sábado, 6 de abril de 2019

Aviões e ilusões


Ray Dalio, the billionaire founder of the world’s biggest hedge fund, said he believes flaws in American capitalism have created destructive and self-reinforcing gaps in education, social mobility, assets and income -- and the result could be another revolution.

O comentárista acima é um empedernido capitalista que vê na atuação de empresas, de seus executivos e de políticos associados uma tendencia na direção da abolição de limites. Dentre estes limites existem os do bom senso e na regulamentação de práticas e valores que devem fazer convergir tanto a procura do Lucro quanto o interêsse geral da Sociedade.

                                         
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A estória que se segue é de empreendorismo, de competitividade, de inovação e...

O telefone tocou. Ainda era cêdo, o café nem pronto estava. John, com uma ponta de irritação, atendeu com um ríspido

    _ OK, que V precisa nesta hora, Ted?
    _ John, desculpa, sei que é cedo, mas liga no canal 7. A Airbus acaba de anunciar o primeiro voo do seu modelo 321neo
    _ Mas como assim, ainda faltam uns meses?
    _ Pois é, pelo visto aceleraram o programa. Temos um grande problema pela frente.
    _ Estou indo para o escritório agora. Chama o pessoal. Temos que resolver este problema já.

Engolindo seu café e desprezando seu pancake John veste seu paletó e se apressa para o elevador.

25 minutos depois entra na garagem da Bongbong, bate a porta de seu Tesla e, impaciente, já no elevador, aperta o botão 63, seu escritório. Passa apressado por sua secretária que lhe avisa “Estão todos na sala de conferência, Mr. Williams”

    _ OK, pessoal, estamos em maus lençóis. Estes malditos europeus nos passaram a perna. Com seu novo avião nos colocam em posiçao insustentável. Não temos equipamento que concorra com ele. Nosso 700 é lento, consome muito mais combustível, carrega menos passageiros, e tem menor raio de açao. Em suma, fomos pegos de calças curtas.
    _ V. tem razão John, mas não foi por falta de aviso. O “board” ficou atrazando os recursos necessários para o novo projeto, o qual nos daria uma aeronave muito mais moderna e eficiente do que este brinquedinho da Airbus.
    _ Tudo bem, Bill, mas não nos deram os recursos. Agora temos que improvisar. E rápido. A cada mês que passa perderemos mais e mais compradores. Essas aéreas não tem lealdade. Vamos perder muito mercado, as ações vão mergulhar. A solução tem que ser rápida, não há tempo a perder.

Durante uma semana as mais díspares sugestões são oferecidas e rejeitadas. Ora é o custo, ora o tempo excessivo. Mas, enfim, uma idéa parece ganhar corpo e aceitação. John sabe que não só ele que está exhausto, todos ali presentes deram tudo de si.
    _ OK, pessoal. Vamos nos concentrar nesta solução. È brilhante. Parabéns, pessoal. Vamos recapitular os seus pontos principais:

    Um novo projeto levaria 10 anos. Neste tempo nossas perdas seriam enormes. Está alternativa, portanto, está fora de questão.

    Usamos, então, o avião que já temos, o 700, e o adaptamos às novas necessidades.

    Encomendamos novos motores, mais potentes e economicos, aumentamos a envergadura para dar mais sustentação e o cumprimento da fuselagem para receber mais passageiros. Certo?
    John observou um braço levantado insistentemente, Lá vem este chato de novo, pensou.
    _ Muito bem Ambrose, diga
    _ Desculpe John, mas acho que essas modificações vão exigir uma revisão geral do novo projeto, uma vez que a distribuição de peso e as alterações aérodinâmicas diferem muito do projeto do 700 original.
    _ Não é nada disso, Ambrose. Nossa área de sistemas pode neutralizar os eventuais desequilibrios na operacionalidade do avião. Estou certo, Wladislav?

O diretor responsável pela área de Sistemas acena sua concordância.

    _ Desculpe insistir, diz Ambrose, existe, também, a necessidade e o tempo para treinar os pilotos na nova configuração. Só isso pode demandar mais um ano para viabilizar o projeto para a vida real.

     _ Acho que V. está enganado Ambrose. O responsável pela área de sistemas tem certeza que a adaptação se fará em muito pouco tempo, certo Wladislav? Então é isso, pessoal. Vamos arregaçar as mangas. Vamos entregar este novo avião, o 700 Plus, daqui a dois anos, e não em dez. E as ações vão às alturas!

                                 OOOOO

O final desta história é conhecida por todos, mas não pelas quase trezentas e quarenta vítimas da improvização e dos atalhos, estes impelidos pela prioridade do lucro, renegando custos que talvez houvessem salvo suas vidas. Morreram antes de saber porque.

Por vezes, as mentes mais simples confundem o ocorrido com capitalismo. Não mais deveriam no Século XXI.


O texto acima é fruto da imaginação do autor. Os eventos e nomes são fictícios. Também os aviões.




2 comentários:

Unknown disse...

Excelente!

leo disse...

Muito interessante a (não) ficção. Precisamos mais de Ambroses