terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Alianças e lambanças


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Desde 1946 o renascimento da Europa, o berço da civilização Ocidental, tornou-se um laboratório buscando, ao mesmo tempo, o retorno do crescimento econômico e, face a devastação de suas terras e o empobrecimento de sua gente, novas formulas de equidade social.

Sem o Plano Marshall talvez seu experimento não chegasse a bom term, visto o campo fértil que a pobreza então endêmica oferecia ao Comunismo. Confrontado com esta realidade política o governo Truman iniciou um programa que haveria de preserevar o capitalismo no continente. Ao Plano somou-se o poderio militar norte americano, revelando-se suficiente para conter o maior exército do mundo, o Soviético.

Na periferia das grandes potenciais foram muitas as guerras. No Sudoeste asiático, na África, no Oriente Médio os conflitos por procuração dos dois impérios, um financeiro, o outro geográfico, ceifaram vidas, patrimônio. Nestes anos ameaçadores, a Europa livre perdeu suas colonias e submeteu-se ao seu grande aliado, único provedor da segurança. Como se nascesse da coxa de Júpiter, surge a OTAN, mais Marte do que Dionísio, aliança garantidora do velho Continente.

Finalmente, quarenta e cinco anos depois ruí o Muro de Berlim concedendo a vitória indiscutível aos países democráticos. Às portas de Século XXI, os Estados Unidos assumem a liderança inconteste do Planeta Terra.

Fast Forward...

Poucos homens tem o poder de alterar o rumo da história. Donald Trump, um impetuoso businessman, revela tênue cultura internacional, confundindo diplomacia com deal making. Detem o poder de virar o jogo”. Lastreado na agressiva cultura nova yorquina, considera que as táticas negociais se aplicam ao diálogo com chefes de Estado. Não conhecendo a história que liga Washington às demais nações, desrespeita interesses legítimos e sensibilidades arraigadas. Já demonstrou seu desprezo pelas instituições multilaterais, optando pelo perigoso bilateralismo na solução de problemas.

Não será impensável ver-se a Europa, a mais importante aliada, por razões estratégicas, políticas e comerciais, abalada pela nova realidade. Será o momento de repensar sua confortável dependência na generosidade norte-americana? Ameaçada por embates internos, como a deserção da pérfida Albion, a possível queda de Angela Merkel e a preocupante ascenssão de Marine Le Pen, vê-se a União Europeia em módulo defensivo.

Aos acidentes domésticos soma-se, agora, a instabilidade na liderança internacional. Novas exigências prometem tensionar a OTAN, nublando a convergência de propósitos nas politicas comercial e de segurança.

Ainda, a singela percepção de Trump sobre as complexidades no Oriente Médio, não favorece conclusões eficazes. Nesta região, amigos e inimigos se confundem, ombro a ombro, tornando imprudente conclusões apressadas. Sua modesta compreensão das circunstâncias históricas e geo-políticas que movem os players no berço das três religiões favorece decisões erradas e iniciativas perigosas.


Há cem anos as tropas norte-americanas desembarcam na França, juntando-se aos exércitos francês, britânico, belga, português e outros em sua luta contra o Império Germânico. Pouco depois, os vencedores retalharam o Oriente Médio. Cabe a Donald Trump rever estes tempos para entender como o presente foi construído. Só então poderá tratar do futuro.  

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