quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Em torno da PEC


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Não há dúvida que a esquerda brasileira sofreu grande derrota; o esmagador insucesso do PT nas eleições municipais sepultou o arremedo de economia populista praticado pelo partido, com os efeitos que ora observamos.

Porém, nem tudo são flores. Dir-se-á que nelas não faltam espinhos e alguns bem agudos. A reviravolta, simbolizada pela "demise" de Mantega e a ascensão de Meirelles, bem espelha quão forte foi a guinada. Esta encontrou seu lastro principal na “PEC das despesas”, agora gravada no altar constitucional.

Em decorrência, o estamento “liberal”, na sua concepção inglesa e não americana, espera forte inversão no hoje combalido nível de confiança internacional, onde o Brasil passará a despontar como país sóbrio, e responsável, onde suas despesas subordinam-se às receitas disponíveis, assim gerando uma onda benfazeja onde os investidores internacionais encontrariam oportunidades ímpares.

Será? Ao observador restam, ainda, dúvidas sobre a eficácia do caminho a trilhar. Seguem algumas:

  1. A economia brasileira parece contida e fragilizada pelo esgotamento da classe consumidora. Confrontada com a incontida evolução do inusitado desemprego causado por empresas em crescentes dificuldades nada parece sugerir, no curto prazo de um ou dois anos, uma relevante retomada da demanda.
  2. Soma-se à queda da massa salarial o endividamento autofágico, impelido pelas mais altas taxas de juros cobrados pelo sistema bancário, tornando a inadimplência endêmica no futuro próximo.
  3. Quanto aos investimentos do setor privado, este torna-se inibido enquanto perdurar o alto índice de capacidade ociosa na indústria.
  4. Ainda, a alta taxa do SELIC contêm o capital de giro das empresas, a formação de estoques e o investimento em equipamento que lhes permita melhorar sua produtividade.
  5. A este cenário recessivo junta-se a contenção de gastos do governo, em seus investimentos e nos salários pagos.

As projeções do PIB parecem restritas à cenários descendentes. A prevalecer a queda das receitas federais e estaduais a PEC dos gastos imporá uma correspondente redução nas despesas estatais e seus investimentos, criando, assim, as condições para um circulo vicioso cujas forças centripedas levam à contração.

Em momento de economia ascendente, a PEC dos gastos poderá resultar numa favorável disciplina fiscal antes desconhecida no país; invertendo-se a tendência poder-se-á desaguar em crescentes dificuldades orçamentárias. Ainda que tais estimativas sejam, no presente, meramente hipotéticas torna-se urgente identificar-se um plano B, ou seja identificar quais os “primers” econômicos que poderão acelerar a reversão da tendência indesejada.

Talvez valha recorrer à história, relembrando, nos idos dos 1929 as filosofias antagônicas dos presidentes Hoover e Roosevelt. O primeiro recorreu à medidas recessivas em busca de um equilibrio que não se materializou; já Franklin Roosevelt, valendo-se dos ensinamentos de John Maynard Keynes, encontrou o caminho da recuperação.

Muito mudou neste quase século. Talvez os mais importantes "game changers" são:

1.A globalização financeira, onde a competitividade pelo capital disponível causa constante redirecionamento, trazendo consigo volatilidade que se transforma em endêmica instabilidade tanto no preço quanto na quantidade

2, As redes sociais,onde os movimentos políticos se mobilizam com instantaniedade, refletindo as tendências positivas e negativas do momento, geram inevitáveis consequências eleitorais.

Estes dois fatores estarão presentes quando das eleições de 2018. O discurso do político profissional será soterrado pela volátil atualidade econômica e pelo volúvel animo da sociedade eletrônica. Se o projeto “liberal” não estiver consolidado, com seus benefícios aparentes, abrir-se-ão as portas da contestação esquerdista.




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