sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Um novo mundo


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O Século XXI promete uma profunda mudança no quadro da geopolítica, onde protagonistas desaparecem ou cedem espaço a potências recém-chegadas, redesenhando antigas formações.

Foi gradual dissolução do Império Britânico, onde o Sol jamais se punha, sob cuja bandeira imperava a Pax Britânica em mundo dominado por uma só potência. Sua derrocada iniciou-se em agosto de 1914, ao deflagrar um conflito que iria arruinar a Grã Bretanha e sacrificar no altar de Marte a sua jovem elite, o seu futuro. O desastrado Tratado de Versalhes encerrou o primeiro capítulo deste relato, reiniciado em setembro de 1939 por uma Alemanha ávida de vingança. O término da segunda. Guerra Mundial soa como se réquiem fosse, e o enterro dá-se quando da entrega à Índia das chaves de sua independência. Rui, assim, o mais poderoso império desde os tempos Romanos.

Seguiu-lhe o Império Francês, exaurido, também, pela guerra recém-finda. A derrota no vale vietnamita de Diem Bien Fu prenuncia sua extinção, efetivada quando do abandono da Argélia.

Duas potências, as vencedoras do segundo conflito mundial, preencheram o vácuo deixado por Ingleses e Franceses. Os dois vitoriosos, os Estados Unidos entronizado como líder do Ocidente Cristão-Capitalista e a União Soviética, Ateu-Socialista, herdeira das terras do Leste Europeu e da Ásia, compartilharam o planeta.

O conflito entre os dois polos, que parecia iminente e cujas consequências apontavam para novo morticínio e destruição, foi evitado por um fator tecnológico: a Bomba Nuclear. Somente a perspectiva de Armagedon (1) salvou a humanidade de mais uma catástrofe humanitária. O conceito de MAD (2) reconhecido pelas partes, impos limites ao contencioso. Assim, a Pax Britânica teve por sucessora a Pax Nuclei.

Hoje, neste Século XXI, o mundo exibe nova conformação que se inicia pelo colapso financeiro da União Soviética, assim derrubando o edifício da Internacional Socialista. Tomba, também o equilíbrio bi-polar até então reinante.

Assim, os Estados Unidos da América , no apagar das luzes do Século XX, assume o manto soberano de líder inconteste. Inebriado pelo hubris de sua singularidade, os Estados Unidos se lançam em guerras impopulares junto à seus aliados, onde o enorme custo financeiro e em vidas não atingem seus objetivos de pacificação e submissão. No Oriente Médio e Próximo, prolongam-se por décadas as guerras(3), em combate intermitente e vitória fugidia. Por consequência expande-se e internacionaliza-se o terrorismo confrontando Washington com enigma indecifrável. Â este cenário sombrio junta-se, hoje, a petulância desafiadora da Coreia do Norte, sem que o jejuno Donald Trump pareça capaz de compreender a complexidade de sua situação. Por resultado, dissemina-se uma imagem de incapacidade diplomática e hesitação militar.

Apesar de seu inigualável poder bélico, constata-se uma redução do poder político de Washington no cenário internacional, deixando um vazio a ser preenchido pela consolidação de novos blocos cuja influência nos destinos do planeta se torna evidente.

O bloco formado pelas União Européia, com seus 400 milhões de habitantes, um PIB próximo à 16 trilhões de dólares e uma extensão de 4 milhões de km2 apresenta uma massa político-econômica de inconteste relevância internacional. Tanto Angela Merkel quanto Emmanuel Macron já manifestaram suas preocupações quanto a atrelamento da Europa face à crescente insegurança gerada pela indecisa e variável política externa norte-americana. Defendem, com propriedade, acentuar o rumo independente, inclusive no que toca a futura estruturação militar do continente.

A ascensão da China, tanto econômica quanto política e militar, se embasa em população que excede 1,3 bilhões de habitantes, um PIB acima de 6 trilhões de dólares e um território de 9,5 milhões de km2. Suas forças armadas e capacidade termonuclear inspiram o respeito suficiente para não curvar-se perante pressões externas, assim preservando sua capacidade de iniciativa internacional. Sua influência econômica na região é crescente, mediante instrumentos financeiros e comerciais tais como a China-Asean, expandindo, ainda, sua presença militar na região às expensas do status norte-americano. Ainda, projetos ambiciosos tal qual a nova Rota da Seda em direção à Europa demonstra a audácia e a técnica na conquista de novos mercados, tornando mútuos os interesses criados.

Já a Rússia se apresenta como um quarto bloco. Herdeira empobrecida do venerável Império Russo, depois Soviético, e apesar de seu modesto PIB abaixo de 2 trilhões de dólares, e uma pequena população de 145 milhões, o país é o mais extenso do planeta com seus 17 milhões de km2, possui moderno arsenal nuclear e convencional que a torna relevante nas questões internacionais. Sua recente absorção da Crimeia como contraponto à expansão da OTAN e sua eficaz intervenção na Síria em favor do governo Bashar Assad, revela excepcional habilidade de planejamento e execução político-militar. Nesta área, observa-se sua aproximação com a Turquia, apesar de ser ela membro da OTAN porém descontente com o apoio norte-americano aos separatistas Curdos. Ainda, a aproximação de Moscou a Teerã reforça o eixo Xiita que inclui o Iraque e a Síria, em oposição aos interesses dos Estados Unidos, próximos aos governos Sunitas da região, estes sob o comando da Arábia Saudita.

Essa nova conformação internacional exigirá crescente habilidade e cautela dos Blocos no trato dos interesses conflitantes e disseminados mundo afora. A busca por mercados preferenciais e influências militares será intensa, o que poderá beneficiar países como o Brasil, já que tal pluralidade lhe oferece o benefício da concorrência por vantagens, sejam políticas, sejam comerciais.

Contudo, no que tange a segurança nacional, a proximidade cultural e geográfica e militar deverá garantir uma relação estável Brasília-Washington, porém permitindo ao Itamaraty um campo de negociações mais amplo e vantajoso.

(1) A batalha final entre Deus e os pecadores
(2) Mutual assured destruction ou Destruição mútua assegurada
(3) Cumpre 15 anos a guerra no Afeganistão



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