domingo, 31 de julho de 2016

O entreguista


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Este é um adjetivo somente encontrado em manifestações, escritas ou verbais, da Esquerda com o objetivo de desmoralizar seus adversários da Direita. Seu uso pretende qualificar o adversário como anti-patriótico, por entregar ao estrangeiro aquilo que pertence ao Brasil.

Mas agora observa-se que é Lula, paradigma da esquerda brasileira, que vem a público, nacional e internacional, entregar à platéia internacional assunto absolutamente interno ao Brasil. Declara, alto e bom som, que a Justiça brasileira nada vale.

Apesar de não ter sido sequer indiciado, Lula achou por bem submeter sua defesa em terras longínquas. Foi buscá-la em NovaYork onde pensa melhor apresentar suas lamurias. Declara assim, urbe et orbi que, a seu ver, a Justiça brasileira é incapaz e parcial, desprezando ter sido a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal por ele indicada. Pretende submeter, então, para vergonha sua e de seu país, seu arrazoado, seus argumentos à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Queixa-se aos estrangeiros, qual menino travesso, da severidade do adulto Juiz Sergio Moro, incumbido de avaliar sua duvidosa conduta. No açodamento daquele que vê-se exposto, Luis Inácio da Silva o faz sem que desta Justiça tenha recebido qualquer condenação. Ainda, seu pretenso algoz não será o Juiz Moro, mas sim o Dr Ricardo Leite, Juiz Federal com base em Brasilia. Este acaba de indiciar o ex-presidente por “Obstrução de Justiça” e vem sendo instado a esclarecer pontos para melhor compreensão dos procuradores sobre atividades que parecem bordejar o ilícito.

Ora, o fôro internacional procurado por Lula, pela própria natureza de seu titulo e responsabilidade, ocupa-se de ameaça aos direitos humanos de coletividades ou, ainda, de opressão e maus tratos impostos a grupos de pessoas. As vítimas de que trata a Comissão seriam aquelas submetidas a atos cuja crueldade e injustiça tornam-se fatos notórios e mobilizam o repudio internacional.

Nada mais longe, portanto, do que julgar um caso individual. Não cabe a esta Comissão julgar se Lula pode ou deve ser investigado, pois é nesta etapa que se encontra o contencioso que no Brasil lhe aflige. Mesmo julgado e condenado, ainda assim não caberia apêlo àquela Comissão por não ser de sua competência. Pode o leitor imaginar qual a balburdia fosse cada qual buscar nas Nações Unidas proteção contra seus crimes.

Na ânsia de livrar-se das acusações que lhe pesam, Luis Ignácio Lula da Silva deu um passo em falso. Tentou vender, por trinta moedas, o respeito à soberania brasileira.



quinta-feira, 28 de julho de 2016

Uma nova visão?

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Em 1848, como se pandemia fosse, as revoluções esparalham-se Europa afora. Uma onda de insatisfação contra o absolutismo político e econômico então reinante empolgou intelectuais e trabalhadores a rebelarem-se contra o status quo.

Na França, foi derrubada a monarquia de Louis Phillippe. Na Itália foi lançada a semente da unificação, desnudando a inutilidade da duzia de pequenas nações que a compunham. Na Autro-Hungría foi abolida a servidão, status apenas um nivel acima da escravidão. Ainda, foi dada a partida para a unificação da Alemanha. Muitos foram outros países contaminados pela rebelião, ainda que sem sucesso. No entanto, o questionamento daquilo que, até então, era o caminho da verdade revelou-se falso e passível de profundas transformações.

Já, as primeiras décadas do Século XXI parece revelar uma nova clivagem, revelando crescente insatisfação com as regras herdadas do Século recém findo. Dificilmente este mal estar causará conflitos igualmente violentos aos do Século XIX, tendo em vista a sofisticação e o poder das forças da ordem, porém crescente parece ser o questionamento quanto aos pilares que sustentam a moderna sociedade Ocidental.

Religião, formulação política, arquitetura econômica, mores, limites cívicos e sociais e outros são e serão, cada vez mais, debatidos, desnudados e questionados pelos milhões que, direta ou indiretamente gravam suas opiniões nas estradas virtuais e nuvens digitais.

Alimentada pela internet e suas redes sociais, por sua vez abastecida por mihões de individuos, ultrapassando a comprometida mídia formal, cria-se uma opinião pública cada vez mais disseminada e pulverizada, tornando-se globalizada. A pluralidade destas manifestação derruba muros conceituais e atenua, se não elimina, o constrangimento imposto por interesses institucionais e econômicos que sustentam determinada sociedade. Permite e estimula, assim, a constante reavaliação dos valores inscritos nos contratos socio-econômicos vigentes, celebrados, até entao, entre o poder (imperfeitamente dito do povo) e os eleitores (imperfeitamente tidos por independentes).

A julgar pelos eventos que cercam as eleições norte-americanas, justo supor-se estar-se nos primórdios de uma revisão do contrato social até então vigente. Parece estar sob suspeita a tese Darwiniana sutentando uma alegada Meritocracia, aliada à crença na eficácia da Trickledown Economy que justifica e propicia o acumulo de riqueza no topo da pirâmide social.

Apesar de derrotado, o Senador Bernie Sanders defendeu e recebeu importante apoio às suas propostas, algumas de cunho socialista, buscando uma política que reverta a acentuada concentração de renda e redução de beneficios iniciada na era Reagan. Até mesmo o candidato Donald Trump, contrariando os principios que norteiam o partido Republicano, defende substancial aumento de salário minimo e extensão universal dos beneficios de saúde.

No momento, a candidata Hillary Clinton parece ter por responsabilidade a manutenção do status quo, ainda que cedendo a demandas pontuais. Obedecerá, provavelmente, o ditame de Giuseppi di Lampedusa: “É preciso mudar para que as coisas permaneçam iguais.”

Por outro lado, sem entrar no mérito das posições opostas assumidas, parece razoável presumir-se que a oposição às regras do jogo até agora vigente sejam contestadas em crescente intensidade.





sábado, 23 de julho de 2016

O retorno das sombras?

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Fazem setenta anos morreu o líder da Alemanha Nazista. Morreu o homem, mas não suas ideias, ideias impositivas, truculentas, racistas, supremacistas. A cortina dos tempos passados, talvez frágil, que separa o público do cruel espetáculo que condenou à morte e sofrimento de milhões de seres humanos não impedirá, necessáriamente, o ressurgimento do espectro

Já, nos nossos dias, numa cidade norte americana envolta em festa democrática para a escolha do novo líder dos Estados Unidos da America, muitas das idéias sepultadas pelo esquecimento ou pela vergonha, se revelaram, não mortas, mas ressurgentes.

O político ungido pela Convenção do Partido Republicano faz lembrar ao observador a ascenção de Adolfo Hitler nos idos de 1933. Visto pelas elites como ridiculo e incapaz, o líder Nazista, graças à sua determinação, audácia e extrema habilidade trouxe à tona e explorou as angustias que deprimiam o povo alemão. Vencendo as etapas democráticas, recebeu os votos que o colocou no cargo de Chanceler* do Estado Alemão. Não tardou a ditadura de ferro.

Não por admiração recondita mas sim por método e circunstâncias, Donald Trump parece tomar o rumo que lembra este passado sombrio, impelido, certamente, por amor a sua pátria. Porém, o candidato, em semelhança ao passado já distante, parece toldado por incompreensão e ignorância que o leva à formulações simplistas e perigosas, estas turbinadas por notável energia, convicçao e ambição.

Ocorrências semelhantes podem ter levado o emergente líder americano a trilhar um comportamento que lembre os tempos já, há muito, sepultados.

A humilhante derrota da Alemana na então chamada Grande Guerra hoje encontra similitude ao preencher o imaginário norte americano diante das sucessivas derrotas sofridas pelas suas forças armadas, desde as retiradas do Vietnã e do Iraque às resistências inimigas no Próximo Oriente. Esta suceção de insucessos macula o psiquê da nação.

A perseguição aos Judeus, vistos pelo Nazismo como cumplices dos inimigos vencedores e, ainda, predadores da riqueza que caberia tão somente à raça germânica lembra, em sua roupagem moderna, a visão adotada por Trump, agressiva e truculenta contra os Híspânicos, responsáveis pela perda de emprego do trabalhador branco, esteio político de sua campanha.

A inflação galopante que levara miséria aos trabalhadores da Alemanha derrotada deu à Hitler o discurso da redenção econômica da classe trabalhadora. Na America de hoje, onde esta classe se vê oprimida por renda contida, falta de oportunidade e concentração de riqueza, Trump vê uma avenida de apoio popular e expansão de seu poder político.

Quanto à política externa, promete Paz, como o fazia a Alemanha de 1938, mas revela, também, sua impaciência, senão contrariedade frente a qualquer insubmissão. Promete, não apenas a construção de um muro, mas a imposição do seu custo à um estado soberano, o Mexico. Declara-se contrário ao Tratado Nuclear celebrado com o Irã sem que tenha, ainda, todas as informações cofidenciais e relevantes que sómente a Presidência lhe dará acesso. Denota truculência quando confrontado.

Concedendo profundo desprezo aos políticos confessa repúdio às práticas democráticas. Donald Trump não revela como pretende prosseguir caso eleito, como impedir a atuação dos políticas contrarios. Hoje, sua mensagem é de primazia de suas ideias na formulação e execução de sua política, onde a paciência e tolerância não despontam.

As similitudes acima arroladas talvez nada sejam mais do que coincidentes, sem maior profundidade de pensamento ou ação. Contudo, difícil ignorar-se os paralelos levantados.

Ao término da Convenção Republicana, Donald Trump enunciou a aceitação de sua indicação para disputar a presidência dos Estados Unidos. Proferiu discurso enérgico, afirmativo. Abordando os mais diversos tópicos de sua misão presidencial, revelou especial enfâse pela questão de Lei e Ordem. Neste momento exibiu expressão autoritária, não revelada em discursos anteriores. Por instante, o rictus totalitário transpassou a natural imagem.

Resta saber se este foi o início do processo psicológico onde, superando todas as expectativas, atinge o personagem o poder inimaginado. Não raro, esta nova condição propicia o sentimento da certeza, da auto-confiança elevada ao nível onde a dúvida é, progressivamente, abolida, podendo chegar, em determinadas circunstâncias, ao sentimento de infalibilidade.

Trata-se de um homem guindado ao poder, inesperadamente. Um homem trazido  à tona pelas correntes de um mar político-social revolto. Ainda assim, apesar da solidez das instituições democráticas norte-americanas, difícil prever-se os  danos que possa causar um líder desatinado.


* Primeiro Ministro

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Duas vertentes

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A América do Norte parece estar, neste momento, sob o arrasto inicial de duas poderosas forças que se formam, sugerindo para breve futuro modificações tectônicas na conformação política daquele país. Não são auto-exclusivas nem, tão pouco, necessariamente convergentes; parecem ser autônomas porém ambas desestruturantes e reestruturantes.

A primeira reflete profunda e crescente alteração na composição étnica da nação Americana. Seu início no Século XVI trouxe às novas terras os desbravadores e colonos ingleses à Virginia e adjacências, formando-se uma economia agrícola. Foram seguidos pelos Peregrinos, também britânicos, já ao nordeste da colônia, onde a vocação e a geografia os levaram à pequena agricultura, ao comercio e, posteriormente, à indústria. Eram todos brancos. A importação de negros para trabalharem a terra não alterou a equação étnica, pois nem categorizados como humanos o eram. Quanto aos indígenas, eram eles os inimigos, assim descartados de qualquer contribuição civilizatória.

Sob o comando destes homens seguiu-se a independência das 13 colonias, transformando-se, em 1776, no embrião da mais poderosa das nações. Instalava-se o modelo político suportado pelos costumes e práticas de um povo irretocavelmente branco. Durante o Século XIX ocorreram as grandes imigrações europeias, trazendo mão de obra, ciência, arte, bem vindas com a condição de integrarem-se à American Way of Life. E assim foi feito. Em 1900 a população norte americana era composta de 88% de brancos.

Constata-se, hoje, uma fragilização da preponderância cultural herdada dos WASP (White Anglo Saxon Protestant), fato que revela um crescente desconforto, tanto no âmbito social como no político. Hoje a participação dos herdeiros culturais dos fundadores viu-se reduzida para 63,7%. Causa-se, ainda, ansiedade a previsão de que, hoje, mais de 50% das crianças nascidas nos Estados Unidos são geradas por famílias pertencentes às minorias.

No ritmo atual prevê-se uma maioria não branca em 2050. Seria, talvez ingênuo, senão imprudente, descartar-se a importância deste terremoto étnico. Como se processará o ajuste que reflita tal mudança, ou, ainda, de que forma saberá o estamento branco impedir que tal mudança se reflita na equação de poder que lhe convêm? Até que ponto medidas que neguem as naturais consequências de uma alteração do perfil demográfico poderão afetar a pureza democrática?

A conquista da candidatura Trump reflete, em boa parte, o mal-estar que se instala no eleitorado branco nas suas esferas mais populares e menos sofisticadas. O apelo explicito contra a imigração e, ainda, a demonização dos hispânicos tão bem recebida por parte considerável do eleitorado Republicano revela um processo de arregimentação contra a tendência indesejada.

A segunda vertente envolve uma reação contra a precipitosa queda da participação das classes médias e inferiores no total da riqueza gerada pela nação. O "American Dream", uma realidade em tempos já longínquos não mais oferece as condições que favoreçam a ascensão social e econômica para o americano médio.  Observa-se o inverso, o enorme acumulo de riqueza e de oportunidades no topo da pirâmide. A lógica fiscal e regulatória  implementada a partir da era Reagan parece ser, em boa parte,  responsável pela estagnação, quando não queda, da renda real das classes trabalhadoras.

A exportação de emprego através da crescente globalização, a substituição de postos de trabalho pela expansão da automação e robotização, a equação fiscal favorável às classes superiores, a falta de investimentos e manutenção da infraestrutura, o alto custo da educação universitária, e, ainda o astronômico custo das guerras, todos estes fatos conspiram para a estagnação, quando não deterioração, da qualidade de vida da relevante maioria dos cidadãos. 

O sucesso, ainda que não vitória, da candidatura Sanders nas Primárias revela o grande represamento da insatisfação popular por ele liberado. Seu eleitorado, composto de cidadãos de todas as etnias, com menos de 40 anos de idade, revela que, a falta de medidas corretivas poderá prenunciar um crescente protesto, desaguando, talvez, em reformulação no seio partidário e no discurso político.

Hillary Clinton, provável vencedora do pleito presidencial, viu-se compelida , face a expressiva votação a favor de um "level playing field"*,  adotaria diversas iniciativas defendidas por seu oponente, no sentido de aliviar as dificuldades enfrentadas pela massa eleitoral Democrata. Revisão fiscal, revisão dos tratados comerciais celebrados, maiores e menos onerosos créditos para a educação, revisão do salario mínimo estariam dentre as medidas revindicadas.  

Ainda, relevante notar-se que o eleitorado que sustenta o partido Democrata distancia-se, étnicamente, da base dos Republicanos. Conta com um relevante contingente Caucasiano, mas, na margem, será o eleitor Latino e Negro que lhe concederá a vitória. 

A clivagem entre as duas forças políticas, acentuada pela ação do internet social, parecem revelar um ambiente político conflituoso no futuro, considerando-se o conteúdo racista que pode agravar-se. Os recentes episódios entre policiais brancos e contestadores negros revivem tempos difíceis, porém num contexto bem mais agudo do que no passado, favorecendo a disseminação de ações anti sociais de crescente violência.

Resta saber se, eleita presidente como provável parece, Mrs. Clinton saberá reduzir as tensões que se acentuam, tanto no campo econômico quanto no demográfico.




segunda-feira, 11 de julho de 2016

Erros passados e futuros


O recém Relatório Chilcot, publicado na Grã Bretanha,  na realidade não trouxe muita novidade. Confirmou aquilo que o público interessado e analistas possuidores de um grau de objetividade já haviam concluído: a guerra do Iraq foi um monumental engôdo além de um erro trágico.

Resultado de imagem para foto aguia americanaEngôdo, no sentido de fazer crer à manipulada opinião pública e alguns governos ingênuos que Saddam Hussein representava uma ameaça desmedida ao planeta em geral e, particularmente, aos Estados Unidos e aliados, especialmente Israel. Pois nada, as “provas” há tempos apresentadas numa teatral reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas nada mais eram do que prestidigitações engendradas pelos serviços de segurança norte americanos.

Decorreu um monumental erro. O que se viu foi uma tragédia, não só pelas mortes e destruição ocorridas mas, tão importante quanto, as sequelas que até hoje sacodem o mundo, dentre as quais a exponencial expansão do terrorismo. Às bombas e rajadas que por todo canto explodem somam-se as maciças ondas de refugiados que alagam uma Europa intimidada. Aquilo que, aos falcões que dominavam Washington parecia uma aventura de custo contido e alto beneficio, transformou-se em incontrolável tempestade cujo enorme custo ainda está por pagar.

Porém, um dos pontos que mais surpreendeu foi a adesão incondicional da “imprensa livre” ao projeto bélico, sem que deixasse à contestação um lugar, à indagação, à dúvida. Numa revivida experiência do Yellow Journalism na virada do Século XIX para XX, a imprensa norte americana aliou-se à uma guerra cujo pretexto fora "fabricado" pelo governo norte americano para expandir seu império às custas da Espanha. 

Já, os grandes jornais,como a New York Times e Washington Post abraçaram a guerra contra o Iraque, para depois constatar-se que faltaram-lhe razões lícitas para iniciá-la.

“Fast forward” para os dias de hoje.   Observamos que algo semelhante ocorre com relação à Rússia. As declarações oficiais e oficiosas sobre, seja o país, seja seu presidente Wladimir Putin, são continuas e negativas. Até mesmo comentários depreciativos, cunho pessoal, alcançam as folhas. Avaliações de experts e Institutos diversos insistindo sobre as intenções belicosas de Moscou aparecem na imprensa quase que diariamente. O clima criado por esta convergência de declarações vem ciando um animus bélico cujo desdobramento poderá redundar, por incidente inesperado, em conflito.

A recente reunião da OTAN, realizada em Varsóvia sob o comando de Barack Obama, concluiu, obedecendo o roteiro elaborado no Pentágono, pela mobilização de 4000 homens, a serem estacionados na Polônia, para “fazer frente à ameaça russa”. Falou-se também em disponibilidade de armamento nuclear como reforço. Aumenta-se, assim, a temperatura. Cria-se um quadro de latente e crescente hostilidade, cuja eclosão depende, cada vez mais, de circunstancias alheias ao contôle.

Contudo, uma análise objetiva da relação Rússia / Ocidente não prece validar o clima de hostilidade observado. Inicialmente, vale lembrar que ao término da União Soviética ocorreu o seu desmembramento. Por iniciativa de Moscou, a independência foi concedida à uma dezena de países que até então pertenciam, há séculos, à Rússia tsarista. Tal iniciativa parece contradizer avaliações ligando a Rússia à uma politica expansionista. Caso tal ânimo existisse, seria bem mais realista e prático iniciar-se esta expansão pela reabsorção destas repúblicas anteriormente descartadas. No entanto, nenhum movimento nesta direção vem sendo observado.

Por outro lado, desde o desmonte do Pacto de Varsóvia e a democratização do Leste Europeu, vem a OTAN arregimentando associados. Desde a Estônia, a Noroeste da Rússia, progredindo pelo centro da região, onde se destaca a Polônia, até atingir a Turquia no Leste europeu completa-se aquilo que a Rússia, não sem alguma razão, reputa ser um cerco militar.

Contudo, afim de resguardar a sua segurança vital, Moscou não tolera a cooptação pela aliança militar Ocidental dos estados tampão que lhe são vizinhos. Dentre estes estão a Bielo Rússia, a Georgia e a Ucrânia. Conforme sugere a história da Rússia, parece razoável antevê-la disposta até mesmo à guerra nuclear para preservar sua integridade.

Por outro lado, Moscou entende que qualquer iniciativa sua contra qualquer nação membro da OTAN redundará em retaliação devastadora dos Estados Unidos e seus aliados, cujo poder militar excede, por larga margem, o de qualquer nação. Uma análise, por perfunctória que seja, rejeita, assim, qualquer aventura Russa em direção à Europa.

No entanto, apesar de inteiramente cientes da “linha vermelha” estabelecida pela Rússia quanto a estes “estados tampão”, Washington não parece conter sua ambição, desprezando as necessidades tidas como vitais à segurança daquela Nação. O faz a grande risco, risco este que será acentuado após as eleiçoes presidenciais nos Estados Unidos. Observando-se o discurso de Donald Trump e a “tough foreign policy” defendida por Hillary Clinton, lícito presumir-se o aumento das tensões internacionais.

Espera-se que, no cenário político que se avizinha, a imprensa mantenha-se livre e imparcial, e recuse acumpliciar-se às agendas políticas que tem a guerra como instrumento para a ampliação de poder.



sexta-feira, 8 de julho de 2016

Terrorismo e vingança



Resultado de imagem para fotos de terrorismoPoucos teriam imaginado que uma organização tão letal quanto a Al Qaeda poderia ser superada no campo do terrorismo. Pois, ao observar-se a incepção e o crescimento do Estado Islãmico tem-se a resposta: o sucessor suplanta o anterior nos danos que pode causar ao Ocidente. Sua ideologia se transmite, não apenas à núcleos organizados, dispostos a tudo, mas, o que oferece ainda maior perigo, à indivíduos esparsos e disseminados através do globo, dispostos a oferecer a vida, motivados pela ideologia da Vingança.

Al Baghdadi, seu fundador, teve por visão o retorno do Califado, que reinaria sobre os povos Muçulmanos. Porém, no âmago de sua proposta observa-se um profundo ódio às potencias Ocidentais. Este ódio, alimentado pelas inúmeras intervenções da Inglaterra, França, Estados Unidos, Israel, Russia e outros ao longo da conturbada história do Oriente Médio, constroe a ideologia que fascina e mobiliza o que parece ser um crescente contingente de fanáticos.

Tendo seu inicio na conquista de alguns territórios na Síria e no Iraque, o movimento ganhou notoriedade e conquistou admiração do enorme segmento que nele vê a oportunidade de retribuir os danos que creem terem sofrido. A insolúvel e sangrenta questão Palestina, o morticínio da guerra do Iraque, o conflito com o Talibã Afegão, ceifador de vidas, muitas delas civis, tornam-se adubo no plantio das queixas, das deshonras, das recriminações.

A primeira etapa, aquela que buscava um Califado geográfico, parece estar no seu término, condenado por uma logística insustentável e uma insuficiência de contingente armado e organizado. Fustigado pelos aviões Russos e da OTAN, pressionados pela aliança xiita, com tropas iraquianas ao Sul, sírias e libanesas a Oeste e pelos sunitas curdos ao Norte, será uma questão de tempo, não muito, para que os centros de Raqqa e Mosul, que sustentam o Estado Islâmico físico, sejam perdidos.

Contudo, a captura deste miolo geográfico dificilmente domará o impeto ideológico do movimento. Mesmo derrotados os grupos armados, a conclusão das ações militares que hoje ferem o Oriente Médio dificilmente garantirão o retorno da paz, tanto na região quanto no mundo. 

Tudo indica que o Estado Islâmico, que já adota em diversas frentes as ações de implacável terrorismo, passe a operar apenas neste módulo. Desprezará fronteiras e limites continentais. Já hoje, pari passu com os combates campais, o terror que espalham atingem alvos inesperados no interior de países longinquos, num extremo o Bangladesh, noutro, os Estados Unidos.

Demonstra uma capacidade de arregimentação só possível quando lastreada por uma mensagem, para muitos, legitimada. De forma surpreendente, os voluntários a uma morte certa se encontram não tão somente nas etnias árabes ou tradicionalmente muçulmanas; encontram adeptos, também, dentre Ocidentais. Em estranhas circunstâncias e coincidências, o descontentamento civilizatório, a repulsa de iniquidades, as injustiças presumidas se desdobram de forma virótica, tornando aliados aqueles irmanados na convicção de serem credores de reparação.

Não parece que esta guerra contra o Estado Islâmico possa ser ganha com tiros e bombas, apenas. Nem, tão pouco, com acuradíssimos serviços de inteligencia. A derrota deste inimigo exigirá do Ocidente, no qual se destaca os Estados Unidos, uma profunda revisão de sua política no Oriente Médio. Nesta não caberá a tão usada e decepcionante tentativa de regime change e nation building pela força. 

Para muitos analistas, chegar-se-a à pacificação, e à consequente derrota do terrorismo somente ao longo de dilatado prazo, através de profunda tolerância cultural, persistente aproximação política e determinado desenvolvimento econômico e comercial. Não, apenas, com bombas.