quinta-feira, 4 de junho de 2015

Provokatsia!


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Putin e Porochenko

Não é fácil a compreensão do contencioso ucraniano. Atribuir  à Moscou, tão somente, a responsabilidade do conflito ucraniano talvez seja incorrer em erro. A revolução de Maidan, integrada por setores radicais de direita, tais como o Partido Svoboda, e estimulada pelos Estados Unidos e, mais modestamente, pela União Europeia,  derrubou o presidente-eleito Ianukovitch, abrindo as portas do poder ao segmento radical anti-Rússia.

Dentre as políticas propostas pelo movimento vitorioso, incluía-se a inserção da Ucrânia na OTAN, assim anulando o princípio consagrado em política externa, que recomenda a existência de estados tampão separando blocos potencialmente hostis. Desta forma, Moscou sentiu criar-se vulnerabilidade em grau inaceitável à sua segurança.

Quanto às propostas apresentadas pelos setores radicais vitoriosos, estas tornaram-se  ameaçadoras à população de etnia russa residente ao leste do país. A proposta de retirada do idioma russo como segunda língua e a eliminação de condições existentes de semi autonomia naquela região causou séria inquietação na população russófona. Tais ameaças, se concretizadas, poderiam colocar a Ucrânia em situação semelhante à da Estônia, outrora parte da Rússia Czarista (interrompida no período que medeia as duas guerras mundiais), onde a população de etnia russa (30%), lá habitando há séculos,  perdeu seu direito de cidadania ao separar-se Talinn da esfera Soviética. Hoje, estes russos-estonianos vivem como estrangeiros em sua terra natal.

Wladimir Putin respondeu às duas ameaças em duas formas distintas. À ameaça da OTAN, revidou através da incorporação da Criméia à nação Russa, assim reduzindo a eficácia estratégica da OTAN.  À ameaça étnica, colaborou com a rebelião separatista no Leste  ucraniano, desestabilizando o governo de Kiev, encorajando Porochenko à optar por negociações que assegurem autonomia parcial aos russófilos.

Chega-se, assim, a novo lance no xadrez que descreve as marchas e contra marchas deste conflito, já duradouro. A nomeação do imprudente e agressivo  Mikheil Saakashvili como governador de Odessa, importante região vizinha à Criméia, equivale ao pano vermelho balançado face ao touro. Trata-se de uma "provokatsia".

A escolha do ex presidente da Geórgia é surpreendente  por ser ele responsável, na condição de presidente da República da Geórgia,  pelo ataque à Ossétia, protetorado da Rússia, em 2008. Seguiu-se derrota acachapante, a qual lhe valeu o réprobo político em sua terra natal.

Esta iniciativa do presidente Petro Porochenko parece indicar sua preferência pelo recrudescimento das tensões, até há pouco minoradas,  e a consequente  continuidade do conflito separatista em sua região Sul e Oriental.

Ao manter aceso o conflito com os separatistas a Ucrânia parece  pretender garantir o suporte econômico e militar norte-americano e europeu a seu governo. De especial valor será a ajuda financeira de instituições como o FMI, crucial para a viabilidade, ainda que temporária, da falida economia ucraniana.  Manteria, também,  o influxo, quantitativo e qualitativo, do armamento prometido pelos Estados Unidos. Mas o prêmio supremo almejado por Kiev seria evitar a suspensão das sanções impostas pela UE à Rússia, a ser considerada por Bruxelas no final de julho.

À Rússia, por sua vez, parece interessar o cessar-fogo que resulta na conclusão satisfatória do Tratado de Minsk. O status especial para as regiões rebelde nele está contemplado, bem como a "neutralização" da Ucrânia, assim evitando o avanço da OTAN.


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