quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Novo país, novo conflito



Resultado de imagem para fotos curdosNo ocaso do Estado Islâmico estruturado, cercado de todos os lados por contingentes turcos, sírios, iraquianos, com o apoio aéreo de americanos e russos, resta aos seguidores de Al Baghdadi dispersarem-se mundo afora, de preferência na Europa, para levar o terrorismo avante. Contudo, seria injusto ignorar a contribuição dos Peshmergas, braço armado do movimento Curdo, na derrota que se aproxima, de tão cruel inimigo da civilização.

Porém, de forma para muitos surpreendente, o que será o término de uma guerra poderá ser o início de outra. Exaltados pela vitória, sob o comando de Mazoud Barzani, buscam os Curdos iraquianos, em plebiscito, o primeira etapa para sua independência. Mas, na realidade, os primeiros passos que ora desaguam neste novo cenário, foram dados quando da invasão do Iraque por George W. Bush. Na luta pela derrubada de Saddam Hussein os Estados Unidos identificaram nos Curdos e nos Xiitas, ambos vítimas do ditador deposto, seus naturais aliados.

No passar do tempo, desencantado com o governo Xiita de Bagdá, obediente “ma non tropo”, também sensível à indesejada influência Iraniana, Washington preferiu buscar outras peças para seu xadrez. Ao longo da campanha iraquiana, tanto os interesses táticos de Washington envolvendo forças Curdas do seu lado da trincheira, quanto seus objetivos estratégicos e econômicos convergiam com a autonomia política do Curdistão. Assim, armou-se o exército curdo, os Peshmerga e, simultaneamente, ainda que violando as leis do país, companhias americanas com o beneplácito do Pentágono iniciaram sua exploração de petróleo (ainda o petróleo) em região tecnicamente sob a soberania Iraquiana. Desta forma foi criado o ambiente econômico-militar favorável à iniciativa separatista através do plebiscito recém realizado. Este acaba de receber 92% de aprovação.

Resultado de imagem para fotos curdosEm pronta resposta, o governo em Bagdá determinou a ilegalidade do plebiscito, bem como a anulação dos efeitos legais que dele decorreriam. Por resultado tem-se a gênese de um novo enfrentamento. Apesar do não reconhecimento, a “nação curda” iraquiana poderá tomar as providência práticas na implementação da decisão popular. Difícil será a desmontagem da estrutura erguida em sua capital Arbil sem que haja forte resistência, possivelmente armada.

Nesta ambígua situação ambos os lados estarão procurando apoio dentre os “players” no Oriente Médio. Bagdá terá a solidariedade de Damasco, Ancara e Teerã, onde os governos centrais compartilham sérias preocupações com o separatismo latente de suas regiões Curdas. Face à esta ameaça, e os desdobramentos desestabilizadores que decorreriam do temido movimento separatista, os Estados Unidos vêm-se premidos a apoiar a integridade nacional de seus aliados, o Iraque e a Turquia. Assim, Washington, promotor do imbróglio, retira a proverbial escada, deixando Barzani pendurado no pincel.

Já, o lado oposto, premido pelo ódio que separa Sunitas e Xiitas, forma esperada aliança em prol de um independente Curdistão, É ela composta pelos países Sunitas da região, comandados pela Arábia Saudita, seguida pelos reinos do Golfo Pérsico, a Jordânia e o Egito. Porém, surpreendente, é a inclusão de um estado, nem Xiita nem Sunita, mas sim Judeu, nesta conspiração.

Em ofensiva deslanchada pela imprensa internacional, com artigos publicados por seus embaixadores no Globo, no New York Times e outros, Israel proclama a justas pretensões Curdas. Bem sabe seu Primeiro Ministro, Benjamim Netanyahu, que a desestruturação da região a partir deste movimento curdo, atende seus interesses geopolíticos, uma vez que a desordem endêmica e a fragmentação do Oriente Médio traduz-se por maior segurança de Israel. Repete Tel Aviv, neste caso e em escala mais disseminada, a anterior influência que exerceu sobre George W. Bush quando ofereceu “provas” ao ingenuo e despreparado presidente americano sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque. Contudo, como fato irônico, se não fosse patético, defende um povo que clama por independência desprezando que, ao seu lado e por ele dominado há sessenta anos, está o Palestino, que, em situação muito mais cruel, sofre sob sua implacável espada.


Fica assim armado novo cenário de potencial conflito, estimulado por dois estados; um, Israel, profundo conhecedor das realidades da região, e outro, os Estados Unidos, impelido por interesses estruturados sobre uma obscura base de incompreensões.  

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