sábado, 13 de janeiro de 2018

Aliança revista

Cada vez fica mais claro que os Estados Unidos, por diversas razões, tem sua preponderância planetária diminuída. Alguns poderão dizer que a curva descendente começou quando de sua derrota na guerra do Vietnam, cujo resultado desastroso revelou a incapacidade de Washington de amalgamar sua potencialidade militar ao apoio da opinião pública. Este descompasso pode ser entendido como o inicio do divórcio entre o animus imperial e o sustento da cidadania.


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É verdade que a demise da União Soviética, a partir de 1990 deu à América do Norte novo folego. Tornou-se a única e incontestável potência mundial. Por outro lado, tal evento teve por efeito a liberação das forças vitais em diversas regiões do globo; formou-se em 1993 a União Europeia, liberta do constrangimento soviético. Em curto espaço de tempo concentraram-se os mais diversos países, até bem pouco inimigos. A sinergia resultante, tanto no âmbito econômico quanto político deu luz à um poderoso bloco politico-econômico.

Do outro lado do hemisfério a China, também liberta de uma Rússia prepotente e intromissa, passa a concentrar-se em seu desenvolvimento econômico, abandonando os grilhões do comunismo tradicional, substituindo-o por um capital-socialismo ditatorial. O resultado, de conhecimento geral, revela uma acensão meteórica que a coloca como segunda potência econômica no rol das nações.

Enquanto tais mudanças tectônicas ocorriam, os Estados Unidos prosseguia em política autônoma, perseguindo seus objetivos de cunho cada vez mais exclusivos, ainda que contando com a solidariedade de seus aliados, e desprezando a oposição de potenciais adversários.

Assim, não contou com as consequências de sua atuação no caldeirão do Oriente Médio. Sua política pro-petróleo e pró-Israel alimentaria o ódio de grupos relevantes, dentre os quais aquele de Osama Bin Laden. Em 2001 atacariam, covardemente, o coração da America.

A represália ao Afeganistão em 2002 contou com o apoio da Nações Unidas. Já, a subsequente invasão do Iraque, tida por ilegal pelas Nações Unidas, revelou a primeira falha na couraça política da OTAN. Liderados pela França, a maioria dos países europeus recusaram o apelo de Washington. Abstiveram-se.

Hoje, sob a tutela de Donad Trump, perde os Estados Unidos, gradualmente, a solidariedade outrora assegurada. São muitos os eventos:

A retirada do Tratado de Paris, âncora do combate à poluição, e o abandono das negociações visando um tratado de livre comércio afetaram, diretamente a Europa. As manifestações de protesto contra o governo Trump foram unânimes.

Já, contrariando seus parceiros europeus, Washington ameaça retirar-se do tratado anti-nuclear com o Irã. Enfrenta robusta oposição dos demais signatários, a França, a Alemanha, o Reino Unido, a Rússia, e a China.

O recém reconhecimento de Jerusalém como capital indivisível de Israel ofende as chancelarias europeias, desejosas de soluções negociadas, temerosas de nova guerra na região.

Já nas fronteiras russas, a tentativa da diplomacia norte americana de cooptar a Ucrânia, retirando-a do papel de estado tampão, causou conflito indesejado pelos interesses europeus. Até hoje as provisões do tratado de Minsk, assinado pela Rússia, Ucrânia, Alemanha, França que oferece o roteiro de pacificação, não foram cumpridas graças à relutância de Washington em pressionar o governo-cliente de Kiev.

As ameaças militares à Coreia do Norte, relegando a opção diplomática à segundo plano, encontra oposição dos governos da UE, onde uma solução negociada é desejada. As mensagens belicistas de Donald Trump são mal recebidas.

Os diversos contenciosos seguem rumo oposto ao desejado pela UE. Será conveniente repensar-se o grau de convergência político-militar que embasa a criação da OTAN, esta refletindo a preponderância do Pentágono, seu sócio majoritário?

A Europa, ora renovada por eventos relevantes, deveria buscar reajustes em sua política externa?

O Brexit retira a Grã Bretanha da intimidade estratégica da União Europeia bem como a tendência subsidiaria Londres-Washington.

Ainda, a ascensão de Emanuel Macron parece sugerir o advento de um novo “Gaullismo”, onde a independência de ação da France éternelle suplantaria a subserviência Sarkozina.

Até que ponto a fragilizada Angela Merkel, cujo poder parece diluído por sua aliança com os Sociais democratas de Martin Schulz, suscitará ajustes em sua relação com a América de Trump?

Não há dúvida que o “guarda-chuva” norte americano, protetor de última instância do continente europeu, não permitirá a dissolução da centenária aliança. No entanto, pode-se esperar crescente relutância em seguir-lhe os passos. Qual será o novo “normal” entre os dois blocos Atlânticos?




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