sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Donald e Kim

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Desde as últimas observações desta coluna, o conflito, por enquanto verbal, entre Pyongyang e Washington vem se exacerbando. Agora, a última palavra é de cunho tecnológico: Termonuclear. Esta é a denominação para a última bomba desenvolvida e testada com sucesso pelo regime norte coreano.

Por resultado tem-se a escalada diplomática, apimentada pelos comentários desencontrados de Donald Trump, que ora defende o diálogo, ora a fúria de uma retaliação. De seu lado, o sinistro e rechonchudo Kim mantém o tom desafiador. Como se estivesse tratando com país de terceira categoria, não demonstrando o menor receito de desafiá-lo. Pretenderá ele levar Donald à mesa de negociações e extrair um tratado de Paz que ha sessenta anos escapa aos dois vizinhos? 

Mas por trás do pano que esconde os bastidores da platéia, ambos os lados sabem que estão patinando em gelo fino. A qualquer momento as ríspidas palavras podem se tornar bombas de verdade.

De seu lado, Kim Chang-uh e seu estado maior apostam (ou blefam?) em manter o adversário desequilibrado pelo inesperado, assim ganhando tempo. Tempo para dar às suas armas a confiabilidade e o upgrade que paralise a resposta violenta do opositor. Busca construir uma versão mirim do MAD* que garantiu a convivência durante a Guerra Fria.

A isto, assistem Xi Jinping e Vladimir Putin, com um misto de satisfação e temor, o desenrolar do contencioso. A ameaça coreana lhes favorece por desequilibrar os Estados Unidos criando uma incerteza que se traduz por fraqueza. Ainda, leva Washington a recorrer, tanto a Beijing quanto a Moscou, para a contenção de Pyongyang. 

Por ouro lado, a eclodir o conflito, sua extensão será imprevisível bem como a contenção de danos aos países limítrofes, China e Rússia. Ainda, a eventual queda, ou morte, de Kim trará a instabilidade de uma sucessão desconhecida.

Já, no campo norte-americano, o problema torna-se bem mais grave. De início, a preeminência da nação, até bem pouco líder do planeta, se deixa arranhar por um impetuoso aventureiro. Vê-se confrontada, não por uma potência, mas sim por um minúsculo país cuja população corresponde à um décimo da sua, cuja economia tem dimensão distrital, com exército antiquado, e marinha e força aérea nulas.

Ora, a autocontenção bélica não é uma característica norte-americana; por muito menos os Estados Unidos invadiram o Iraque. Nem seu “commander in chief”, Donal Trump, parece ser de natureza pacífica. Portanto, é razoável presumir-se que, se até este momento nenhuma ação militar foi deslanchada, esta aparente calmaria dever-se-ia à um cuidadoso estudo dos riscos militares decorrentes de ataque à Coréia do Norte:
  • identificar a localização precisa dos mísseis coreanos, muitos destes sobre lançadores móveis em constante movimentação
  • planejar a neutralização da artilharia convencional ao longo do Paralelo 38 ** que ameaça a Coréia do Sul
  • mapear a infraestrutura nuclear, tal como estoques, laboratórios, centrifugas, etc...
  • interditar todo transporte e comunicação, e mais importante
  • neutralizar a capacidade retaliatória dos mísseis coreanos que escapem ao primeiro ataque.
Talvez seja este último item a principal razão para a hesitação observada em Washington. Conquanto o exército norte americano possua foguetes anti-mísseis para interceptação em baixa altitude, os experimentos realizados em misseis para interceptação estratosférica tem sido duvidosos. Estaria protegida a base norte-americana de Guam? Será esta a razão real para a surpreendente paralisia militar yankee?

*    Mutual Assured Destruction
**  Fronteira informal que até hoje separa as duas Coreias


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