Putin e Porochenko |
Não é
fácil a compreensão do contencioso ucraniano. Atribuir à Moscou, tão somente, a responsabilidade do
conflito ucraniano talvez seja incorrer em erro. A revolução de Maidan, integrada
por setores radicais de direita, tais como o Partido Svoboda, e estimulada
pelos Estados Unidos e, mais modestamente, pela União Europeia, derrubou o presidente-eleito Ianukovitch,
abrindo as portas do poder ao segmento radical anti-Rússia.
Dentre
as políticas propostas pelo movimento vitorioso, incluía-se a inserção da
Ucrânia na OTAN, assim anulando o princípio consagrado em política externa, que
recomenda a existência de estados tampão separando blocos potencialmente
hostis. Desta forma, Moscou sentiu criar-se vulnerabilidade em grau inaceitável
à sua segurança.
Quanto às
propostas apresentadas pelos setores radicais vitoriosos, estas tornaram-se ameaçadoras à população de etnia russa residente
ao leste do país. A proposta de retirada do idioma russo como segunda língua e
a eliminação de condições existentes de semi autonomia naquela região causou
séria inquietação na população russófona. Tais ameaças, se concretizadas,
poderiam colocar a Ucrânia em situação semelhante à da Estônia, outrora parte
da Rússia Czarista (interrompida no período que medeia as duas guerras
mundiais), onde a população de etnia russa (30%), lá habitando há séculos, perdeu seu direito de cidadania ao separar-se
Talinn da esfera Soviética. Hoje, estes russos-estonianos vivem como
estrangeiros em sua terra natal.
Wladimir
Putin respondeu às duas ameaças em duas formas distintas. À ameaça da OTAN,
revidou através da incorporação da Criméia à nação Russa, assim reduzindo a
eficácia estratégica da OTAN. À ameaça
étnica, colaborou com a rebelião separatista no Leste ucraniano, desestabilizando o governo de
Kiev, encorajando Porochenko à optar por negociações que assegurem autonomia
parcial aos russófilos.
Chega-se,
assim, a novo lance no xadrez que descreve as marchas e contra marchas deste
conflito, já duradouro. A nomeação do imprudente e agressivo Mikheil Saakashvili como governador de Odessa,
importante região vizinha à Criméia, equivale ao pano vermelho balançado face
ao touro. Trata-se de uma "provokatsia".
A escolha
do ex presidente da Geórgia é surpreendente por ser ele responsável, na condição de
presidente da República da Geórgia, pelo
ataque à Ossétia, protetorado da Rússia, em 2008. Seguiu-se derrota
acachapante, a qual lhe valeu o réprobo político em sua terra natal.
Esta
iniciativa do presidente Petro Porochenko parece indicar sua preferência pelo recrudescimento
das tensões, até há pouco minoradas, e a
consequente continuidade do conflito
separatista em sua região Sul e Oriental.
Ao manter
aceso o conflito com os separatistas a Ucrânia parece pretender garantir o suporte econômico e
militar norte-americano e europeu a seu governo. De especial valor será a ajuda
financeira de instituições como o FMI, crucial para a viabilidade, ainda que
temporária, da falida economia ucraniana. Manteria, também, o influxo, quantitativo e qualitativo, do armamento
prometido pelos Estados Unidos. Mas o prêmio supremo almejado por Kiev seria evitar a suspensão das sanções impostas pela UE à Rússia, a ser considerada por Bruxelas no final de julho.
À Rússia, por sua vez, parece interessar o cessar-fogo que resulta na conclusão satisfatória do Tratado de Minsk. O status especial para as regiões rebelde nele está contemplado, bem como a "neutralização" da Ucrânia, assim evitando o avanço da OTAN.
À Rússia, por sua vez, parece interessar o cessar-fogo que resulta na conclusão satisfatória do Tratado de Minsk. O status especial para as regiões rebelde nele está contemplado, bem como a "neutralização" da Ucrânia, assim evitando o avanço da OTAN.
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