quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O nebuloso Ano Novo


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Ao terminar o ano, este Blog e solitário escriba lhes desejam, ainda que timidamente, um tranquilo  2017.

2016 foi aquilo que todos sabemos, um cataclismo político, um tufão econômico, um terremoto  moral. Talvez três estrelas atenuem a profunda e negra noite que cobre o Brasil: a ação da Justiça, a queda da inflação e o superávit nas contas externas. Mas não basta. No mais, tudo é desordem e improviso com o intento de salvar o navio que ora se afunda, sob um comando de tênue legitimidade exercido sobre uma tripulação rebelde,  a beira do motim.

Nem o passado nem o presente, ou seja, o passado imediato, são remediáveis. Só o futuro se oferece aos experimentos destes mortais,  ofuscados  e escravizados pelas falsas imagens auto-criadas, viciados por longa vida de artimanhas e astúcias, corrompidos pela impunidade moral e penal, apenas estes têm o poder direto de alterar o rumo, salvar a nave. Pouco provável, dirão muitos.

Existe, entretanto, a espontânea criação de núcleos influentes nas redes sociais, tendo por fim não as propostas complexas de como governar, mas sim explicitar, através do protesto coletivo, o balizamento cívico e o rumo político a perseguir dentro dos limites da moralidade. Uma ação essencialmente preventiva, enxuta,  sem a complexidade que desagrega. A sua força estará na sua simplicidade.

A  magnitude potencial e a extensão do  protesto eletrônico, com seu consequente desbordamento para as ruas,  poderá tornar-se a única arma eficaz para  estimular uma inversão de rumo, onde o reordenamento e a purificação do estamento político virá intimidar e redirecionar o comportamento dos atuais governantes, inibir os seus desvios éticos, tolher suas tentativas corruptas.

Caso venha a ocorrer, este novo cenário poderá tornar o cidadão em ator, protagonista  na missão de resgate da Nação.

Feliz Ano Novo

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Finalmente


Após décadas de vetos, o governo Obama resolveu abster-se. Desta forma permitiu que a unanimidade dos demais membros do Conselho de Segurança  condenassem o estado de Israel por apropriar-se, ilegalmente face ao direito internacional, das terras palestinas na Cisjordânia.

A contínua e inexorável ampliação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, mediante ocupação ilegal de terras secularmente pertencentes aos cidadãos palestinos, vem inviabilizando qualquer tentativa de paz naquela região. A redução do seu território já atingiu o ponto de inviabilizar, econômica, demográfica e politicamente a criação do Estado Palestino conforme determinado por  resolução da Nações Unidas, quando da criação do Estado de Israel.

Esta expansão geográfica, por muitos comparada com o projeto nazista do Lenbensraum,  vem corroendo paulatinamente a outrora admiração e simpatia que a nova nação dos judeus conquistara mundo afora. 

Ao romper a tradição de vetar toda resolução do Conselho de Segurança crítica à Israel, Barack Obama parece ter decidido, nas últimas horas de seu governo,  honrar o  prêmio Nobel da Paz, recebido nas suas primeiras horas. Por outro lado, Donald Trump revela seu temperamento impulsivo e o que prometem os dias por vir.  Em direta  intervenção na política externa norte-americana, estabeleceu contato direto junto ao presidente egípcio autor da resolução condenatória. Seus argumentos foram suficientemente intimidadores para levar o ditador Abdel al-Sissi a retirar sua proposição.


No entanto, de nada valeu a iniciativa; os 14  votos a favor dentre os quinze membros do Conselho de Segurança, no qual incluem-se a França, o Reino Unido, a Nova Zelândia, a Espanha, o Japão a Rússia e a China,  bem evidenciam o opróbrio internacional  a que é exposto o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu  e  seus seguidores. 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Terrorismo e embaixadores

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Nunca cometa-se o erro de acreditar em calmaria no Oriente Médio. O numero de protagonistas envolvidos  no jogo de poder naquela região impede qualquer tentativa de pacificação, uma vez que cada agente tem sua agenda cuja coincidência com os interesses alheios, se houver, tenderá a ser passageira.

Todos, rigorosamente todos os países semitas¹  estão envolvidos no conflito de uma forma ou outra. A neutralidade é desconhecida e o engajamento obrigatório. Igualmente presentes estão as grandes potenciais, estas representadas pelos Estados Unidos e  Rússia, bem como as potenciais regionais, a Turquia e o Irã.

Movidos por fanatismo religioso, ódios históricos, cobiça territorial e ganância econômica os semitas eternizam suas mazelas, facilitadas pelos artificialismos geopolíticos advindos das continuas  invasões de suas terras. No passado Gregos, Persas, Egípcios, Romanos, Mongóis, Turcos  e Ingleses² invadiram, partilharam, transformaram e exploraram a seu bel prazer as terras tornadas ricas  em petróleo, pobres em água, habitadas, porém, por gente singularmente resiliente fortalecida por uma religião guerreira.

Hoje, joga-se lá uma extremamente complexa partida de xadrez onde vários tabuleiros são superpostos  e interconectados. Particularmente canhestro no trato do assunto,  Washington, por aliar-se com elementos inimigos entre si,  tem dificuldade em determinar qual o seu “end game”, qual o seu objetivo final.

Enquanto  aliado da Turquia, os Estados Unidos  fortalecem a minoria Curda, por sua vez inimiga mortal de Ancara. Enquanto combate o Estado Islâmico, apoia e arma pequeno contingente de rebeldes sírios, estes sob o comando da Al Qaeda³, inimigo mortal dos Estados Unidos.  Estes, aliados do Iraque xiita, abastece a sunita Arábia Saudita em sua guerra contra o Iêmen xiita. O preço destas contradições se avoluma tornando improvável, senão inviável,  o sucesso de seus planos.

Do ponto de vista ideológico, enquanto a Rússia apoia o regime secular de Bashar al Assad, protetor das minorias, dentre elas os xiitas e os cristãos, Washington, em aliança com a Arábia Saudita 4, apoia as forças  Sunitas, ligadas ao Islã fanático, contra o regime Sírio.

É inevitável a perda de “produtividade político-militar” exibida por Washington, graças às incongruências de suas posições e alianças. Em contraste, seguindo uma agenda essencialmente antiterrorista, com alianças racionais e convergentes, parece  formar-se um  novo polo de poder regional.

A reunião recém convocada a se realizar em Moscou, com a presença da Turquia e do Irã, tem por base a vitória militar em Aleppo, dando ao conflito antiterrorista uma nova e eficaz configuração. Dela, emblematicamente,  foi excluída a participação dos Estados Unidos.

Parece abrir-se   uma nova pagina neste conflito, sob a liderança da Rússia com a inclusão do Irã, da Turquia, da Síria, e, possivelmente, com a eventual adesão implícita do Iraque.

A partir de 20 de janeiro, caberá ao governo Trump reavaliar a política norte-americana neste teatro. Juntar-se à Rússia na empreitada ou persistir no atual mosaico de alianças conflitantes? Será  o assassinato dos embaixadores, o americano na Líbia, o russo na Turquia,  o  único traço que una as duas potencias?

1.       Judeus e árabes são semitas.
2.       Trazendo a reboque os Franceses
3.       Sob o nome de Al Nousra
4.       Reino sob domínio Wahabita, a mais radical versão Sunita



quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Em torno da PEC


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Não há dúvida que a esquerda brasileira sofreu grande derrota; o esmagador insucesso do PT nas eleições municipais sepultou o arremedo de economia populista praticado pelo partido, com os efeitos que ora observamos.

Porém, nem tudo são flores. Dir-se-á que nelas não faltam espinhos e alguns bem agudos. A reviravolta, simbolizada pela "demise" de Mantega e a ascensão de Meirelles, bem espelha quão forte foi a guinada. Esta encontrou seu lastro principal na “PEC das despesas”, agora gravada no altar constitucional.

Em decorrência, o estamento “liberal”, na sua concepção inglesa e não americana, espera forte inversão no hoje combalido nível de confiança internacional, onde o Brasil passará a despontar como país sóbrio, e responsável, onde suas despesas subordinam-se às receitas disponíveis, assim gerando uma onda benfazeja onde os investidores internacionais encontrariam oportunidades ímpares.

Será? Ao observador restam, ainda, dúvidas sobre a eficácia do caminho a trilhar. Seguem algumas:

  1. A economia brasileira parece contida e fragilizada pelo esgotamento da classe consumidora. Confrontada com a incontida evolução do inusitado desemprego causado por empresas em crescentes dificuldades nada parece sugerir, no curto prazo de um ou dois anos, uma relevante retomada da demanda.
  2. Soma-se à queda da massa salarial o endividamento autofágico, impelido pelas mais altas taxas de juros cobrados pelo sistema bancário, tornando a inadimplência endêmica no futuro próximo.
  3. Quanto aos investimentos do setor privado, este torna-se inibido enquanto perdurar o alto índice de capacidade ociosa na indústria.
  4. Ainda, a alta taxa do SELIC contêm o capital de giro das empresas, a formação de estoques e o investimento em equipamento que lhes permita melhorar sua produtividade.
  5. A este cenário recessivo junta-se a contenção de gastos do governo, em seus investimentos e nos salários pagos.

As projeções do PIB parecem restritas à cenários descendentes. A prevalecer a queda das receitas federais e estaduais a PEC dos gastos imporá uma correspondente redução nas despesas estatais e seus investimentos, criando, assim, as condições para um circulo vicioso cujas forças centripedas levam à contração.

Em momento de economia ascendente, a PEC dos gastos poderá resultar numa favorável disciplina fiscal antes desconhecida no país; invertendo-se a tendência poder-se-á desaguar em crescentes dificuldades orçamentárias. Ainda que tais estimativas sejam, no presente, meramente hipotéticas torna-se urgente identificar-se um plano B, ou seja identificar quais os “primers” econômicos que poderão acelerar a reversão da tendência indesejada.

Talvez valha recorrer à história, relembrando, nos idos dos 1929 as filosofias antagônicas dos presidentes Hoover e Roosevelt. O primeiro recorreu à medidas recessivas em busca de um equilibrio que não se materializou; já Franklin Roosevelt, valendo-se dos ensinamentos de John Maynard Keynes, encontrou o caminho da recuperação.

Muito mudou neste quase século. Talvez os mais importantes "game changers" são:

1.A globalização financeira, onde a competitividade pelo capital disponível causa constante redirecionamento, trazendo consigo volatilidade que se transforma em endêmica instabilidade tanto no preço quanto na quantidade

2, As redes sociais,onde os movimentos políticos se mobilizam com instantaniedade, refletindo as tendências positivas e negativas do momento, geram inevitáveis consequências eleitorais.

Estes dois fatores estarão presentes quando das eleições de 2018. O discurso do político profissional será soterrado pela volátil atualidade econômica e pelo volúvel animo da sociedade eletrônica. Se o projeto “liberal” não estiver consolidado, com seus benefícios aparentes, abrir-se-ão as portas da contestação esquerdista.




sábado, 10 de dezembro de 2016

E a venda da Justiça?


No Brasil, como todos sabem, tudo pode acontecer. Se não é a invenção de novas coisas, sea imaginosa transformação de velhas práticas. Nestas últimas semanas viu-se de tudo; as mais diversas defenestrações, os mas curiosos nascimentos políticos (vide o pimpolho Maia), as mais engenhosas falcatruas, e, last but not least, o mais surpreendente desrespeito à corte suprema do país.

Resultado de imagem para foto de renan calheirosEste, oferta de conhecido politico. Defeitos terá ele, porém acusá-lo de falta de audácia, isso não. Comanda por conhecer as fraquezas de seus comandados, cabra da peste petulante, queixo levantado de Coronel dos pobres, capacidade impudica de torcer as próprias palavras, porém, não há como negar-lhe, dedicado amante. O Tesouro Nacional que o diga.

Será perspicaz aquele que do relato conclua ser o protagonista o presidente do Senado. Seu combate à lei, ou, inversamente, sua preferência pela impunidade, levou-o ao confronto com a opinião predominante na sociedade. É questão de tempo; pagará. O aqui se faz, aqui se paga teima em tornar-se a nova realidade brasileira.

Neste quadro conturbado busca-se na corte máxima, no Supremo Tribunal Federal um Norte, uma indicação para onde deve trilhar uma nação desorientada pela incúria dos governantes.
Hoje, o respeito institucional se concentra unicamente naquela senhora vendada, balança na mão esquerda, espada no punho direito.

Os que hoje exercem este poder, o de julgar e condenar, comandam o respeito da Nação. Estes nove Ministros têm em suas mãos a esperança de um Brasil melhor. Suas decisões não podem, sob o risco de desmoronamento da base republicana e democrática, sacrificar os princípios gravados em lei pelos benefícios fugazes do casuísmo. Cada decisão sua exige uma nítida clareza onde a isenção no julgamento e a autoridade da sentença dão-se as mãos.

Assim sendo, observa-se a recente decisão do Supremo ao reverter a liminar concedida pelo Ministro Marco Aurélio Mello, que determinara a remoção do senador Renan Calheiros da presidência do Senado, por ter-se tornado réu, condição incompatível com o cargo ocupado. A recusa de Calheiros em receber o oficial de justiça, um crime de per se, e de afastar-se da Presidência do Senado colocou em cheque a própria Constituição brasileira que exige o cumprimento de decisão emanada do Supremo Tribunal Federal.

Optou a vetusta côrte pelo casuísmo, relegando a segundo plano o espírito e a letra da lei. Concedeu a permanência de Calheiros revertendo decisão anterior.

Assim pagou-se o preço político, explícito e implícito, exigido por um Renan recém ressuscitado, para arregimentar o Senado em apoio ao Presidente. Sem ele a "PEC das despesas" não passaria? Resta saber se Renan Calheiros, em retribuição pelo apoio recebido, de fato jogará seu peso político em favor do presidente Temer. Que outras exigências e contrapartidas serão ainda exigidas pelo Senador?

Quanto ao Supremo Tribunal, a este coube pagar o preço por toldar sua imagem. Ao reverter a liminar concedida por Marco Aurélio Mello, validou-se a rebelião do político face uma decisão da côrte suprema. Mantendo Renan na presidência do Senado lavrou-se precedente para rebeldias futuras, onde as soluções encontrar-se-ão nas “articulações” e não mais na lei.


Face à crise institucional resultante, o estamento político levou o Tribunal a optar por decisão salomônica, em favor daquele que, pelo seu desrespeito à lei, engendrou a crise. O veredito buscou neutralizá-la, porém ao preço de toldar a imagem regeneradora do tribunal. 

 Em breves minutos, flexibilizou-se o que deveria ser firme, e, ao fazê-lo, retirou da simbólica imagem da Justiça a sua venda, revelando o alerto olho do oportunismo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Fidel Castro

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Morre o líder cubano. Para compreender Fidel Castro é forçoso compreender as circunstâncias que predominavam quando empreendeu sua notável aventura. Tempos que começaram quando ainda existia uma pletora de ditadores sanguinários numa América Central e Caribe, onde o leit motif era a subserviência das ditaduras aos Estados Unidos. Para manter seu poder, estes tiranos não hesitavam em matar e torturar. Triste é a memória de Batista, Trujillo, Somoza e outros chefetes, todos implacáveis e gratos pelo poder recebido de Washington.

Este cenário, lido hoje, parece texto de propaganda anti-americana, saíidos dos subterrâneos da Guerra Fria; contudo, um estudo mais aprofundado dirá que esta é uma descrição imparcial e objetiva da realidade política que imperava naquele rincão do planeta.

Ao brasileiro, filho cultural de uma nação continental, historicamente soberana, resguardada pelas suas dimensões física e demográfica, difícil será compreender o sentimento constrito e restrito da realidade política imposta à juventude cubana, contida no estreito corredor centro americano e nas ilhas caribenhas. Dentre estes jovens estava Fidel Castro.

Talvez justo será avaliar sua trajetória dividindo-a em três partes: a cubana, a latino americana e a internacional.


A dimensão cubana.

Nos anos '50, Cuba estava plenamente inserida neste contexto neo-colonial. O embaixador norte americano preservava sua condiçao de arbiter maximus, recebendo em seu gabinete os principais contenciosos e dele despachando suas decisões. O fato de Cuba somente ter obtido sua efetiva independência em 1940 (e não quando da derrota da Espanha), graças à revogação do Platt Agreement(1), mediante o qual os Estados Unidos reservava para si o direito de intervir política e militarmente em Cuba (2), este não veio alterar a realidade de poder, onde Washington mantinha seu poder de decisão e veto.

Em contrapartida os Estados Unidos absorviam toda a produção de açúcar da ilha a preços especialmente favoráveis e injetavam importantes capitais na industria açucareira e no turismo.

Fidel, não diferente dos demais estudantes de sua época, era ferrenho opositor da ditadura de Batista, esta incapaz de melhorar as condições da grande maioria da população, cúmplice na prostituição da política e dos costumes na capital . O diferenciava sua notável energia e disposição à ação, não se intimidando com o alto risco de seus projetos. O assalto ao quartel de Moncada o designava como líder nato. Anos depois, desembarca no oriente da ilha e embrenha-se na Serra Maestra. Em 1 de janeiro, 1959 derrota o exército de Batista e assume o poder.

Seguiu-se a etapa da vingança tão ao gosto de culturas hispânicas, quando os “esbirros” de Batistas foram levados ao “paredon”. A seguir iniciou-se o processo de ajuste econômico aos moldes crescentemente socializantes. Dá-se o grande êxodo da classe média cubana em direção à Miami, espoliada pelas determinações leoninas de um estado cada vez mais totalitário e anti-capitalista. Enfrenta o repudio e o resultante cerco econômico norte-americano. Inicia-se o embargo.

Recorrendo à força Washington determina e dá à CIA a missão de executar a invasão da Praia dos Porcos, onde o contingente de exilados cubanos são facilmente derrotados pelas forças de Fidel. Longe de estimular uma concomitante rebelião na ilha, sua retaguarda permaneceu defendida por uma população que surpreendeu pela fidelidade.

Reforma e populariza a estrutura educacional e da saúde. Estatiza a economia e a produção agrícola. Torna Cuba comunista. Em 2014 Cuba se coloca no 5 lugar no IDH na America Latina, significativamente acima dos gigantes Brasil e México. Contudo suprime as liberdades, tanto políticas quanto econômicas, manietando o cidadão com as algemas de uma unanimidade imposta.

Morto Fidel Castro, não será ele esquecido pelos cubanos, nem seus inimigos nem seus seguidores. Manteve a independência do país apesar de enormes desafios, inclusive contra sua vida. Para um jovem nascido em 1926, numa Cuba ainda sob o manto colonial norte-americano deu um enorme passo na efetivação da independência da ilha caribenha, assegurando seu nome na história da nação.


A dimensão Latino Americana

Em sua política para a América Latina, Fidel Castro revelou a incontinência de seu egocentrismo. Ignorando as idiossincrasias do continente Latino Americano, as diferenças culturais e sociais naqueles países. Pecou por uma generalização fundada no desconhecimento geo-político da região.

Vencedor, pensou poder alastrar sua rebelião por entre países com características históricas, políticas, sócio-econômicas muito distintas das de Cuba. À sua mensagem revolucionária opôs-se uma classe média poderosa na qual as forças armadas se inseriam.

Ainda assim, a mensagem esquerdista criou raízes nas grandes nações sul-americanas; Goulart no Brasil, Allende no Chile, Illia na Argentina, os Tupamaros no Uruguay emergiram ou fortaleceram-se. Foram, porém, prontamente neutralizados, seguindo-se ditaduras militares de variada intensidade, cabendo ao Brasil a mais tênue delas. Todas com o apoio de Washington. Dentre elas, a mais emblemática e desastrada, foi a aventura mal sucedida de Che Guevara na Bolívia.

Terminada esta fase, iniciou-se, décadas depois, já não mais sob influência direta cubana, nova etapa de radicalização ideológica, onde sob a preponderância de Chávez seguiram-se países como a Argentina, o Equador, Bolívia e Nicarágua e, por pouco, o próprio Brasil.

Na América Latina a imagem de Fidel Castro, execrada nas elites, tem fervoroso apoio na juventude estudantil. Nem a passagem do tempo nem a perene penúria das classes desfavorecidas permitiram que seu nome fosse esquecido. Seu símbolo ainda é capaz de influir no universo político das Américas.

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Dimensão Internacional

Fidel se projetou muito além das fronteiras Caribenhas. Inicialmente levou sua pequena ilha à uma independência que nunca dantes teve. Ao escolher o socialismo radical não soube evitar a punição dos Estados Unidos. Porém soube evitar o fim que coube o chileno Allende em sua malfadada tentativa.

Sua relutância a curvar-se às determinações de Washington deram início a uma sequência de retaliações comerciais, econômicas, jurídicas e, por fim militares. Sobreveio, então o embargo norte-americano que, indiretamente, tolhia as opções comerciais com os demais países.

Este contencioso, ao cortar os meios de sobrevivência econômica de Cuba, levou-a à opção comunista e a aliança com a União Soviética. Por momentos, Cuba tornou-se a mais valiosa peça no xadrez disputado com Washington. Moscou, ao colocar seus mísseis em Cuba pôde barganhar a retirada dos misseis norte-americanos na Turquia, posicionamento que lhe ameaçava diretamente. Ainda, como preço pela retirada de seus mísseis, Nikita Krushev impôs à John Kennedy o compromisso de não intervir militarmente na ilha caribenha.

Do ângulo econômico, o relacionamento com a União Soviética desatou as amarras que continham a sobrevivência cubana, sobressaindo o fornecimento de petróleo russo em troca de açúcar cubano. Já nos anos '90, a derrubada do império Soviético e o estancamento da ajuda à Cuba trouxe novas e relevantes dificuldades ao governo Castro até a superveniência do governo venezuelano e o fornecimento favorecido de petróleo.

Já, quanto a sua imagem internacional, Fidel despontou sobre dois ângulos distintos mas intrelaçados. Esta, pelo imaginário que prevaleceu, superou, abafou e quase anulou a outra imagem que precedeu às demais, aquela de um líder cruel e absolutista.

A eliminação da miséria, a implantação da educação universal, e o provimento de saúde a todos os níveis sociais, ainda que contidos dentro de um quadro de pobreza endêmica, capturou a imaginação da elite intelectual e da juventude nos mais distantes rincões do planeta.

Ainda, Fidel vestido em frágil armadura quixotesca enfrentando o colossal adversário, gerou solidariedade em todos que observaram, ao longo da história, as muitas ações impositivas e, por vezes mal pensadas que emanaram de Washington.

Digno de nota foi a incursão do exército cubano em Angola, em torno de 1975, onde seus efetivos chegaram a 25.000 soldados equipados com armas modernas de proveniência soviética. Em apoio ao governo de Luanda, as forças cubanas contiveram a ofensiva CIA-Sul Africana (3) chegando esta às portas da capital para em seguida derrotarem-nas em contra ofensiva. Tal feito d'armas deu à Fidel e seu exército a pátina de heroísmo que ainda persiste em muitas mentes.

No ocaso de seu governo Fidel Castro ainda mereceu solidariedade de governos e respeito, quando não admiração, dos mais diversos quadrantes. Contudo não conseguiu apagar, em muitos meios relevantes, o grande ódio criado pelo sangue friamente derramado ao despertar da revolução de 26 de Julho e o autoritarismo implacável que se seguiu.

1) Concedia ainda, ad perpetuum, a base naval de Guantânamo
2) Exercido em 1906
3) Cuban Intervention in Angola