terça-feira, 15 de outubro de 2013

A beira do abismo


As conseqüências são tão graves que difícil é acreditar não haver solução para o confronto em torno da aprovação do orçamento e o aumento do limite de endividamento dos Estados Unidos.  Parece razoável prever-se que o default não ocorra, porém graças a medidas paliativas e temporárias, dolorosamente extraídas no plenário do Congresso. Por outro lado, a solução eventualmente extraída, teria caráter temporário, assim postergando para o futuro próximo uma repetição das angustias e incertezas que ora se observam.

O fracasso das negociações traria para o mundo uma crise de proporções tão amplas que tornariam insignificantes os desastres financeiros do passado. A desvalorização do dólar em decorrência do calote(!)  implicaria em perdas catastróficas das reservas financeiras das nações, paralisação do comércio internacional, interrupção  dos mercados de capitais, projetando o planeta em  depressão  de profundidade inédita. O dólar perderia a confiança imprescindível a uma  moeda de reserva, desorganizando as relações de troca mundo afora.

Porém, mesmo com conclusão favorável, poucas razões parecem existir para o restabelecimento do nível de confiança no governo norte-americano e na moeda do país. O dano causado, pela visível incapacidade dos atores responsáveis pela  política em Washington, perdurará e, possivelmente,  se acentuará. O advento do núcleo Republicano, o Tea Party, ainda que minoritário, empolgou o comando ideológico do partido, intimidando a sua maioria, tornando cada vez mais difícil o diálogo bipartidário.  A exigência Republicana de eliminar as dotações necessárias para a execução do  Obamacare, ou seja, na essência,  o plano de saúde para os pobres,  torna-se inaceitável para o partido Democrata, por tratar-se de lei aprovada e sancionada, pedra angular do programa do partido e do presidente Obama. Em resumo, o partido Republicano quer revogar  uma lei, votada e sancionada,  mediante a eliminação dos fundos necessário a sua implantação.

A divisão ideológica que hoje se observa nos Estados Unidos lembra os tempos da Guerra Civil Americana. Muda o contencioso político, mas constata-se profunda clivagem. O perfil dos dois partidos se distancia cada vez mais, tanto no campo econômico como no étnico. Ainda, os efeitos da atual recessão, trazendo dificuldades à base da pirâmide branca do partido Republicano,  facilita o discurso radical que defende a redução dos benefícios aos pobres, na maioria oriundos de raças não brancas.

Findo, ainda que temporariamente, o atual conflito, o dólar trará o estigma da fragilidade política, levando as nações à procura de diversificação e moedas que possam também tornar-se Reserva, e Washington terá diante de si hercúlea tarefa de reconquistar a confiança de outrora.

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