terça-feira, 28 de julho de 2015

Reflexões sobre um tratado




Não são poucas as críticas e lamentações quanto ao tratado a ser confirmado entre o Irã, de um lado, e d’outro, os Estados Unidos acompanhados pelos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, acrescidos da Alemanha. Escudados na fiscalização da AIEA e na sua inigualável tecnologia intrusiva , os Estados   Unidos, a China, a Rússia, a França, o Reino Unido e a Alemanha dão-se por satisfeitos com o tratado proposto.

Já Israel, rebocando o Partido Republicano norte americano, bradam sua forte  oposição ao tratado proposto e  invoca, como consequência do acordo, o prometido Amargedon,  o Mundo em chamas nucleares. Insistem na forte probabilidade de Teerã  ludibriar  a ampla e continua fiscalização imposta pelo tratado. Assim, sob o crivo dos olhares diuturnos de cientistas, técnicos e espiões, o Irã conseguiria (segundo Netanyahu)  construir clandestinamente artigo tão complexo como uma bomba Atômica.

Ainda, para os Republicanos, a oposição ao tratado oferece duas vantagens, pelo menos. A primeira seria infligir à Barack Obama e seu partido uma derrota suficiente para  dificultar a vitória Democrata nas próximas eleições.Simultaneamente, o apoio aos desejos de Israel garantiria o  apoio econômico atreves do AIPAC (lobby Judaico) e mediante os Super Pacs, relegando o Partido Democrata a contribuições mais modestas.

Tel Aviv, por seu lado, não oferece alternativas ao Tratado.  Como única solução Israel propõe a destruição da infraestrutura nuclear do Irã  (hoje dentro de limites legais do Tratado de não Proliferação). O bombardeio contaria com aviões Israelenses e Norte-americanos. Ainda, como bônus, a destruição maciça somada às sanções ora em vigor levariam o adversário à profunda penúria, inviabilizando a continua influência iraniana  no Hesbollah libanês e na Síria de Bashar Al Assad.

A prevalecer esta “ solução definitiva” , Washington teme que o tiro saia pela proverbial culatra.  Diversas seriam as consequências, vistas como desastrosas, uma vez que o governo Obama defende o  tratado por considerá-lo melhor do que as alternativas. Considera que o risco do Irã obter a bomba nuclear,  sob intenso esquema fiscalizador proposto no Tratado,  é menor do que os eventos que decorreriam da sua rejeição:
1.     
      O ataque aéreo proposto dificilmente destruiria a totalidade das fabricas subterrâneas que se espalham pelo Irã . A  consequente retirada da fiscalização internacional hoje existente,  permitiria ao Irã acelerar a construção de uma arma nuclear, uma vez que já domina sua tecnologia.
2.      
      A atual tendência pró-Ocidental observada em Teerã, sobretudo na juventude, ou seja, nas futuras classes políticas, seria revertida, reiniciando ciclo de ódio ao “Satã Americano”.
3.     
      Caso um Irã rebelde conclua a Bomba, a atual existência de mísseis sob seu comando lhe permitiria um raio de ataque suficiente para ameaçar importantes interesses israelenses e norte-americanos no Oriente Médio. (apesar de incluída, esta hipótese parece extremamente improvável. Serviria, entretanto, como antídoto contra qualquer ameaça à sua integridade.)
4.     
      A posse de arma nuclear pelo Irã levaria a Arábia Saudita, e talvez outras potencias regionais, a obter potencial bélico semelhante. (a disponibilidade tecnológica do Paquistão, irmão de fé Sunita, não deveria ser ignorada).
5.     
      A neutralização do Irã enfraqueceria a capacidade militar do Iraque e da Síria no enfrentamento com o terrorismo do Estado Islâmico.         
6.     
      Os bombardeios e destruição no Irã e a eliminação de sua influência político-militar, causariam potencial desestabilização nos demais países vizinhos.
7.     
      Seria possível, se não provável, o desmonte do sistema de segurança imposto por turcos e iranianos junto às populações Curdas  na fronteira comum.  Face aos conflitos habituais entre estas etnias e os governos nacionais aos quais estão sujeitos no Irã, na Turquia, na Síria e no Iraque, seria razoável prever-se crescentes conflitos.
8.     
      Já nas suas fronteiras orientais com Afeganistão e o Paquistão, a atual influência de Teerã na contenção dos Talibãs poderia se esvair, dificultando a estabilização do governo Afegão.
9.     
      A  hostilidade que rege as relações entre os Sunitas sauditas de um lado  e os Xiitas iraquianos e iranianos do outro, não permite descartar um  aumento de escaramuças entre o recém empossado Rei saudita e seus vizinhos.

Também merecem atenção os países não limítrofes.  Quanto à Rússia, os efeitos serão mais sutis do que diretos. Moscou vê o Cáucaso e o Mar Cáspio como áreas de sua segurança; poder-se-ia dizer o seu under belly. Dificilmente concordará com um Irã desestruturado, indefeso, e , talvez hostil. 

Tanto a China, grande compradora de petróleo Iraniano,  quanto as demais potencias Orientais verão a instabilidade no Golfo Pérsico com maus olhos. Pelo estreito de Ormuz flui o petróleo de relevante interesse para Beijing e seus vizinhos.






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