domingo, 11 de setembro de 2016

Hillary, Putin e as eleições


Resultado de imagem para fotos de hillary com putinMais uma vez, a campanha presidencial norte americana identifica o inimigo externo como se fosse um viagra político. 

Desta vez o papel coube à Hillary Clinton na sua busca por um perigo existencial, uma ameaça iminente cuja face atual é a de Wladimir Putin. Há muito a perspectiva de paz não soma votos; pelo contrario, o Vietnam para Nixon, a União Soviética para Reagan, o sérvio Milosevic para Bill Clinton, o ogre Saddam Hussein para George W Bush, todos serviram como instrumento político na eleição de presidentes americanos. Seguindo a tradição, Putin torna-se cabo eleitoral de Hillary Clinton, protetora da America contra o perigo russo.

De fato, o líder eslavo revela personalidade agressiva; é destemido, não hesita explorar vantagens geo politicas e militares. Revelou, também, ter sido o redentor de uma Rússia desmembrada, desestruturada e empobrecida pela perda das nações outrora parte do Império Tsarista/Soviético. 

Agravada pela administração caótica de Boris Yeltsin, onde a “Nomenklatura” comunista era substituída pela Oligarquia libertária, fez-se com que e o binômio ineficiência/corrupção apenas mudasse de mãos, sem resolver os problemas econômicos da nação. Já, nos anos de sua administração, Putin promoveu a recuperação da economia russa, elevando o PIB (PPP) do país em mais de 500% trazendo o Indice Gini de distribuição de renda para 42 superando o do Estados Unidos (45).*

No campo político, Wladimir Putin se beneficia da propensão histórica que favorece um governo autoritário, ainda que democrático do ponto de visto eleitoral. Já, o governo das regiões russas, nossos estados, não é eleito. Assim, contata-se que a democracia russa difere da ocidental, nem poderia deixar de ser, levando-se em conta sua história de ininterruptos governos autocráticos.

Resta a questão se o líder russo representa um perigo claro e iminente para a aliança Ocidental? Estariam os Estados Unidos e a Europa sujeitos a um ataque do exército russo? A resposta viria de uma avaliação a partir de dois prismas, o defensivo e o ofensivo:

O cerne da defesa Russa está no seu arsenal nuclear, armamento que só poderá ser usado no caso estremo de ameaça à sobrevivência da nação. Mesmo o uso dos misseis táticos nucleares só pode ser visto como uma decisão de desdobramento extremo. Putin sabe que não tem condições de defender, com armamento convencional e uma população de 142 milhões de habitantes, um país com 16 milhões de kilometros quadrados.

Seu exército, com sua potencialidade máxima limitada por uma população tão pequena, jamais poderia enfrentar uma aliança cuja população ultrapassa 700 milhões de habitantes. Sua capacidade industrial e bélica é uma mera sombra daquela de seus potenciais inimigos. Seu PIB (PPP), estimado em torno de 3 trilhões é menos de um décimo dos PIB's combinados dos Estados Unidos e União Europeia. Dedica 3,9% de seu orçamento às despesas militares contra mais de 4,5%, ou seja, menos de 1/7 do montante absoluto despendido pelos Estados Unidos.

Sugere o bom senso que tal disparidade de forças nega, enfaticamente, qualquer avaliação que coloque Moscou em condição futura de agressor do Ocidente. Na história quase não se conhece líder nacional, conhecedor de sua fraqueza face o inimigo, que opte por agredi-lo.Tal decisão seria condenar o agressor à mais nefasta derrota.

Validando esta hipótese, constata-se que as duas únicas manifestações agressivas da Rússia contra os interesses dos Estados Unidos se deram na forma de defesa preventiva, ou seja ação armada para garantir as condições mínimas de salvaguarda da nação.

A pretendida cooptação por Washington da Georgia e Ucrânia para inclusão na OTAN ultrapassou o que seria a “Linha Vermelha” concebida como de segurança mínima exigida pela a Rússia**. Estes limites são de pleno conhecimento da Casa Branca. Portanto, a tentativa empreendida decorreu de estimativa que os riscos seriam compensados pelo sucesso. Não foram. Criou-se séria crise cujo potencial de escalada coloca o mundo próximo a uma conflagração de grandes proporções.

Ora, sendo razoáveis os argumentos em favor da auto-contenção russa, porque o temor demonstrado por Washington? A seguir, algumas razões prováveis:

  • Carry over da hostilidade para com a União Soviética
  • Dimensão do arsenal nuclear
  • Politica externa não alinhada aos propósitos norte americanos
  • Rejeição da expansão da OTAN em Estados Tampão
  • Singular capacidade russa no planejamento e execução tático-estratégica no campo militar

Por outro lado, Moscou tem colaborado com os Estados Unidos em momentos significativos, aliando-se ao projeto de contenção do ditador líbio, Muamar Kaddafi; facilitando o transporte de armas e homens da OTAN através do espaço aéreo russo; oferecendo o nihil obstat para instalação de uma base aérea norte americana no Quirguistão, colaborando com inteligência anti-terrorista e oferecendo colaborar para a pacificação da Síria.

Se persistir no caminho da hostilidade, a vencedora democrata estará estimulando a aproximação de China e Rússia tendo por consequência a potencialização do poderio de Moscou. A Peking não interessaria a capitulação russa aos desejos de Washington, por temer o cerco que poderia resultar.

Resta a indagação sobre qual a política que Foggy Bottom**** seguirá. Caso Mrs. Clinton reconheça as preocupações russas quanto ao inegável constrangimento que sofre, poderá reformular a equação estratégica ocidental, formando assim a base para uma détente com Moscou, levando à convergência as relações diplomáticas e comerciais de ambos os países.


* Fonte: World Factbook da CIA. Quanto menor mais favorável é o Indice Gini.
** A cooptação de Cuba pela União Soviética e a reação dos Estados Unidos oferece paralelo adequado.
*** Retirar, manu militari, a provincia do Kosovo da nação Sérvia tem aspectos similares à re-absorção da Criméia pela Rússia.

**** Nome informalmente adotado para designar o Ministério das relações exteriores norte-americano.

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