Em junho de 1914
um terrorista matou um príncipe.
A reação do Estado ferido foi feroz. Quatro anos mais tarde 17
milhões de mortos e vinte milhões de feridos foi a conta macabra.
Em setembro de 2002 terroristas mataram tres milhares de inocentes;
hoje, quinze anos depois, mais de meio milhão já morreram nas
pobres montanhas e areias do Oriente e nas prósperas avenidas do
Ocidente sem que um fim se vislumbre.
Hoje, tem-se o terrível
atentado em Manchester, onde a suprema crueldade ao atingir crianças
e jovens acentua a urgente necessidade de repensar-se a melhor
formula de combater-se a praga do terrorismo internacional. Não
apenas a morte o acompanha, mas, também, as imensas levas de
refugiados, em fuga das áreas conflagradas, ameaçam o equilíbrio
politico e social das sociedades que as acolhem.
O terrorismo é um
protesto levado ao ápice do absurdo. Ele viceja no obscuro terreno
da violência incontida, adubado pela visão radical e exponencial do
maniqueísmo, onde só uma verdade existe, confrontada pelo oposto
execrado. Ainda que para combatê-lo o uso da força seja essencial,
não pode ser eliminado somente por ela.
Neste momento, a derrota
do Estado Islâmico é prioritária, e exige a concentração de
todas as forças dispostas à sua eliminação. Ainda, toda ação
armada visando outros objetivos que não o terrorismo, deve ser interrompida, não apenas
por desviar do objetivo primordial, mas, também, ao manter-se, estará
propiciando o surgimento e o alastramento de novos focos terroristas.
Na essência, o terrorismo
internacional Islâmico parece decorrer do conflito entre os
interesses geo políticos Ocidentais e os dogmas das múltiplas seitas
religiosas Islâmicas.
Em resposta à derrubada
das torres gêmeas de Nova York, fez-se a invasão do Afeganistão em 2001.
Não satisfeitos em eliminar a Al Qaeda naquele país, com a
posterior morte de Osama Bin Laden já no Paquistão, continua a
mais longa guerra empreendida pelos Estados Unidos, onde, por quinze
anos mata-se e morre-se. Não, apenas, o inimigo, mas, em decorrência
das “perdas colaterais”, tornando a região em cemitério de
civis e celeiro de terroristas. Após tão longo conflito, o objetivo norte-americano parece
haver-se perdido ao passar do tempo, restando, talvez, a única necessidade
de resguardar seu prestígio ao manter vivo o governo moribundo em
Cabul.
Em 2003 iniciou-se a invasão do
Iraque e derrubada de Saddam Hussein. Novamente, o exército
derrotado teve por companhia imenso contingente de mortos e
feridos civis, estímulo ao terrorismo. No desdobrar de uma paz
imperfeita transferiu-se o poder dos Sunitas derrotados aos Xiitas
vencedores. Surgiu, finalmente, o germe da contestação sob a forma
do monstruoso Estado Islâmico.
Já. em 2011, em decorrência de objetivos até hoje pouco esclarecidos, os Estados Unidos, a França e a Grã Bretanha, decidiram apoiar o incipiente movimento rebelde na derrubada do regime líbio. O sucesso alcançado resultou na fragmentação política e armada das facções existentes, prevalecendo até este momento. Em consequência, a Líbia tornou-se mais um foco de terrorismo internacional.
Há poucos dias o
presidente Donald Trump visita a Arábia Saudita. Imune às lições
da história, promete-lhe vendas de novas armas no valor de 110
bilhões de dólares, cujo poder bélico em muito excede as
necessidades de sua auto-defesa. Junta-se ao Rei Salman al Saud em
discurso hostil ao Irã, desprezando o fato de ter sido recém eleito
presidente o moderado Hassan Rohani, o que proporciona boas condições
para entendimento pacífico entre Washington e Teerã. Cria-se,
assim, condições favoráveis para mais uma guerra que, como naquela
contra o Iraque, revelou-se contrária aos interesses do Ocidente.
A prosseguir a política
americana no Oriente, Médio e Próximo, a região continuará sendo
a incubadora de terroristas. A realidade impõe à Washington e seus
aliados europeus uma revisão da política até agora adotada naquela
região, abandonando a derrubada de reis e presidentes, rejeitando a
tentação de “construir Estados”, e privilegiando o diálogo com
todas as nações, a análise de seus temores, e uma melhor
compreensão de suas aspirações.
A experiência tem
revelado que não será pelas armas que os valores locais serão
mudados; devem ser respeitados ainda que firam a sensibilidade
Ocidental. Inútil a tentativa de democratizar o que não quer ou não
pode ser democratizado. Se o os países da região clamam por
modernidade, que o façam por conta própria, sem intervenção dos
“estrangeiros”.
As áreas onde mais viceja
o terrorismo são aquelas que sofreram e ainda sofrem intervenção armada: a Líbia, o Iraque e a Síria
(outrora, ambos laicos), e o Afeganistão. Os países mais “estáveis”, livres do terrorismo, mantendo boas relações com o mundo Cristão, são as monarquias feudais e dogmáticas da região, apesar de mais
afastados dos valores Ocidentais.
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