Não há dúvida que a esquerda brasileira sofreu grande derrota; o esmagador insucesso do PT nas eleições municipais sepultou o arremedo de economia populista praticado pelo partido, com os efeitos que ora observamos.
Porém, nem tudo são
flores. Dir-se-á que nelas não faltam espinhos e alguns bem
agudos. A reviravolta, simbolizada pela "demise" de Mantega e a
ascensão de Meirelles, bem espelha quão forte foi a guinada. Esta
encontrou seu lastro principal na “PEC das despesas”, agora
gravada no altar constitucional.
Em decorrência, o
estamento “liberal”, na sua concepção inglesa e não americana,
espera forte inversão no hoje combalido nível
de confiança internacional, onde o Brasil passará a despontar
como país sóbrio, e responsável, onde
suas despesas subordinam-se às receitas disponíveis,
assim gerando uma onda benfazeja onde os
investidores internacionais encontrariam oportunidades ímpares.
Será? Ao
observador restam, ainda, dúvidas sobre a eficácia do caminho a
trilhar. Seguem algumas:
- A economia brasileira parece contida e fragilizada pelo esgotamento da classe consumidora. Confrontada com a incontida evolução do inusitado desemprego causado por empresas em crescentes dificuldades nada parece sugerir, no curto prazo de um ou dois anos, uma relevante retomada da demanda.
- Soma-se à queda da massa salarial o endividamento autofágico, impelido pelas mais altas taxas de juros cobrados pelo sistema bancário, tornando a inadimplência endêmica no futuro próximo.
- Quanto aos investimentos do setor privado, este torna-se inibido enquanto perdurar o alto índice de capacidade ociosa na indústria.
- Ainda, a alta taxa do SELIC contêm o capital de giro das empresas, a formação de estoques e o investimento em equipamento que lhes permita melhorar sua produtividade.
- A este cenário recessivo junta-se a contenção de gastos do governo, em seus investimentos e nos salários pagos.
As
projeções do PIB parecem restritas à cenários descendentes. A
prevalecer a queda das receitas federais e estaduais a PEC dos gastos
imporá uma correspondente redução nas despesas estatais e seus
investimentos, criando, assim, as condições para um circulo vicioso
cujas forças centripedas levam à contração.
Em
momento de economia ascendente, a PEC dos gastos poderá resultar numa favorável disciplina fiscal antes desconhecida no país; invertendo-se a
tendência poder-se-á desaguar em crescentes dificuldades
orçamentárias. Ainda que tais estimativas sejam, no presente,
meramente hipotéticas torna-se urgente identificar-se um plano B, ou
seja identificar quais os “primers” econômicos que poderão
acelerar a reversão da tendência indesejada.
Talvez
valha recorrer à história, relembrando, nos idos dos 1929 as
filosofias antagônicas dos presidentes Hoover e Roosevelt. O primeiro
recorreu à medidas recessivas em busca de um equilibrio que não se
materializou; já Franklin Roosevelt, valendo-se dos ensinamentos de
John Maynard Keynes, encontrou o caminho da recuperação.
Muito
mudou neste quase século. Talvez os mais importantes "game changers" são:
1.A
globalização financeira, onde a competitividade pelo capital
disponível causa constante redirecionamento, trazendo consigo
volatilidade que se transforma em endêmica instabilidade tanto no preço quanto na quantidade
2,
As redes sociais,onde os movimentos políticos se mobilizam com
instantaniedade, refletindo as tendências positivas e negativas do
momento, geram inevitáveis consequências eleitorais.
Estes
dois fatores estarão presentes quando das eleições de 2018. O
discurso do político profissional será soterrado pela volátil
atualidade econômica e pelo volúvel animo da sociedade eletrônica.
Se o projeto “liberal” não estiver consolidado, com seus
benefícios aparentes, abrir-se-ão as portas da contestação
esquerdista.
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