Encerra-se assim o ciclo eleitoral
francês para a presidência. Deu nova força à União Europeia, ameaçada pelos
movimentos radicais no Continente e pela infiel Grã Bretanha e seu
Brexit. Restabeleceu-se o equilíbrio do Ocidente, e
tranquilizou-se, ainda que temporariamente, alguns temores
geo-políticos que afligem o planeta.
Nem tanto pela vitória de Emmanuel
Macron, chefe do En Marche!, cuja juventude política e a ainda
desconhecida capacidade administrativa o torna vulnerável, mas sim
pelo voto anti Front National. Sua visão pan-europeia e sua oposição
à força desagregadora de Marine le Pen, comprometida com a
derrubada do edifício europeu, atraiu os votos dos eleitores de
outros partidos.
Não foram poucos os arautos em busca
do passado para, na sua imagem, construir o futuro. Preferem a dispersão dos
interesses, a desarmonia competitiva do antigo nacionalismo, as
muralhas que protegem projetos fracassados. O retorno ao jogo das
alianças competitivas, ao retrocesso do mercantilismo, aos clamores
pelas purezas raciais, à intolerância do diferente negam a modernidade imposta pelo Século XXI. Le Pen e seus
correligionários descartam a inevitabilidade da globalização,
impelida pela revolução tecnológica da comunicação. O Front
National, hoje derrotado, propugnava o retorno às condições que já levou o mundo ao mais sanguinário dos séculos, o Século XX.
Seria bem possível que, em algumas
chancelarias houvesse os que torceram contra Macron; a Inglaterra
teria facilitada suas negociações de divórcio com uma Europa
enfraquecida, aliando sua própria deserção àquela da França
“frontiste”. Wladimir Putin teria em Le Pen uma aliada que lhe
abriria as portas para a discórdia dentre os europeus, assim
dificultando a continuidade das sanções que ora lhes são impostas.
Possivelmente, agradasse, também, a Donald Trump, cuja visão de um
Estado egocêntrico se aproxima da visão de Marine Le Pen.
Mas não aconteceu. Emanuel Macron
oferece à França uma mensagem temperada, de “terceira via”,
onde nem o socialismo tradicional nem capitalismo neo-liberal terão
primazia. Seu discurso busca atenuar os excessos do primeiro e
conter as ambições do segundo. Contudo, nada é certo antes das
eleições parlamentares.
Macron ganhou as eleições, porém
seus votos vieram, em relevante proporção, da direita derrotada e
frustrada por François Fillon. A derrota dos Les Republicains foi
selada ao insistir sua Direção em manter o candidato desmoralizado
em vez de garantir uma inescapável vitória com Allain Juppé. Estes
votos terão alto preço quando da formação da coalizão
governante.
Ainda, os eleitores do proto comunista
Mélenchon também contribuíram para a vitória do En Marche! Sua
adesão termina aí. Estes serão, tudo indica, implacáveis inimigos
de Macron nas eleições legislativas.
Já os eleitores do Partido Socialista
difícilmente serão solidários à Emmanuel Macron. Justo seria
estimar-se que parte apoiará o exministro do governo Hollande, e
outra, a mais radical, cerrarão fileiras com Mélenchon, líder da
“France inssoumise”.
Este cenário recomenda prudência nas
previsões; reflete a
monumental tarefa que o presidente recém eleito terá ao formar uma
maioria multi-partidária que lhe permita cumprir o projeto
prometido a seus eleitores.
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