Cada vez fica mais
claro que os Estados Unidos, por diversas razões, tem sua
preponderância planetária diminuída. Alguns poderão dizer que a
curva descendente começou quando de sua derrota
na guerra do Vietnam, cujo resultado desastroso revelou a
incapacidade de Washington de amalgamar sua potencialidade militar ao
apoio da opinião pública. Este descompasso pode ser entendido como
o inicio do divórcio entre o animus imperial e o sustento da
cidadania.
É verdade que a demise
da União Soviética, a partir de 1990 deu à América do Norte novo
folego. Tornou-se a única e incontestável potência mundial. Por
outro lado, tal evento teve por efeito a liberação das
forças vitais em diversas regiões do
globo; formou-se em 1993 a União Europeia,
liberta do constrangimento soviético. Em curto
espaço de tempo concentraram-se os mais diversos países, até
bem pouco inimigos. A sinergia resultante, tanto no âmbito econômico
quanto político deu luz à um poderoso bloco
politico-econômico.
Do outro lado do
hemisfério a China, também liberta de uma Rússia prepotente e
intromissa, passa a concentrar-se em seu desenvolvimento econômico,
abandonando os grilhões do comunismo tradicional,
substituindo-o por um capital-socialismo
ditatorial. O resultado, de conhecimento geral, revela uma acensão
meteórica que a coloca como segunda potência econômica no rol das
nações.
Enquanto tais mudanças
tectônicas ocorriam, os Estados Unidos prosseguia em política
autônoma, perseguindo seus objetivos de cunho cada
vez mais exclusivos, ainda que contando com a solidariedade de
seus aliados, e desprezando a oposição de potenciais adversários.
Assim,
não contou com as consequências de sua atuação no caldeirão do
Oriente Médio. Sua política pro-petróleo
e pró-Israel alimentaria o ódio de grupos relevantes, dentre os
quais aquele de Osama Bin Laden. Em 2001
atacariam, covardemente, o coração da America.
A represália ao
Afeganistão em 2002 contou com o apoio da Nações Unidas. Já, a
subsequente invasão do Iraque, tida por ilegal pelas
Nações Unidas, revelou a primeira falha na couraça política
da OTAN. Liderados pela França, a maioria dos países europeus
recusaram o apelo de Washington. Abstiveram-se.
Hoje, sob a tutela de
Donad Trump, perde os Estados Unidos, gradualmente, a solidariedade
outrora assegurada. São muitos os eventos:
A retirada do Tratado
de Paris, âncora do combate à poluição, e o
abandono das negociações visando um tratado
de livre comércio afetaram, diretamente a
Europa. As manifestações de protesto contra o governo Trump foram
unânimes.
Já, contrariando
seus parceiros europeus, Washington ameaça retirar-se do
tratado anti-nuclear com o Irã. Enfrenta robusta
oposição dos demais signatários, a França, a
Alemanha, o Reino Unido, a
Rússia, e a China.
O recém
reconhecimento de Jerusalém como capital indivisível de
Israel ofende as chancelarias europeias, desejosas de soluções
negociadas, temerosas de nova guerra na região.
Já nas fronteiras
russas, a tentativa da diplomacia norte americana de cooptar a
Ucrânia, retirando-a do papel de estado tampão, causou conflito
indesejado pelos interesses europeus. Até hoje as provisões do
tratado de Minsk, assinado pela Rússia, Ucrânia, Alemanha, França
que oferece o roteiro de pacificação, não foram cumpridas graças
à relutância de Washington em pressionar o governo-cliente de
Kiev.
As ameaças militares
à Coreia do Norte, relegando a opção diplomática à segundo plano, encontra
oposição dos governos da UE, onde uma
solução negociada é desejada. As mensagens belicistas de Donald
Trump são mal recebidas.
Os diversos
contenciosos seguem rumo oposto ao desejado
pela UE. Será conveniente repensar-se o grau de
convergência político-militar que embasa a
criação da OTAN, esta refletindo a
preponderância do Pentágono, seu
sócio majoritário?
A
Europa, ora renovada por eventos
relevantes, deveria buscar reajustes em sua
política externa?
O Brexit retira a Grã
Bretanha da intimidade estratégica da União Europeia bem como a
tendência subsidiaria Londres-Washington.
Ainda, a ascensão de
Emanuel Macron parece sugerir o advento de um novo “Gaullismo”,
onde a independência de ação da France éternelle
suplantaria a subserviência Sarkozina.
Até
que ponto a fragilizada Angela Merkel, cujo poder parece
diluído por sua aliança com os Sociais democratas de Martin Schulz,
suscitará ajustes em sua relação com a América
de Trump?
Não
há dúvida que o “guarda-chuva” norte americano, protetor
de última instância do continente europeu, não permitirá a
dissolução da centenária aliança. No
entanto, pode-se esperar crescente relutância em seguir-lhe
os passos. Qual será o novo “normal”
entre os dois blocos Atlânticos?
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