sexta-feira, 17 de janeiro de 2020
Amigos sim, Aliados não
As recentes notícia que dão por provável o ingresso do Brasil na OTAN, causam algumas preocupações.
Esta aliança militar, criada pelos Estados Unidos e seus aliados Ocidentais para contrapor-se à expansão soviética , mais especificamente ao Pacto Militar que congregava os exércitos da União Soviética e de seus satélites, teve sua razão de ser, pois conteve a expansão do comunismo internacional.
Com a queda do Império Vermelho e a ascensão de Boris Yeltsin ao poder, a OTAN perdeu sua razão de ser, conforme as reuniões havidas entre o presidente russo e o Secretário de Estado americano, James Brady. Ambos concordaram em desmantelar as duas alianças militares.
Contudo, desfeito o Pacto de Varsóvia, Washington voltou atrás, mantendo a OTAN, ainda que seu objetivo aparente, o confronto ao comunismo, não mais existisse. Mas pouco a pouco a razão veio a tona, ou seja, a Rússia, apesar de tornar-se capitalista, continuava vista por Washington como o seu grande inimigo.
Esta visão, lastreada na dificuldade de aplicar sobre Moscou todo o poder e influência que o governo americano exercia sobre as demais capitais europeias e, ainda, pelo receio causado pelo imenso arsenal nuclear russo, Washington decidiu ver a Rússia como seu maior inimigo potencial, assim privilegiando toda política que viesse a diminuir seu poderio. Não levou em conta que o poderia russo tornara-se uma pálida imagem do que fora na época soviética. Com uma população de apenas 145 milhões e um PIB inferior ao do Brasil, o maior país do mundo não mais tinha o poder para iniciar grandes aventuras militares, muito menos atacar os Estados Unidos. É mínima a probabilidade de novas aventuras expansionistas por parte de Moscou, que não tenham razão defensiva.
Assim, em vez de cooptar-se a Rússia para os benefícios enormes e incontestes de participar da família euro-americana, unida pelos interesses econômico e comerciais, Foggy Bottom e o Pentágono preferiram agir de forma à, explicitamente, promover o seu enfraquecimento.
Daí em diante, toda ação da OTAN visando cumprir sua missão contra a Rússia encontra resposta fulminante. Washington deveria ter previsto que sua ingerência nos estados tampão que cercam a Rússia, como a Georgia e a Ucrânia, encontrariam resposta imediata e contundente, pois que, para Moscou, qualquer evidência de fraqueza abriria as portas para novas interferências, tornando sua capacidade de defesa ameaçada.
Ao observar a atuação da OTAN, aparte o contencioso russo, observa-se uma série de aventuras mal sucedidas que, em nada, atendem o interesse brasileiro. O ataque a Sérvia como objetivo de separará-la de sua província, criando-se um país inviável, o Cosovo. Revela um absoluto desrespeito à integridade de um país não beligerante nem hostil. Estabelece, ainda, precedente perigoso, onde uma aliança militar tem poderes para redesenhar o mapa político de um país. (vide Brasil e o Amazonas).
Ainda, a derrubada do ditador Kadafi da Líbia pela OTAN não teve qualquer respaldo da lei internacional; redundou na criação de um caos político e econômico que perdura atá estes dias. Suas outras operações,no Oriente Médio e no Afeganistão, ambas inconclusas, são estranhas aos interesses brasileiros.
O relato que vai acima ilustra quão distanciado dos interesses do Brasil será participar da OTAN. Não existe qualquer contencioso contra a Rússia; pelo contrário, tem-se boas relações, tanto no nível político quanto no econômico.
Concluindo, uma participação brasileira em aliança militar onde o Brasil não terá qualquer influência desafia a lógica de sua política externa. O tratado estipula que o Brasil entrará em guerra contra o agressor caso qualquer um de seus 29 membros for atacado. Levando-se em conta a distância geográfica que separa o Brasil dos demais signatários do Pacto e sua irrelevância econômica e política na maioria dos casos, tal imposição seria desproporcional à real ameaça à sua segurança. Declarar guerra à Rússia, dona do maior arsenal nuclear do planeta, caso a Lituânia por ela fosse atacada, não parece ser do interesse nacional.
Finalmente, os custos decorrentes de tal aliança, trazendo de volta a obrigação de crescentes gastos militares, dificilmente encontraria qualquer apoio no povo, este já desassistido, e nas elites brasileiras.
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