No seu nascedouro, o banqueiro entendeu que sem confiança não
poderia haver negócio bancário. Afinal,
como dar a alguém seu tesouro se o risco de recebê-lo de volta fosse duvidoso? Assim, a evolução histórica destas
instituições essenciais ao desenvolvimento mundial, se não mantivessem a
virgindade das Vestais, pelo menos mostravam à sociedade e aos poupadores a
imagem de seriedade e responsabilidade.
Sem dúvida, número incontável de bancos soçobrou ao longo da
jornada, mas aqueles que cumpriam suas tarefas honrando seus compromissos,
assumindo riscos cuidadosos, evoluíram para o que é hoje a liderança da banca
internacional. De crise em crise bancária, novas regras, maior supervisão,
mantinham o rumo do aperfeiçoamento. Até a chegada dos radicais do “livre
mercado”, para quem o perfeito equilíbrio decorreria das espontâneas e desimpedidas forças do mercado. Defendiam a auto-regulação.
O resultado já conhecemos: a Grande
Recessão. Seguiu-se o conceito de “too
big to fail”, quando só a raia miúda, os pequenos bancos regionais, pagou o preço de sua incúria enquanto os
grandes vicejaram irrigados pelo complacente Tesouro público.
Dentre aqueles poucos sistemas bancários que resistiram ao Tsunami está o Brasil, cujo Banco
Central tem acompanhado os bancos sob sua guarda, desestimulando os excessos, e
punindo os desonestos e imprudentes. Já
no berço do capitalismo, cujas imperfeições afetam o planeta globalizado, vemos
o inverso, onde a ganância aliada à irresponsabilidade não redunda em punição
aos responsáveis pelas audácias de altíssimo risco. Pelo contrário, o governo
norte-americano demonstra preferir multar o banco infrator a punir os profissionais
responsáveis, concedendo-lhes extensa blindagem .
Neste momento observamos episódio surpreendente, relatado pelo New
York Times, onde o banco JP Morgan, o mais nobre dentre os príncipes da banca
internacional, é multado em 13 bilhões de dólares por ter induzido a erro
dezenas senão centenas e milhares de clientes ao vender-lhes títulos subprime
cujo risco não lhes fora revelado. Mas não cessa o espanto, pois a mesma fonte
traz a tona, neste momento, uma possível conivência entre setores deste mesmo
banco e o criminoso Bernard Madoff, cuja infame “pirâmide” estarreceu e
empobreceu milhares de poupadores.
Porem, fato mais estarrecedor emana da artimanha jurídica
que ameaça manter incólume a impunidade dos eventuais malfeitores. Relata o New
York Times que os promotores federais contemplam a aplicação do “Acordo Condicional
com a Promotoria” (Deferred Prosecution
Agreement) onde o crime seria apagado pelo volume da multa exigida. A
prevalecer este artifício, novamente veremos os indivíduos envolvidos fugirem à
sua responsabilidade. Por incrível que possa parecer, o Ministério da Justiça (Justice Department) determina que a Promotoria
deverá avaliar os efeitos colaterais da denúncia contra a empresa, levando em conta prejuízos sistêmicos,
perda de emprego e outros dados econômicos. Assim, os bancos (e seus dirigentes)
tornam-se por demais grandes, não apenas
para quebrarem, mas, também, para serem
denunciados pelos seus malfeitos.
À falta de responsabilização prevalecerá a impunidade, a
qual leva à repetição criminal. Quando
virá a próxima crise bancária?
Nenhum comentário:
Postar um comentário