quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ganância, audácia e outras qualidades.



No seu nascedouro, o banqueiro entendeu que sem confiança não poderia haver negócio bancário.  Afinal, como dar a alguém seu tesouro se o risco de recebê-lo de volta fosse duvidoso?  Assim, a evolução histórica destas instituições essenciais ao desenvolvimento mundial, se não mantivessem a virgindade das Vestais, pelo menos mostravam à sociedade e aos poupadores a imagem de seriedade e responsabilidade.

Sem dúvida, número incontável de bancos soçobrou ao longo da jornada, mas aqueles que cumpriam suas tarefas honrando seus compromissos, assumindo riscos cuidadosos, evoluíram para o que é hoje a liderança da banca internacional. De crise em crise bancária, novas regras, maior supervisão, mantinham o rumo do aperfeiçoamento. Até a chegada dos radicais do “livre mercado”, para quem o perfeito equilíbrio decorreria das espontâneas  e desimpedidas forças do mercado. Defendiam a auto-regulação. O resultado já conhecemos:  a Grande Recessão.  Seguiu-se o conceito de “too big to fail”, quando só a raia miúda, os pequenos bancos regionais,  pagou o preço de sua incúria enquanto os grandes vicejaram irrigados pelo complacente Tesouro público.

Dentre aqueles poucos sistemas bancários que resistiram ao Tsunami está o Brasil, cujo Banco Central tem acompanhado os bancos sob sua guarda, desestimulando os excessos, e punindo os  desonestos e imprudentes. Já no berço do capitalismo, cujas imperfeições afetam o planeta globalizado, vemos o inverso, onde a ganância aliada à irresponsabilidade não redunda em punição aos responsáveis pelas audácias de altíssimo risco. Pelo contrário, o governo norte-americano demonstra preferir multar o banco infrator a punir os profissionais responsáveis, concedendo-lhes extensa blindagem .

Neste momento observamos episódio surpreendente, relatado pelo New York Times, onde o banco  JP Morgan,  o mais nobre dentre os príncipes da banca internacional, é multado em 13 bilhões de dólares por ter induzido a erro dezenas senão centenas e milhares de clientes ao vender-lhes títulos  subprime cujo risco não lhes fora revelado. Mas não cessa o espanto, pois a mesma fonte traz a tona, neste momento, uma possível conivência entre setores deste mesmo banco e o criminoso Bernard Madoff, cuja infame “pirâmide” estarreceu e empobreceu milhares de poupadores.  

Porem, fato mais estarrecedor emana da artimanha jurídica que ameaça manter incólume a impunidade dos eventuais malfeitores. Relata o New York Times que os promotores federais contemplam a aplicação do “Acordo Condicional com a Promotoria” (Deferred Prosecution Agreement) onde o crime seria apagado pelo volume da multa exigida. A prevalecer este artifício, novamente veremos os indivíduos envolvidos fugirem à sua responsabilidade. Por incrível que possa parecer, o Ministério da Justiça (Justice Department) determina que a Promotoria deverá avaliar os efeitos colaterais da denúncia contra  a empresa, levando em conta prejuízos sistêmicos, perda de emprego e outros dados econômicos. Assim, os bancos (e seus dirigentes)  tornam-se por demais grandes, não apenas para quebrarem, mas, também,  para serem denunciados pelos seus malfeitos.


À falta de responsabilização prevalecerá a impunidade, a qual leva à repetição  criminal. Quando virá a próxima crise bancária?

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