quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Amor responsável


Nota do Editor - O texto a seguir chegou à esta coluna por carta anônima que, ao nosso ver, merece publicação apesar da controvérsia que poderá causar.



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Vou ser sincero. Há tempos estou preocupado. A avalanche de denuncias de mulheres contra homens me leva a supor que o meu gênero sofre desvios que mereceria ser excluído da sociedade, quem sabe, do planeta. As denuncias são tantas que deixam de ser somente personalizadas; são acusações que coloca no banco dos réus o próprio gênero masculino. Simetricamente, constata-se que o gênero feminino vem sendo abusado há séculos e que a hora da prestação de contas chegou.

Confesso, tenho medo. Embora nunca tenha abusado de mulher, sinto-me qual suspeito quando de mulher recebo olhar inquisidor. Mais, vejo o futuro e observo crescente hostilidade entre os sexos e me pergunto qual o caminho que filhos e netos hão de trilhar? Sem roçar, sem alisar, sem provocar, sem acariciar, sem sussurrar um convite, sem oferecer o coração usando toda a simbologia que acompanha os primeiros passos do amor? E a incerteza sublime da conquista ainda incerta? E a dança onde os corpos se estreitam, com o risco de obvia excitação do parceiro? Que impiedosa penalidade trará? Como será o reinício do mundo, que se repete incessantemente quando homem conquista ou é conquistado pela mulher?

Como será o futuro eugenizado e hiper-puritano, obedientemente importado do “States”? Declaração de intenções libidinosas à não menos do que dois metros de distância? Quem falará primeiro? Se for o homem, arrisca desencadear um processo por assédio. Melhor será esperar a iniciativa da mulher. E assim, viverão felizes para sempre, desde que o marido ou namorado não esqueça de formalizar a anuência da parceira a cada~nova posição tomada ao leito, devidamente gavada no iPhone XXXIIV. Melhor não haver conversas intimas, pois a pronuncia descuidada de um “não” poderá formalizar nada menos do que um estupro.

Mas voltemos ao presente. Não importa quando o denunciado assédio tenha ocorrido, se ontem ou há vinte três anos; a punição será imediata. Opróbrio público, perda de emprego, carreiras destroçadas, humilhação pela imprensa. Acusação seguida de condenação. Sem direito a defesa (toma tempo desnecessário), sem julgamento.

À este movimento feminista alia-se a imprensa, ávida pelo escândalo. Reproduz os relatos que surgem de todas as partes. Os acusados, intimidados pela fúria potencializada pela mídia, escondem-se sem acesso à tribuna que lhe permita contestação. Afinal que poderiam eles dizer? Foi há muito tempo, ou foi ontem? Mas porque a moça estava em meu quarto às duas da madrugada? Porque me procurava com os olhos e furtivos sorrisos? Porque veio para a entrevista com os seios à mostra? Porque esbarrava em mim quando havia tanto espaço? E, porque, perguntaria o acusado, esperou 10 anos para fazer sua denuncia?

Mas, eis que surge novo fato, nova percepção, nova compreensão de tão complexo mistério que envolve o homem e a mulher. E de onde viria este alerta humanista senão da eterna França? Pensamento realista, revelando a experiência de notáveis mulheres despidas do ímpeto puritano, quase inquisitório,  que nos vem da América. Ainda, no front interno, Danusa Leão bem comenta os exageros que , por vezes, envolve o tema. Destas manifestações nos chega a constatação que o homem nada é, nem a mulher, sem profundo e reciproco compartilhamento e que as ondas e tempestades que surpreendem nossas vidas raramente são planejadas nem seguem o roteiro dos ingênuos.


Cuidado! Terreno pantanoso. Não há fúria igual a da mulher! Fica portanto minha declaração inequívoca. Sou contra o uso do poder, da posição de comando que o homem, ou mulher, possam ter para, covardemente, dobrar uma mulher, ou um homem, aos seus desejos. Ou, ainda, vender sua influência em troca de favores sexuais. O amor adulto só tem valor quando é, não apenas consentido, mas desejado. Mas em todas as equações sentimentais, homem e mulher têm igual participação e responsabilidade, ainda que cada qual use as armas que lhes são próprias. Porém, o amor não pode ser contido dentro de um arcabouço de regras. Ele tem que ser livre e surpreendente.

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