domingo, 28 de abril de 2019

Capitalismo radical?

Milton Friedman e Karl Marx

São muitas e diversas as fontes de insatisfação nos meios intelectuais e populares com a tradicional dicotomia direita esquerda que hoje não mais resume o pensamento econômico-político. A complexidade da vida moderna, revolucionada pela robotização, pelas redes sociais e pela alteração da pirâmide demográfica que reduz a influência da juventude, altera as premissas tradicionais e demandam novo enfoque.

Não raro movimentos políticos evidenciam insatisfação por condições econômicas, e hoje constata-se que o planeta atravessa, neste momento, manifestações de aguda insatisfação, seja econômica, política ou social.

A clivagem da sociedade norte americana contra o Trumpismo, o Brexit, os Gilets Jaunes, o movimento Neo Nazi na Alemanha, todos refletem insatisfação.

A partir da revolução industrial originada na Inglaterra no Século XVIII, iniciou-se um processo que, no tempo, suplantaria a riqueza rural, onde o trabalhador era subjugado e afônico. Iniciou-se, então, a criação de uma nova classe, a dos trabalhadores urbanos. Com o aperfeiçoamento da democracia, seu voto começou a pesar e a exigência de um re-equilíbrio distributivo a ser necessária.

Na época, entre os dois extremos do extrato social, a nobreza rural e a classe trabalhadora, encontrava-se a burguesia, seu poder dividido, essencialmente, dentre os financistas, os comerciantes e os emergentes industriais. A nova equação social, questionando as estruturas vigentes e impactada pela nova realidade urbana gerava as duas vertentes do socialismo, o da Sociedade Fabiana e a de Karl Marx.

No final do Século XIX, a Sociedade Fabiana é criada em Londres, tendo por objetivo atenuar as terríveis condições impostas aos trabalhadores. Teve por meta atenuar as inaceitáveis condições e compensação do trabalho através da busca, na arena política, por uma mais equitativa justiça social. Já Karl Marx, também em Londres, na mesma época e com os mesmos objetivos, desenvolve uma vertente revolucionária e impositiva, já do conhecimento de todos.

Enquanto o socialismo gradualista e equilibrado prosperava na Escandinávia, estabelecendo-se uma convivência da justiça social com o ímpeto criador de riqueza trazido pelo capitalismo, já, a derrubada do Czarismo Russo, por Vladimir Lenine trouxe a violência e a imposição radical, transformando um ideal em prisão cruel e ineficaz, onde a igualdade só poderia conviver com a pobreza.

Um Século decorrido, o esfacelamento da União Soviética parece ter encerrado e retirado toda a credibilidade desta formulação revolucionária e ditatorial: o comunismo. Tal colapso teve por efeito subsidiário a validação do capitalismo radical como sistema único capaz de oferecer riqueza e bem estar à países, às empresas, aos empresários. Já, ao trabalhador, seu ganho seria consequência da riqueza acumulada no "segundo andar" que, através do conceito de "Trickle down economy", ou gotejamento econômico, o qual, graças à esta putativa força de gravidade, terminaria por dar ao trabalhador, no seu andar térreo, o seu "justo" quinhão na prosperidade conquistada.

Vinte anos após a derrubada do Muro de Berlim e do império comunista, não parece ter sido o caso. Tendo-se os Estados Unidos como "Case Study", observa-se, pelo contrário, a continua concentração de riqueza nos andares superiores, mantendo virtualmente estagnado o ganho da classe média desde os 80 do Século XX.

As preocupações anti-trust que já assaltavam Theodoro Roosevelt no ocaso do Século XIX e as de cunho social em Franklin Roosevelt no anos 30 do Século XX não mais parecem se aplicar no cenário atual, e o resultante desequilíbrio sócio-econômico já não mais gera esforço corretivo. As agencias reguladoras, orientadoras da lisura operacional e garantidoras do comportamento ético, hoje se encontram asfixiadas pela penúria orçamentária.

Talvez ignorando as lições dos anos 50 do Século XX, no início do grande salto econômico que enriqueceu os Estados Unidos e boa parte do planeta, ensinava-se na universidades norte americanas que toda empresa tinha estes legítimos "stake-holders" ou agentes relevantes: os acionistas, os administradores, os funcionários, o fisco e os consumidores. Esta visão acentuava a inter-relação das forças essenciais ao crescimento econômico de forma harmônica, e a solidariedade sócio-política que embasava o ambiente positivo para sua continuidade e expansão. Uma empresa sendo tanto um ente econômico-capitalista quanto um ente social.

Constatou-se, por conseguinte o maior e mais compartilhado período de crescimento econômico da história dos Estados Unidos. Verificou-se, ainda, o enriquecimento sustentável do topo e da base da pirâmide, alimentando e conduzindo o mais unânime e solidário processo político-ideológico da sua história.

Hoje, pesquisas nos Estados Unidos ensinam que a expectativa de melhora econômica das novas gerações da classe média não mais existe como d'antes. Revelam, também que, desde os anos 80 do século passado, esta mesma classe média, anteriormente tida por celeiro do desenvolvimento nacional, pouca melhoria teve.

Nos Estados Unidos, tanto os índices de IDH (índice de desenvolvimento humano) quanto o de Gini (índice de distribuição de riqueza) vem piorando alem de constatar-se queda em longevidade da sua população. As mortes por suicídio e a dependência às drogas mostram ininterrupto acréscimo. Ainda, a deterioração da sua infraestrutura viária é objeto de séria preocupação.

Aos observadores, não parece prudente desprezar-se estes sinais evidentes de crise sócio-econômica, pois indica uma deterioração na alocação de recursos em benefício da sociedade. Até que ponto existe uma coincidência de tal deterioração com o início da influência do liberalismo extremo adotado por Ronald Reagan? Que os experts se pronunciem.

Hoje, graças, em parte, aos ensinamentos da Escola de Chicago, a mola mestra torna-se empresarial, tornando os demais segmentos político-econômicos de uma nação, como o Estado e a massa consumidora e trabalhadora em engrenagens necessárias porém subsidiárias ao ímpeto principal. Cria-se, assim, o possível desequilíbrio entre os segmentos sociais, pois não mais contam com o amalgama do consenso e da solidariedade que vigia nas décadas anteriores. Cria-se o desequilíbrio, que é nocivo, pois clama por reajuste, por sua vez gerador de instabilidade e imprevisibilidade. Gera-se, assim, grave tensão social com efeitos políticos e eleitorais.

Hoje, o que se vê é o conflito crescente, pari-passu com a crescente disparidade econômica da cidadania. Não se trata de duvidar do capitalismo mas, sim de protegê-lo contra os desvios que ameaçam a estabilidade politica e, por consequência, sua própria sobrevivência.

A crescente cartelização da atividade empresarial, aliada e resultante da tendência ao oligopólio, evidenciados pela febre de fusões e aquisições de congeneres que acentuam a concentração de sua atuação no mercado e a consequente manipulação na formação dos preços fragiliza a base teórica do capitalismo. Ainda, a sistemática compra e neutralização, pelas grandes empresas, de “start-ups” que possam tornar-se concorrentes concentra cada vez mais seu poder de precificação. Cada vez mais, vê-se o consumidor prejudicado pela redução da concorrência, assim reduzindo sua solidariedade para com o formato econômico prevalente.

A aquisição de suas própria ações, assim reduzindo a base acionária e a democratização do voto, substituindo o voto espontâneo dos pequenos acionistas pelo voto negociado com os grandes "players", permite a concentração de poder que resulta nos "Boards" das empresas concederem salários e participações bilionárias, destruindo qualquer justificação lógica e ética na relação trabalho/ganho através da pirâmide laboral.

Esta remuneração multi bilionária dos dirigentes empresariais através de bonus acentua a questão da elitização na distribuição de riqueza, onde a massa empregada é desconsiderada como merecedora de prêmio. Hoje, destituída da voz que anteriormente os sindicatos lhe concedia, o trabalhador sentir-se-a lesado na participação nos benefícios do capitalismo que teria direito de esperar.

Abstendo-se de juízo de valor, o observador é levado a concluir que a continuar a atual tendência de favorecimento na concentração econômica, ela se traduzirá pela degradação dos objetivos do capitalismo concorrencial, que tanto no consumidor, quanto no capital se erguem os seus principais pilares. As loas ao crescimento do PIB devem  ser temperadas pela constatação que somente 13% do ganho total  chega em benefício de 160 milhões de americanos enquanto 20% é apropriado aos 35 milhões mais ricos, ou 1% no cume do edifício social. Acentua-se, assim, a disparidade e a distancia que hão de gerar insatisfação e contestação futura.

Estas, e outras condições, vem prejudicando a imagem do capitalismo como instrumento de enriquecimento de toda uma nação, não apenas do topo da pirâmide. Observa-se, assim, o gradual afastamento de um sócio imprescindível ao sucesso do capitalismo, a massa trabalhadora.

Esta, afastada do processo solidário, gera, também, o problema político graças à crescente influência do “business” sobre o estamento político-democrático, este visto como cúmplice do que alguns chamam de capitalismo radical. Se assim progredir, ou involuir, o preço tornar-se-á institucional, pois a re-arrumação de poderes, em foro democrático, se fará necessária. Em outras palavras, nova e perigosa crise.

A crescente influência da mensagem "anti-establishment" de Bernard Sanders, o candidato socialista do partido Democrata norte-americano é um alerta a ser ouvido. Não terá ele condições de ganhar eleição, mas muitas de suas observações já se impregnaram no discurso do partido.

E o Brasil, terá algo a aprender?






sábado, 13 de abril de 2019

Ventos do passado

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Nenhum presidente tem a obrigação de ser especialista neste ou naquele assunto.  Justamente por isto, constitui-se um ministério e, pela mesma razão, os ministros se apoiam no raciocinio de seus inúmeros colaboradores. Em suma, decisão de governo não é coisa individual, e sim um trabalho de equipe coordenado pelo primeiro mandatário.

Jair Bolsonaro tem se confessado jejuno em matéria de economia, o que não o impede, na recente interferência no preço do diesel da Petrobras, de tomar decisão em questão que demanda conhecimento amplo e abrangente antes de ser decidida. O presidente parece ter sido imprudente.

E o assunto vai ainda mais longe. A viagem do presidente à Washington, onde alinhou a política externa brasileira ao Estados Unidos, tambem teve por objetivo criar junto aos mercados americanos e internacionais um nova imagem de conciente capitalista, crente no acerto das forças de mercado, defensor do Estado reduzido. O novo Brasil, afirmou, nada tem a ver com a execrada Dilma, socialista, intervencionista.

E não é que bastou para seu guru economico, Paulo Guedes, viajar para Washington e lá reforçar a imagem deste Brasil moderno, que o Presidente comete erro que lembra os anteriores governos execrados? Porque terá tomado esta decisão? Quem lhe terá influenciado? O "filósofo" Olavo de Carvalho e seus seguidores ou aqueles políticos da velha guarda, talvez fantasiados de revonadores?

A razão principal, subjacente, para tal decisão parece ser o medo de nova greve dos caminhoneiros. Assim sendo, em vez de planejar como impedir, neutralizar e assegurar o abastecimento emergencial do país (vide  Blog de 30/3/2019), o Presidente preferiu comprar a tranquilidade, que será por curto prazo,  sem ter avaliado o verdadeiro  custo de sua decisão.

Não apenas o econômico mas, também o político, ao transferir para àqueles que dominam o transporte rodoviário a eficácia da chantagem. 

Mas não há razão para desespero, diria o sábio Oriental, e sim para a esperança de que o primeiro mandatário aprenda que não deve tomar decisões sem consultar àqueles de direito. Ainda, urge a tomada de medida corretiva que, dificilmente se dará sem angustia  política e perda de face nos altos escalões em Brasilia.

Caso contrário, caso não se recomponha o direito da Petrobras à necessária autonomia, tal como a livre determinação de seus preços,  uma mancha na imagem será criada, a de impulsividade e voluntarismo na administração da República, aliás muito ao gosto do novo aliado, Donald Trump.

sábado, 6 de abril de 2019

Aviões e ilusões


Ray Dalio, the billionaire founder of the world’s biggest hedge fund, said he believes flaws in American capitalism have created destructive and self-reinforcing gaps in education, social mobility, assets and income -- and the result could be another revolution.

O comentárista acima é um empedernido capitalista que vê na atuação de empresas, de seus executivos e de políticos associados uma tendencia na direção da abolição de limites. Dentre estes limites existem os do bom senso e na regulamentação de práticas e valores que devem fazer convergir tanto a procura do Lucro quanto o interêsse geral da Sociedade.

                                         
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A estória que se segue é de empreendorismo, de competitividade, de inovação e...

O telefone tocou. Ainda era cêdo, o café nem pronto estava. John, com uma ponta de irritação, atendeu com um ríspido

    _ OK, que V precisa nesta hora, Ted?
    _ John, desculpa, sei que é cedo, mas liga no canal 7. A Airbus acaba de anunciar o primeiro voo do seu modelo 321neo
    _ Mas como assim, ainda faltam uns meses?
    _ Pois é, pelo visto aceleraram o programa. Temos um grande problema pela frente.
    _ Estou indo para o escritório agora. Chama o pessoal. Temos que resolver este problema já.

Engolindo seu café e desprezando seu pancake John veste seu paletó e se apressa para o elevador.

25 minutos depois entra na garagem da Bongbong, bate a porta de seu Tesla e, impaciente, já no elevador, aperta o botão 63, seu escritório. Passa apressado por sua secretária que lhe avisa “Estão todos na sala de conferência, Mr. Williams”

    _ OK, pessoal, estamos em maus lençóis. Estes malditos europeus nos passaram a perna. Com seu novo avião nos colocam em posiçao insustentável. Não temos equipamento que concorra com ele. Nosso 700 é lento, consome muito mais combustível, carrega menos passageiros, e tem menor raio de açao. Em suma, fomos pegos de calças curtas.
    _ V. tem razão John, mas não foi por falta de aviso. O “board” ficou atrazando os recursos necessários para o novo projeto, o qual nos daria uma aeronave muito mais moderna e eficiente do que este brinquedinho da Airbus.
    _ Tudo bem, Bill, mas não nos deram os recursos. Agora temos que improvisar. E rápido. A cada mês que passa perderemos mais e mais compradores. Essas aéreas não tem lealdade. Vamos perder muito mercado, as ações vão mergulhar. A solução tem que ser rápida, não há tempo a perder.

Durante uma semana as mais díspares sugestões são oferecidas e rejeitadas. Ora é o custo, ora o tempo excessivo. Mas, enfim, uma idéa parece ganhar corpo e aceitação. John sabe que não só ele que está exhausto, todos ali presentes deram tudo de si.
    _ OK, pessoal. Vamos nos concentrar nesta solução. È brilhante. Parabéns, pessoal. Vamos recapitular os seus pontos principais:

    Um novo projeto levaria 10 anos. Neste tempo nossas perdas seriam enormes. Está alternativa, portanto, está fora de questão.

    Usamos, então, o avião que já temos, o 700, e o adaptamos às novas necessidades.

    Encomendamos novos motores, mais potentes e economicos, aumentamos a envergadura para dar mais sustentação e o cumprimento da fuselagem para receber mais passageiros. Certo?
    John observou um braço levantado insistentemente, Lá vem este chato de novo, pensou.
    _ Muito bem Ambrose, diga
    _ Desculpe John, mas acho que essas modificações vão exigir uma revisão geral do novo projeto, uma vez que a distribuição de peso e as alterações aérodinâmicas diferem muito do projeto do 700 original.
    _ Não é nada disso, Ambrose. Nossa área de sistemas pode neutralizar os eventuais desequilibrios na operacionalidade do avião. Estou certo, Wladislav?

O diretor responsável pela área de Sistemas acena sua concordância.

    _ Desculpe insistir, diz Ambrose, existe, também, a necessidade e o tempo para treinar os pilotos na nova configuração. Só isso pode demandar mais um ano para viabilizar o projeto para a vida real.

     _ Acho que V. está enganado Ambrose. O responsável pela área de sistemas tem certeza que a adaptação se fará em muito pouco tempo, certo Wladislav? Então é isso, pessoal. Vamos arregaçar as mangas. Vamos entregar este novo avião, o 700 Plus, daqui a dois anos, e não em dez. E as ações vão às alturas!

                                 OOOOO

O final desta história é conhecida por todos, mas não pelas quase trezentas e quarenta vítimas da improvização e dos atalhos, estes impelidos pela prioridade do lucro, renegando custos que talvez houvessem salvo suas vidas. Morreram antes de saber porque.

Por vezes, as mentes mais simples confundem o ocorrido com capitalismo. Não mais deveriam no Século XXI.


O texto acima é fruto da imaginação do autor. Os eventos e nomes são fictícios. Também os aviões.




sábado, 30 de março de 2019

Curtas - Russos e Caminhões

Dois tópicos abordados pela imprensa parecem merecer importância, assim, este Blog abordará, de forma suscinta, cada um deles.

O BRASIL ENTRE DUAS POTÊNCIAS

Tropas Russas desembarcam na Venezuela! Este foi o clamor estampado nos jornais. Mas parece importante ressaltar que se trata da entrega de mísseis anti aéreos S300 e S400 acompanhados pelos técnicos militares encarregados da instalação do equipamento. Trata-se de um alerta aos eventuais raides aéreos empreendidos pelos inimigos do regime Maduro  Ou será apenas isto?

Esta intromissão indesejável da Rússia, frontalmente contra os interêsses do Brasil,  no cenário sul americano demonstra claramente os perigos que envolve abrir as portas do continente para as disputas dos poderosos, no caso Rússia e Estados Unidos.

Neste caso, Wladimir Putin, mestre exadregista, está dando o troco da participação de Washington, ora em curso, de instalar a OTAN na Georgia. A permanência deste país na condição de "estado tampão" não alinhado é crucial para a segurança da Rússia. Daí o "xeque" (não mate) na Venezuela ser um desdobramento esperado.

Este episódio acentua a necessidade do governo Bolsonaro de cuidadosamente avaliar os riscos envolvidos em alianças, onde as consequências podem causar grave danos à segurança nacional. Necessário separar os nossos interesses vitais daqueles dos Estados Unidos e de seu presidente.

CAMINHONEIRO E SEGURANÇA NACIONAL

Observa-se que os caminhoneiros, privados e empresas, cogitam deflagar nova greve geral. Se tal ocorrer, o dano ao Brasil e o novo governo abrangerá o econômico e, em seguida, o político.

No episódio anterior, o PIB brasileiro sofreu queda expressiva e a incapacidade do governo em, seja evitá-la ou combatê-la, o enfraqueceu a ponto de interromper as reformas  em andamento.

Conforme observado na occorrência anterior esta greve atenta contra a segurança nacional, merecendo tratamento legal compatível com a ameaça.

Cabe, assim, ao presidente Bolsonaro e aos setores de segurança  identificar as medidas preventivas e corretivas caso eclôda a greve. Contrariamente ao anteriormente ocorrido, convêm o urgente posicionamento de forças dissuasórias nos pontos estratégicos da malha rodoviária, intensificando o seu patrulhamento. Especial proteção deverá ser dada aos pontos de escoamento de combustível e outros bens estratégicos.

Quando impositivo, a malha ferroviária deve ser acionada para evitar estrangulamento estratégico, o mesmo se aplicando à malha aéroviaria. Ainda, o acompanhamento dos movimentos grevistas por elementos da inteligência  policial e militar é necessário.

Esperar pelo melhor, preparar-se para o pior.


terça-feira, 26 de março de 2019

Uma nova aliança?



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O Presidente Bolsonaro iniciou notável aproximação com os Estados Unidos quando de sua recém viagem à Washington.

A reunião com Donald Trump revelou a empatia pessoal esperada entre os dois dirigentes; não escondeu, contudo, a abissal diferença de poder político que cada qual comanda. Ostensivamente assessorado por seu Chanceler, Ernesto Araújo e, obliquamente influenciado por seu filho Eduardo, Jair Bolsonaro revelou sua admiração pelo dono da casa e, de imediato, ofereceu-lhe suas cartas, sem que conhecesse as de seu parceiro.

Ofereceu, de pronto, a liberação de visto para o cidadão norte-americano, sem que demandasse, como contrapartida, por exemplo, isenção similar para brasileiros com histórico positivo em suas viagens para o Norte. Pelo contrário, submeteu seus cidadãos em posição de nítida inferioridade.

Já, em resposta ao pedido brasileiro de apoio norte-americano à sua pretensão de juntar-se à OCDE, Jair Bolsonaro acedeu à condição formulada por Trump para que o Brasil abandonasse sua participação na Organização Mundial do Comércio*, responsável pelas vantagens compensatórias em seu comércio internacional por ser, ainda, país emergente.

O histórico desta longa participação oferece alguns episódios emblemáticos onde o Brasil se viu protegido. O primeiro se refere aos benefícios compensatórios outorgados ao Brasil para compensar subsídios irregularmente  oferecidos por Washington ao  algodão norte americano.

Já noutro exemplo, O Brasil teve ganho de causa no uso de patentes farmacêuticas americanas quando de  ocorrência emergencial na saúde pública.

Também, a associação à OMC beneficiou a produção e venda de aviões da Embraer, punindo a concorrente canadense por práticas anticompetitivas.

Em resumo, o abandono do Brasil da Organização Mundial do Comércio contraria seus interesses. Enquanto os benefícios (vide acima) oferecidos pela  participação na  OMC são diretos e atuais. Já a a participação brasileira na OCDE ofereceria benefícios no que tange a credibilidade internacional de seus associados, assim  fortalecendo imagem do país. São, contudo vantagens indiretas que não tem porque substituir as compensações diretas oferecidas à país emergente.

Já, no campo tecnológico, o Brasil outorgou o direito de utilização da Base de Alcântara para o lançamento de foguetes norte americanos. Esta base será guarnecida por segurança daquele país e terá salvaguardas quanto à tecnologia dela resultante. Os termos exatos não são conhecidos. O valor de tal concessão não pode ser minimizado, pois oferece aos Estados Unidos condições operacionais excepcionais, resultando em economia bilionária ao arrendatário da base, quando se leva em conta o valor econômico do ganho de eficiência operacional e dos exclusivos benefícios decorrente, nos campos operacional e tecnológico.

Como contrapartida deveria ser exigida o compartilhamento de know how para o desenvolvimento de foguetes brasileiros para fins pacíficos, tal como o lançamento de satélites. Porém, um exame do histórico neste setor revela os Estados Unidos ativamente impedindo o acesso brasileiro à tal "know how", interferindo, inclusive, junto à fornecedores internacionais de equipamento e tecnologia para este fim.

Apesar de não ter sido formalizada, a Aliança militar proposta por Donald Trump, "elevando" o Brasil à condição de Aliado Especial encerra consequências reais e potenciais que devem ser cuidadosamente analisadas pelo Brasil. Sendo uma aliança, terá ela duas mãos. Dada a enorme disparidade de força nacional e prestígio internacional entre as partes, tal aliança teria, por necessária, a submissão do Brasil à política externa norte-americana, incluindo a tomada vigorosa de partido nos contenciosos internacionais. Estes  envolveriam tanto China quanto Russia, ambos parceiros comerciais e financeiro no âmbito dos BRICS. Não seria demais lembrar que sem o comércio e os investimentos provenientes da China, a estabilidade econômica do país brasileiro seria seriamente afetada.

Outro ponto que recomenda atenção será a posição anti-multilateralismo do governo Trump, condição essencial para a evolução política e brasileira no planeta, cuja proteção mais reside no respeito à  Lei Internacional do que na relevância de suas forças armadas. O recente reconhecimento pelo presidente americano das Colinas do Golan como parte integrante do território israelense, apesar da unânime oposição (sim,incluindo Washington) do Conselho de Segurança da ONU é mais um exemplo do seu descaso quanto ao consenso dos organismos internacionais.

Parece ser o momento de reflexão e avaliação. Sob Bolsonaro, a política externa mostra-se seduzida, tal qual os índios no encontro com Cabral, pelas vantagens brilhantes e imediatas. Por elas corre-se o risco de vender-se o futuro da Nação..



*World Trade Organization

domingo, 17 de março de 2019

Redesenhando o Mundo?



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Será difícil encontrar na história moderna um momento que rivalize com a confusão e indefinição que ora afeta os países líderes do planeta.

Na Europa encontramos a outrora magestatica Inglaterra(1) em busca de uma identidade perdida. Após sua vitória de Pirro contra o Nazismo, onde a vitória das armas custou-lhe todo um império, e constatando a inviabilidade de, solitária, manter-se em pé restrita à pequena ilha, buscou  redenção   ao juntar-se à  Comunidade Européia. Porém, o preço da solução trazida pela solidariedade econômica com a Europa continental  tornou-se, pela diluição de sua soberania,  preço político insustentável.

Hoje, dividida e perplexa, busca no retorno ao passado, ou seja, num post-nacionalismo, sua redenção na modesta grandeza que lhe trará o Brexit.

Já, na Alemanha parece esgotar-se a formula, até então vitoriosa,  na aliança dos partidos Democratas Cristão e Social, face ao ressurgimento da extrema direita e do ethos teutônico de anterior grandeza. Parece movimento pela  reconquista de seu auto-respeito, sufocado pelo tanto assumido quanto imposto complexo de culpa. A emergência da extrema direita  parece buscar o término de décadas de expiação.

Almeja, talvez, a reinserção da frase "Deutschland Uber Alles" em seu hino, prometendo uma herança dominadora às forças da Direita, e seu retorno ao protagonismo, não apenas econômico, mas, também, politico.

Na França, Macron parece ter perdido o magnífico dom que lhe concedeu uma vitória eleitoral apartidária, por ter prometido demais aos dois extremos do espectro político. Hoje parece enredar-se nas amargas vinhas da discórdia, por ter concedido menos do que esperado e exigido mais do que prometido. Seguindo a vocação francesa pelas barricadas, a violência empolga a insatisfação política, e ameaça a sobrevivência eficaz do governo. Cria-se um vácuo a ser preenchido por aventureirismo.

Em mimetismo inevitável, a Europa menor  reflete, ela também, os des-acertos e hesitações, contaminada pela diluição das lideranças tradicionais. Espanha, em suas dores de integridade territorial, Itália ferida pela aliança da esquerda irresponsável e a direita extremada. Já, a Europa oriental, sucumbindo ao canto da sereia da extrema direita, nelas incluidas a Hungria, a Polonia, a Austria, vê-se levada pelo caudal da discórdia que inunda uma União que ameaça  dissolver-se.

Será que a força centrífuga que ora parece afetar as nações do Velho Continente decorre da constatação que a união política e econômica imposta tem por efeito a mediocrização?  Quão possível será atingir-se um almejado "ponto fora da curva" em universo onde os componentes são contidos pelas mesmas regras?  E talvez mais grave, até que ponto a "grandeza nacional" é possível em quadro de solidariedade impositiva? Até onde as amarras da União Europeia, onde as fronteiras se diluem e as finanças se confundem,  tornam impossível  o caminho  nacional e excepcional?

Será que hoje, afastados pelo tempo da tragédia da guerra, esquecidos que estão de seus horrores, o europeu gaté  busca o frisson do diferente?

O mal estar das populações europeias, tanto no político quanto no econômico, parece claro. Os efeitos psicológicos sobre os povos que a compõem, causados , em parte, pela gradual perda de identidade nacional talvez não devam ser descartados como irrelevantes. A reação se faz mais evidente nos  países menos sofisticados que compõem a Europa oriental, sujeitos a reações mais primárias e grupais, donde o  nacionalismo acentuado.

E pairando sobre todos, eis a Águia norte americana pilotada por Donald Trump. Vitorioso graças ao apoio de "blue collars" e dos campos do Middle West, pela regra perversa do Colégio Eleitoral americano, e, apesar de rejeitado pela maioria  do eleitorado, o "business man" tornou-se presidente da maior potência planetária.

Egresso do feroz micro-cosmo dos negócios imobiliários de Nova York e jejuno nas disciplinas necessárias ao estadista, o novo presidente vem desequilibrando a cuidadosa estrutura que rege as  relações internacionais, e, por consequência, fragilizando as relações comerciais e políticas construídas desde a a vitória sobre o Eixo. Assim, altera-se, gradualmente, o equilíbrio econômico que deram substância às atuais, e talvez caducas, alianças políticas.

A crescente alteração das "regras do jogo" favorece um remanejamento das vantagens comparativas dentre as nações "aliadas", causando tensões e reposicionamentos até então administráveis. Altera-se, assim, o quadro politico, aumentando a geração do contencioso.

Onde o perigo torna-se mais agudo será na mudança abrupta nas relações dos Estados Unidos com a China, podendo causar efeitos negativos no Ocidente. Aflito pela meteórica evolução da potência econômica Oriental, e, pari passu, com a sua expansão e modernização militar, Washington exerce seu poder para conter esta tendência, usando para tal instrumentos políticos e econômicos tradicionais e, até mesmo, impedimentos leoninos.

As severas sanções econômicas, por diversas vezes aplicadas,  além de inviabilizar, em certas circunstâncias, o uso da moeda reserva internacional, o dólar, causam, também,  efeitos devastadores nas economias do eventual adversário. Ainda, a proibição de acesso ao mercado norte americano, como ocorre no "caso Huawey", compõe um novo cenário de desestabilização nas finanças e comércio  internacionais.

Já se observa que o surgimento de um protagonista internacional da dimensão chinesa, que torna-se a segunda economia mundial, cria crescente tensão face ao reordenamento da  ordem política mundial.

Nestas circunstâncias, a confrontação das duas grandes potências, aumenta a insegurança que à todas nações afeta. Neste novo quadro as alianças se fortalecem ou se diluem, face à cada vez mais presente opção militar.

A crescente intensidade de tais procedimentos, que ora se observa,  lembram o infausto precedente onde  o embargo de petróleo ordenado pelo governo americano em 1940, levou o Japão à guerra face à sua iminente paralisação econômica.



(1) Sem incluir Escócia e Galles
































domingo, 3 de março de 2019

Redes sociais e sombras


Artificial Intelligence, Brain, Think


A revolução digital já se instalou no planeta.Trouxe consigo maravilhas antes inexistentes. A possibilidade da comunicação instantânea e livre. O acesso à informação quase ilimitada através dos sites de busca. A organização de dados e a consequente eficiência, e inúmeros outros benefícios.

Mas dentre às dádivas insinuam-se as  distorções e imposições que passam a dominar os internautas. As redes sociais surgiram e expandiram qual virus incontrolável, arrastando idéias e opiniões em enxurrada incontida, expressas numa sub realidade digital onde a responsabilidade pelo dito se dilui pela imensidão da interlocução.

Apesar do autor exposto,  a tela torna a palavra autônoma em impessoal instrumento, desligando-se de sua origem, como se ajustada ao nível imposto pelo cadente denominador comum, pelo gradual abandono da qualidade pelo magnetismo da quantidade.

Pessoas que em condições normais de diálogo mantêm a racionalidade educada transformam-se, diante da tela acesa,  em radicais impacientes e, não raro, profanos. O radicalismo se exacerba, vítima da penúria léxica e de ambiente que favoreça a argumentação lógica.

Se, outrora, a carta escrita submetia o autor à perenidade do pensamento exposto, já o texto submerso nas redes sociais sugere instantânea degradação  por ser ele levado na torrente de milhares  d'outras expressões  e opiniões.

Noutra dimensão, as redes estimulam, exponencialmente, a vaidade, a qual, de mero defeito de personalidade, torna-se ímpeto comportamental, envolvido numa incontida competição com próximos e distantes, conhecidos e desconhecidos em busca de uma supremacia que diminui, de uma auto-estima que se avilta pela inconsequência do prêmio que deseja.

A rede social torna-se irmã bastarda do consumismo, subordinada à Inteligência Artificial que tem por missão a extensa colheita dos mais recônditos estímulos, assim  obtendo o domínio, não da vontade, mas dos impulsos que dominam seus seguidores.

Trata-se da degradação do livre arbítrio consciente, substituído pelo desejo inconsciente, manipulado pelos algoritmos do milagre digital.