Mais uma vez, o mundo, conectado e internacionalizado vê,
abismado, mais um assassinato múltiplo, desta vez ocorrido numa igreja. O assassino branco, as
vítimas negras, vitimadas enquanto rezavam pela boa vontade entre os homens,
pela obediência aos ensinamentos de Jesus. O jovem assassino, endoutrinado,
fanatizado por setores que defendem a supremacia branca e a subjugação da raça
negra, absorveu estes ensinamentos e os transformou em guerra racial.
A primeira vista é difícil compreender como um país tão próspero
e democrático possa, ainda, abrigar sentimentos tão racistas. A vitória da
União sobre os Confederados em 1865 teve por resultado a abolição formal da
escravidão. Porém, somente após o projeto da “Great Society”, promulgado no
governo Lyndon Johnson em 1965, foram as legislações estaduais discriminatórias abolidas e suplantadas pela lei federal.
Conclui-se, assim, que a escravidão negra, que chegou aos
Estados Unidos em meados do Século XVII, só encontrou seu fim (ainda
incompleto) trezentos anos depois. Esta cronologia bem indica a estarrecedora
realidade que os negros americanos, habitando os outrora estados escravocratas,
só passaram a gozar (quase) plena liberdade há 50 anos!
Assim, torna-se fácil compreender quão arraigada está a
descriminação racial nos fundamentos de
relevante parte da nação, contaminando brancos com o sentido de superioridade
inconteste, e levando negros à subjugação ou à rebeldia.
Ao quadro se soma o Direito de Portar Armas, inserido na
constituição norte- americana. Este Segundo Amendment,votado
em 1791, pretendia o armamento de milícias defensoras dos princípios
democráticos contra eventuais tentativas autoritárias. Sofreu, contudo,
profunda transformação; em vez de mosquetes e pistolas, cujo recarregamento
demorava cinco minutos, evoluiu-se para armas automáticas com enorme poder
letal. Assim, o intuito de proteger a Nação contra tiranos, transformou-se em
direito individual contrário ao bem comum.
O assassino, Dylann Roof, 21 anos, faz parte de amplo segmento
racista que habita o estado da Carolina do Sul. Influenciado por agremiações
racistas e, possivelmente, pela própria família, levou o jovem à distorcida conclusão que justo seria
declarar guerra aos negros para conter sua expansão. Como que encadeados, os
acontecimentos seguiram, inevitáveis; Dylann recebera, como presente de
aniversário uma pistola, arma do iminente crime. Assim resultou a execução, decretada durante
o culto, de nove pessoas negras inocentes de qualquer violência a ele ou aos
seus.
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