, onde, para ele é história, povos, costumes, e valores daquela região "é tudo a mesma coisa", Donald Trump não soube avaliar o essencial ao fazer a guerra: conheça seu inimigo, sua terra, suas águas, seus céus.(1). Desprezou a resiliência Persa, sua capacidade de estender sua influência e suas alianças através do Oriente Médio, suas relações com a Rússia e a China, solidárias ao opor-se, ainda que à socapa, à hegemonia norte-americana.

Assim, o presidente americano decidiu iniciar uma operação de "Maximum Pressure" sobre a liderança Iraniana, tendo por objetivo levá-la à mesa de negociação. Para tal, mobiliza seu incomparável poder militar com seu temível arsenal de sanções econômicas de forma à impor suas condições.

Diversos incidentes, de parte a parte,  se seguiram, culminando no assassinato do General Soleimani.  Chega-se, então, ao dano colateral. Foguetes para cá, foguetes para lá, e acontece o trágico, a morte de 176 inocentes, canadenses, iranianos, ingleses, passageiros insuspeitos, vitimas de armas
infalíveis, auto-acionadas, em busca permanente do inimigo.  Nem por isso deixarão de existir novas escaramuças, as quais, se envoltas em circunstâncias inesperadas, poderão renovar a angustia da guerra.

Já, do ponto de vista brasileiro, em nada lhe beneficia engajar-se nesta liça. Apesar de sua extensão, o Brasil é um pais economicamente e militarmente débil. A criação das Nações Undas trouxe ao mundo uma fundamental mudança nas regras que regem o comportamento das nações. Apoiar esta notável instituição é essencial ao resguardo do fraco perante o forte.

Ainda que sujeitas às pressões dos poderosos, não mais tolerada é a subtração de soberania tão em voga até o término da primeira guerra mundial. Na valorização das entidades multinacionais, na diversificação de sua influência diplomática e de seus mercados reside a segurança nacional.


1. Sun Tzu

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Uma jogada de alto risco


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A guisa de "bom dia" a imprensa noticiou a morte de importante general iraniano logo após  desembarcar no aeroporto civil de Bagdá, vítima de um míssil disparado por um drone norte-americano tendo objetivo pré-determinado.

O Ayatollah iraniano lamentou o ocorrido e prometeu resposta;  o Presidente americano vangloriou-se pelo feito.

Não será fácil encontrar nos anais das relações internacionais  fato onde um país trama, executa e assume publicamente o assassinato de pessoa relevante de outro país estando ambos,  oficialmente, em estado de Paz.

O casus belli que deu início aos eventos que se sucederam, foi a morte de um cidadão civil americano em base curda-iraquiana causada por mísseis de uma milícia iraquiana e pró-iraniana. Seguiu-se imediata resposta norte americana, bombardeando base de tal milícia, matando dezenas de seus seguidores.

Lícito supor-se que a resposta  americana até então seria suficiente. Porém, surpreendentemente, a retaliação de Washington foi muito além, ao envolver a decisão pessoal de Donald Trump de eliminar o general Suleimani.. 

Já, o ditado inglês, Might makes Right , muito comum nos tempos imperiais, não mais tem o mesmo peso, significado e validade no mundo atual. Não basta serem os Estados Unidos a mais poderosa das nações; a imposição de sua vontade não mais é assegurada, face a um mundo mudado:

-  A comunicação instantânea às massas do planeta potencializando a opinião pública mundial,

-   As variadas culturas que dão à morte e ao sofrimento individual e coletivo diferentes pesos, assim aumentando além do esperado a resiliência do inimigo,

-  A assimetria das guerras que limita o uso eficaz da parte mais letal do arsenal,

-  A proliferação nuclear que impõe prudência e comedimento,

...são elementos que impõem cuidadosa  reavaliação quanto às consequências previsíveis de buscar na guerra a solução.

O relato dos conflitos empreendidos, Vietnam, Iraque, Afeganistão  têm evidenciado não só o alto custo em vidas e dinheiro, mas, também, a imprevisibilidade dos resultados esperados.

Fica, assim, a pergunta: porque desejaria os Estados Unidos provocar uma guerra com o Irã? Vale buscar-se no passado o farsesco episódio da Guerra do Kosovo, sobre a qual Bill Clinton construiu, em parte, sua reeleição, após enfrentar um quase impeachment.

Donald Trump parece seguir estes passos com a insoucience que só sua ignorância de assuntos internacionais pode lhe conceder.  Talvez, o presidente acredite na passividade Iraniana. Pouco provável. Ele parece aceitar o risco de guerra contra o Irã, seja de alta ou baixa intensidade,  às vésperas de sua pretendida re-eleição, como um trunfo para arregimentação popular, que lhe daria a vitória.

Despreza ou ignora os prováveis efeitos  de tal deflagração sobre a produção e preço de petróleo na região, colocando seus aliados Europeus sob extrema pressão, em benefício da Rússia, sua provedora principal de energia. Ainda, ignora o efeito recessivo que tal scenario imporia sobre a economia mundial.

Porém Trump não é Clinton. Enquanto o conflito com a Sérvia-Kosovo tivesse  pouca expressão geo-política, assim evitando contaminação na comunidade internacional, uma guerra contra o Irã provocará profundas consequências, envolvendo  todo o Oriente Médio e, por consequência, o planeta.ainda sofrego por petróleo.

Ainda, uma  derrota do Irã e uma mudança para um regime pró-Estados Unidos dificilmente seria aceita pela Rússia, cujo flanco Sul tornar-e-ia ameaçado. A China também teria sua segurança geo-política  ameaçada, tanto por razões econômicas visto a perda de crucial fonte de petróleo, quanto pela alteração do equilíbrio de forças no Afeganistão e no Paquistão, ambos fronteiriços com o Irã..

Na Guerra, sabe-se como começa, mas não como acaba. Na política, também.