domingo, 17 de março de 2019

Redesenhando o Mundo?



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Será difícil encontrar na história moderna um momento que rivalize com a confusão e indefinição que ora afeta os países líderes do planeta.

Na Europa encontramos a outrora magestatica Inglaterra(1) em busca de uma identidade perdida. Após sua vitória de Pirro contra o Nazismo, onde a vitória das armas custou-lhe todo um império, e constatando a inviabilidade de, solitária, manter-se em pé restrita à pequena ilha, buscou  redenção   ao juntar-se à  Comunidade Européia. Porém, o preço da solução trazida pela solidariedade econômica com a Europa continental  tornou-se, pela diluição de sua soberania,  preço político insustentável.

Hoje, dividida e perplexa, busca no retorno ao passado, ou seja, num post-nacionalismo, sua redenção na modesta grandeza que lhe trará o Brexit.

Já, na Alemanha parece esgotar-se a formula, até então vitoriosa,  na aliança dos partidos Democratas Cristão e Social, face ao ressurgimento da extrema direita e do ethos teutônico de anterior grandeza. Parece movimento pela  reconquista de seu auto-respeito, sufocado pelo tanto assumido quanto imposto complexo de culpa. A emergência da extrema direita  parece buscar o término de décadas de expiação.

Almeja, talvez, a reinserção da frase "Deutschland Uber Alles" em seu hino, prometendo uma herança dominadora às forças da Direita, e seu retorno ao protagonismo, não apenas econômico, mas, também, politico.

Na França, Macron parece ter perdido o magnífico dom que lhe concedeu uma vitória eleitoral apartidária, por ter prometido demais aos dois extremos do espectro político. Hoje parece enredar-se nas amargas vinhas da discórdia, por ter concedido menos do que esperado e exigido mais do que prometido. Seguindo a vocação francesa pelas barricadas, a violência empolga a insatisfação política, e ameaça a sobrevivência eficaz do governo. Cria-se um vácuo a ser preenchido por aventureirismo.

Em mimetismo inevitável, a Europa menor  reflete, ela também, os des-acertos e hesitações, contaminada pela diluição das lideranças tradicionais. Espanha, em suas dores de integridade territorial, Itália ferida pela aliança da esquerda irresponsável e a direita extremada. Já, a Europa oriental, sucumbindo ao canto da sereia da extrema direita, nelas incluidas a Hungria, a Polonia, a Austria, vê-se levada pelo caudal da discórdia que inunda uma União que ameaça  dissolver-se.

Será que a força centrífuga que ora parece afetar as nações do Velho Continente decorre da constatação que a união política e econômica imposta tem por efeito a mediocrização?  Quão possível será atingir-se um almejado "ponto fora da curva" em universo onde os componentes são contidos pelas mesmas regras?  E talvez mais grave, até que ponto a "grandeza nacional" é possível em quadro de solidariedade impositiva? Até onde as amarras da União Europeia, onde as fronteiras se diluem e as finanças se confundem,  tornam impossível  o caminho  nacional e excepcional?

Será que hoje, afastados pelo tempo da tragédia da guerra, esquecidos que estão de seus horrores, o europeu gaté  busca o frisson do diferente?

O mal estar das populações europeias, tanto no político quanto no econômico, parece claro. Os efeitos psicológicos sobre os povos que a compõem, causados , em parte, pela gradual perda de identidade nacional talvez não devam ser descartados como irrelevantes. A reação se faz mais evidente nos  países menos sofisticados que compõem a Europa oriental, sujeitos a reações mais primárias e grupais, donde o  nacionalismo acentuado.

E pairando sobre todos, eis a Águia norte americana pilotada por Donald Trump. Vitorioso graças ao apoio de "blue collars" e dos campos do Middle West, pela regra perversa do Colégio Eleitoral americano, e, apesar de rejeitado pela maioria  do eleitorado, o "business man" tornou-se presidente da maior potência planetária.

Egresso do feroz micro-cosmo dos negócios imobiliários de Nova York e jejuno nas disciplinas necessárias ao estadista, o novo presidente vem desequilibrando a cuidadosa estrutura que rege as  relações internacionais, e, por consequência, fragilizando as relações comerciais e políticas construídas desde a a vitória sobre o Eixo. Assim, altera-se, gradualmente, o equilíbrio econômico que deram substância às atuais, e talvez caducas, alianças políticas.

A crescente alteração das "regras do jogo" favorece um remanejamento das vantagens comparativas dentre as nações "aliadas", causando tensões e reposicionamentos até então administráveis. Altera-se, assim, o quadro politico, aumentando a geração do contencioso.

Onde o perigo torna-se mais agudo será na mudança abrupta nas relações dos Estados Unidos com a China, podendo causar efeitos negativos no Ocidente. Aflito pela meteórica evolução da potência econômica Oriental, e, pari passu, com a sua expansão e modernização militar, Washington exerce seu poder para conter esta tendência, usando para tal instrumentos políticos e econômicos tradicionais e, até mesmo, impedimentos leoninos.

As severas sanções econômicas, por diversas vezes aplicadas,  além de inviabilizar, em certas circunstâncias, o uso da moeda reserva internacional, o dólar, causam, também,  efeitos devastadores nas economias do eventual adversário. Ainda, a proibição de acesso ao mercado norte americano, como ocorre no "caso Huawey", compõe um novo cenário de desestabilização nas finanças e comércio  internacionais.

Já se observa que o surgimento de um protagonista internacional da dimensão chinesa, que torna-se a segunda economia mundial, cria crescente tensão face ao reordenamento da  ordem política mundial.

Nestas circunstâncias, a confrontação das duas grandes potências, aumenta a insegurança que à todas nações afeta. Neste novo quadro as alianças se fortalecem ou se diluem, face à cada vez mais presente opção militar.

A crescente intensidade de tais procedimentos, que ora se observa,  lembram o infausto precedente onde  o embargo de petróleo ordenado pelo governo americano em 1940, levou o Japão à guerra face à sua iminente paralisação econômica.



(1) Sem incluir Escócia e Galles
































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