sexta-feira, 3 de janeiro de 2020
Uma jogada de alto risco
A guisa de "bom dia" a imprensa noticiou a morte de importante general iraniano logo após desembarcar no aeroporto civil de Bagdá, vítima de um míssil disparado por um drone norte-americano tendo objetivo pré-determinado.
O Ayatollah iraniano lamentou o ocorrido e prometeu resposta; o Presidente americano vangloriou-se pelo feito.
Não será fácil encontrar nos anais das relações internacionais fato onde um país trama, executa e assume publicamente o assassinato de pessoa relevante de outro país estando ambos, oficialmente, em estado de Paz.
O casus belli que deu início aos eventos que se sucederam, foi a morte de um cidadão civil americano em base curda-iraquiana causada por mísseis de uma milícia iraquiana e pró-iraniana. Seguiu-se imediata resposta norte americana, bombardeando base de tal milícia, matando dezenas de seus seguidores.
Lícito supor-se que a resposta americana até então seria suficiente. Porém, surpreendentemente, a retaliação de Washington foi muito além, ao envolver a decisão pessoal de Donald Trump de eliminar o general Suleimani..
Já, o ditado inglês, Might makes Right , muito comum nos tempos imperiais, não mais tem o mesmo peso, significado e validade no mundo atual. Não basta serem os Estados Unidos a mais poderosa das nações; a imposição de sua vontade não mais é assegurada, face a um mundo mudado:
- A comunicação instantânea às massas do planeta potencializando a opinião pública mundial,
- As variadas culturas que dão à morte e ao sofrimento individual e coletivo diferentes pesos, assim aumentando além do esperado a resiliência do inimigo,
- A assimetria das guerras que limita o uso eficaz da parte mais letal do arsenal,
- A proliferação nuclear que impõe prudência e comedimento,
...são elementos que impõem cuidadosa reavaliação quanto às consequências previsíveis de buscar na guerra a solução.
O relato dos conflitos empreendidos, Vietnam, Iraque, Afeganistão têm evidenciado não só o alto custo em vidas e dinheiro, mas, também, a imprevisibilidade dos resultados esperados.
Fica, assim, a pergunta: porque desejaria os Estados Unidos provocar uma guerra com o Irã? Vale buscar-se no passado o farsesco episódio da Guerra do Kosovo, sobre a qual Bill Clinton construiu, em parte, sua reeleição, após enfrentar um quase impeachment.
Donald Trump parece seguir estes passos com a insoucience que só sua ignorância de assuntos internacionais pode lhe conceder. Talvez, o presidente acredite na passividade Iraniana. Pouco provável. Ele parece aceitar o risco de guerra contra o Irã, seja de alta ou baixa intensidade, às vésperas de sua pretendida re-eleição, como um trunfo para arregimentação popular, que lhe daria a vitória.
Despreza ou ignora os prováveis efeitos de tal deflagração sobre a produção e preço de petróleo na região, colocando seus aliados Europeus sob extrema pressão, em benefício da Rússia, sua provedora principal de energia. Ainda, ignora o efeito recessivo que tal scenario imporia sobre a economia mundial.
Porém Trump não é Clinton. Enquanto o conflito com a Sérvia-Kosovo tivesse pouca expressão geo-política, assim evitando contaminação na comunidade internacional, uma guerra contra o Irã provocará profundas consequências, envolvendo todo o Oriente Médio e, por consequência, o planeta.ainda sofrego por petróleo.
Ainda, uma derrota do Irã e uma mudança para um regime pró-Estados Unidos dificilmente seria aceita pela Rússia, cujo flanco Sul tornar-e-ia ameaçado. A China também teria sua segurança geo-política ameaçada, tanto por razões econômicas visto a perda de crucial fonte de petróleo, quanto pela alteração do equilíbrio de forças no Afeganistão e no Paquistão, ambos fronteiriços com o Irã..
Na Guerra, sabe-se como começa, mas não como acaba. Na política, também.
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2 comentários:
Tio Pedro!!! Obrigada por compartilhar seu conhecimento Beijos Deise
Pedro querido, excelente!Uma análise tao lúcida dos fatos! Obrigada! Super abraco, Fernanda
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