sábado, 4 de fevereiro de 2017

O Excessivo custo da Cura


Há muito que o planeta embarcou na luta contra os estupefacientes. Maconha, cocaína, heroína, anfetaminas, dentre outros espalham-se através do mundo, conquistando crescente numero de usuários, muitos deles irremediavelmente viciados.

São muitas as formas pelas quais os países lidam com o problema, a mais comum tratando dos adictos com maior leniência enquanto o peso da lei é reservado aos traficantes. Faz sentido. Contudo,  a aplicação das políticas variam de país a país. Enquanto nas Filipinas e na Indonésia o traficante tende a receber a pena de morte, na Europa constata-se maior tolerância na aplicação das penas. Lá aposta-se mais na recuperação social do criminoso.  Em alguns casos, nações toleram o consumo “a céu aberto” deixando para os intermediários as duras penas da lei.

Já nas Américas persegue-se o modelo norte-americano onde a severidade é extrema quanto ao encarceramento dos traficantes e severa para com os usuários. Tanto no Norte quanto no Sul do hemisfério americano, as punições tendem a privilegiar a raça dominante e penalizar as minorias.

Resultado de imagem para photos of drug traffickingTanto nos Estados Unidos quanto no Brasil a diferença das condenações impostas aos brancos em contraste aos negros é abissal. Estatísticas confiáveis  revelam forte incidência de  usuários negros emprisionados, enquanto as sentenças lavradas aos brancos refletem incomparável tolerância do sistema judicial de ambos os países. Avilta-se a Justiça. Constata-se, assim, inegável viés racial na forma pela qual o combate à droga vem sendo praticado.

No que tange o universo carcerário, observa-se a incapacidade das autoridades em conter o domínio exercido pelos sindicatos criminosos que dominam a geografia prisional. É do conhecimento geral, graças às recentes rebeliões em diversos presídios brasileiros, que estruturas de comando vicejam no ambiente carcerário, a ponto de coordenarem-se com seus comparsas além-muros, assim ampliando e aperfeiçoando a extensão de sua ação criminosa com evidente e crescente ameaça à sociedade brasileira.

O fato de tal realidade, contrária aos interesses da nação, persistir ao longo de décadas reflete a necessidade de rever-se toda a base lógica sobre a qual repousa o atual combate à distribuição e proliferação das drogas.  Esta parece lastrear-se sobre a duvidosa tese de que a contenção manu militari da distribuição da droga protege a sociedade. No entanto, a observação empírica revela realidade oposta. A contenção na distribuição da droga, ainda que ineficaz, cria as condições ótimas para a precificação do produto e a proliferação do crime especializado. Desta prosperidade crescente redunda a continua ampliação do recrutamento de soldados e da aquisição do armamento necessário à manutenção e disseminação do crime.

Ainda, os enormes valores que decorrem da distribuição ilegal da droga permitem, não apenas beneficiar as gangues nela envolvidas mas facilita, também, o processo corruptor onde as próprias forças repressivas são cooptadas pelo crime que devem combater. Constata-se, assim, que, contrariamente ao que a atual formulação de combate ao crime defende, este torna-se, ano a ano, cada vez mais presente Brasil afora.

Tais tentáculos são letais, gerando não apenas um crescente contingente de drogados, mas trazendo direta e indiretamente um incontido aumento dos crimes de morte, onde tanto o envolvido como os inocentes pagam com a vida. Alem dos meliantes, morrem em crescente numero,  policiais e civis, dentre os quais, forçoso lembrar, crianças. Em certos momentos, bairros e comunidades carentes são feitos reféns, ônibus incendiados, escolas fechadas  para atender os desígnios de  comandos criminosos. Não poucas vezes a sociedade encontra-se sitiada.

Recente estudo do Fundo Monetário Internacional revela que, em 2014, o combate às drogas no Brasil consumiu mais de noventa e hum bilhões de dólares, ou, seja, mais de 3,5% do PIB, valor próximo das perdas da economia  nacional em 2016.

A atual formulação para enfrentar o flagelo da droga tem por consequência enriquecer os seus comandantes e soldados. Ao Estado cabe romper a equação econômica que, até os dias de hoje, vem beneficiando o crime. No momento, o custo social que dela decorre promete superar o custo da alternativa propugnando a descriminalização da droga. Enquanto o custo do combate em sua atual formulação revela aumento ano a ano, provavelmente já chegando aos cem bilhões de dólares em 2017, o ônus decorrente da descriminalização,necessariamente acompanhado das medidas sociais de apoio, tenderia decrescer com a passagem do tempo.

Como suporte desta medida, ter-se-ia uma permanente campanha de mídia, a guisa do que já foi realizado contra o cigarro, com acompanhamento sócio-medical  lastreado em estrutura física de recuperação dos viciados. Para os traficantes recalcitrantes, a pena máxima, sem atenuantes, seria apropriado.

Não são poucos os nomes ilustres que atribuem à guerra às drogas a imagem de enxugar gelo. Dentre estes, destacam-se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso bem como o atual ministro Luis Roberto  Barroso do Supremo Tribunal Federal. Parece ter chegado a hora da sociedade brasileira enfrentar a realidade.



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