Nota do Editor - O texto a seguir chegou à esta coluna por carta anônima que, ao nosso ver, merece publicação apesar da controvérsia que poderá causar.
Vou ser sincero. Há
tempos estou preocupado. A avalanche de denuncias de
mulheres contra homens me leva a supor que o meu gênero
sofre desvios que mereceria ser excluído da sociedade, quem sabe, do
planeta. As denuncias são tantas que deixam de ser somente
personalizadas; são acusações que coloca no banco dos réus o
próprio gênero masculino. Simetricamente, constata-se que o gênero
feminino vem sendo abusado há séculos e que a hora da prestação
de contas chegou.
Confesso, tenho medo.
Embora nunca tenha abusado de mulher, sinto-me qual suspeito quando de mulher recebo
olhar inquisidor. Mais, vejo o futuro e observo crescente hostilidade
entre os sexos e me pergunto qual o caminho que filhos e netos hão
de trilhar? Sem roçar, sem alisar, sem provocar, sem acariciar, sem
sussurrar um convite, sem oferecer o coração usando toda a
simbologia que acompanha os primeiros passos do amor? E a incerteza
sublime da conquista ainda incerta? E a dança onde os corpos se
estreitam, com o risco de obvia excitação do parceiro? Que
impiedosa penalidade trará? Como será o reinício do mundo, que se
repete incessantemente quando homem conquista ou é conquistado pela
mulher?
Como será o futuro
eugenizado e hiper-puritano, obedientemente importado do “States”? Declaração de intenções libidinosas à não menos do
que dois metros de distância? Quem falará primeiro? Se for o homem,
arrisca desencadear um processo por assédio. Melhor será esperar a
iniciativa da mulher. E assim, viverão felizes para sempre, desde
que o marido ou namorado não esqueça de formalizar a anuência da
parceira a cada~nova posição tomada ao leito, devidamente gavada
no iPhone XXXIIV. Melhor não haver conversas intimas, pois a
pronuncia descuidada de um “não” poderá formalizar nada menos
do que um estupro.
Mas voltemos ao presente.
Não importa quando o denunciado assédio tenha ocorrido, se ontem ou
há vinte três anos; a punição será imediata. Opróbrio público,
perda de emprego, carreiras destroçadas, humilhação pela imprensa.
Acusação seguida de condenação. Sem direito a defesa (toma tempo
desnecessário), sem julgamento.
À este movimento
feminista alia-se a imprensa, ávida pelo escândalo. Reproduz os
relatos que surgem de todas as partes. Os acusados, intimidados pela
fúria potencializada pela mídia, escondem-se sem acesso à tribuna
que lhe permita contestação. Afinal que poderiam eles dizer? Foi há
muito tempo, ou foi ontem? Mas porque a moça estava em meu quarto às
duas da madrugada? Porque me procurava com os olhos e furtivos
sorrisos? Porque veio para a entrevista com os seios à mostra?
Porque esbarrava em mim quando havia tanto espaço? E, porque,
perguntaria o acusado, esperou 10 anos para fazer sua denuncia?
Mas, eis que surge novo
fato, nova percepção, nova compreensão de tão complexo mistério
que envolve o homem e a mulher. E de onde viria este alerta humanista
senão da eterna França? Pensamento realista, revelando a
experiência de notáveis mulheres despidas do ímpeto puritano, quase inquisitório, que nos vem da América. Ainda, no front interno, Danusa Leão bem comenta os exageros que , por vezes, envolve o tema. Destas manifestações nos chega a constatação que o homem
nada é, nem a mulher, sem profundo e reciproco compartilhamento e
que as ondas e tempestades que surpreendem nossas vidas raramente são planejadas
nem seguem o roteiro dos ingênuos.
Cuidado! Terreno
pantanoso. Não há fúria igual a da mulher! Fica
portanto minha declaração inequívoca. Sou contra o uso do poder,
da posição de comando que o homem, ou mulher, possam ter para,
covardemente, dobrar uma mulher, ou um homem, aos seus desejos. Ou,
ainda, vender sua influência em troca de favores sexuais. O amor
adulto só tem valor quando é, não apenas consentido, mas desejado.
Mas em todas as equações sentimentais, homem e mulher têm igual
participação e responsabilidade, ainda que cada qual use as armas
que lhes são próprias. Porém, o amor não pode ser contido dentro de um arcabouço de regras. Ele tem que ser livre e surpreendente.
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