segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ciumes e terrorismo



Qualquer um, de bom juizo, sabe que espionagem é coisa perigosa, sobretudo quando emana  de governo. Mas a agência de espionagem é operada por seres humanos, que com a ajuda tecnológica, adquirem poderes de divindade. O poder da ubiquidade se lhes é oferecido, e o refastelado funcionário não deixará de usar seu poder em beneficio próprio.

Dito e feito; descobre-se agora que empregados da NSA (National Security Agency) espionam maridos e amantes enquanto (não)  buscam terroristas. Prejudicar o concorrente, chantagear o poderoso, vingar-se do inimigo, dar vazão ao preconceito e ao ódio racial é possível. Torna-se esta imensa rede um  perigo real e iminente na medida em que a teia de captura de informação espalha-se através da sociedade.

A frase, "O poder corrompe  e o poder absoluto corrompe de forma absoluta", se aplica seja ao individuo, à grupo e ao próprio Governo. O poder de saber é o maior dos poderes, e saber o pensamento alheio é atingir o saber absoluto.

Pode-se imaginar facilmente onde, não apenas o ciume, mas a cobiça e o ódio, e até a leve antipatia encontram neste novo poder a forma de viabilizar os mais solertes desígnios. Dirse-a que tais abusos não são possíveis, sistemas perfeitos impossibilitam estes desvios. Ledo engano. A possibilidade de descontrole torna-se inevitável realidade. Não ha como controlar sistema que armazena quantidades infindáveis de informação, com a cumplicidade de dezenas (ou centenas?) de empresas, que no seu conjunto empregam dezenas de milhares de indivíduos, cada qual com seu padrão de valores, com suas aspirações, com sua ambição, com seus medos, com seu quadro psicológico. Pois bem, cada uma dessas pessoas pode, em determinado momento, em circunstância favorável, impor sua marca, para o bem ou para o mal. Agrava-se o quadro ao subir o indivíduo  a escala hierárquica (de poder), aumentando, a cada degrau, o perigo da interferência indevida.

Caminha-se, assim, para a "corrupção da inteligência", ou seja,  a continua ampliação de abrangência, alcançando as mais diversas fases da interação humana, buscando a auto-justificativa, distanciando-se dos objetivos originais, porém aumentando o poder de seus dirigentes.  O comando político da nação, acuado pela culpa que lhe será atribuída caso sofra o país qualquer atentado terrorista, torna-se incapaz de assumir o risco político da conter a expansão das "agencias de informação".

Mas, o pior é que  uma crescente rede de espionagem traz o germe que ha de destruir a liberdade individual, sacrificada, como já alertava Hannah Arendt, no altar da "Segurança Nacional".

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Tulipas e Bitcoins


Você compraria uma dúzia de tulipas por 50.000 dólares? Me tomas por maluco? diria o interlocutor. Pois bem, o que agora acontece arrisca ser ainda pior do que o "crash" das tulipas no Século XVII.

Trata-se do Bitcoin. Moeda cunhada nos corredores eletrônicos do Internet, sem qualquer lastro que seja, sem que nenhum orgão governamental o regule. Circula livremente nos fios e ondas  dos computadores, comprando e vendendo serviços e mercadorias! Qual o seu valor? Quantos dólares compra um Bitcoin, ou quantos Bitcoins compram um dólar? Poucos sabem, mas deveriam saber que sua volatilidade é tal que já a levou o Bitcoin à 250 dólares, caindo, em seguida, para 135 dólares.

No entanto, centenas de milhões desta cripto-moeda ja circulam, sendo o valor total equivalente à 1,5 bilhão de dólares.  Uma insituição financeira ja organizou um Fundo de Bitcoins, com o objetivo estritamente especulativo, captando recursos dos investidores, buscando lucro futuro nas oscilações desta nova moeda.

Porém, o que mais revela esta "inovação", tão apreciada pelos neo-capitalistas, é a perda de bom senso, por uma lado, e a pletóra de capital em busca de divertimento, por outro, pois entre o Bitcoin e a roleta pouca diferença parece existir. Como se observa, o acumulo desmesurado de riqueza nem sempre gera  investimentos e mais riqueza; cria também um ambiente ultra especulativo. Este causa enormes prejuizos, não apenas para os especuladores, mas, para aqueles que de boa fé os companham.

A complascência e implícita permissividade das autoridades financeiras dos países desenvolvidos estimulam o espírito do "caveat emptor", o comprador que se cuide! Difícil é entender que a ansia pela inovação, parte do atual credo neo-capitalista, seja vista como necessáriamente positiva para o bem estar do povo. Ora, a derrocada causada pelos inovadores e desregulados derivativos na crise iniciada em 2007, demonstraram claramente a necessidade de supervisão dos Agentes reguladores dos mercados financeiros sobre àquelas instituições e mecanismos que captem recursos junto ao público investidor. Banco Central do Brasil e CVM, atenção!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Repetição?



                                                                  Mesquita Al Aqsa


Temos, hoje, um gradual reconhecimento do Estado Palestino, recebido que foi como membro da UNESCO e como Estado Observador nas Nações Unidas. Os conflitos cessaram, ainda que segmentos radicais de parte a parte, por vezes, provoquem confrontos fatais. Essencialmente, reina um estado de Paz entre Israel e a Autoridade Palestina. O reconhecimento da Comunidade Internacional do direito à soberania Palestina caminha para a unanimidade, assim como a preocupação para com a integridade do Estado Judeu.

No entanto, surge novo obstáculo, cujas consequências, senão interceptadas a tempo, poder'ao tornar-se de extrema gravidade para a paz na região. Para melhor compreensão, vale um pequeno histórico.

Ao ser firmado o acordo de Oslo em 1993, o sonho Palestino de tornar-se um Estado estava próximo. A comunidade Internacional, liderada por Bill Clinton, após décadas de descaso, deu apoio decisivo a Yasser Arafat, e a seu parceiro Isrelense, Isaac Rabin, para o término da cruel ocupação da Cisjordânia.

Em 1995 Isaac Rabin foi assassinado por Ygal Amir, radical judeu, representando a determinada oposição Zionista à libertação Palestina. Apesar do assassinato, o estado de Israel deu prosseguimnto aos termos do acordo de Oslo, levando tranquilidade e esperança de que tão longo conflito chegasse ao fim.

No ano 2000, após o término do governo trabalhista de Ehud Barack, foi eleito o radical General Ariel Sharon, político de reputação violenta, com responsabilidade indireta, determinada pela corte Israelense, pelo massacre de centenas de Palestinos nos assentamentos de Sabra e Chatilla. Assumindo o cargo de Primeiro Ministro, com o apoio do Likud, partido à época radicalmente contrário à independência Palestina, decidiu reverter o encaminhamento pacífico da conciiação.


Buscando provocação que revertesse esta dinâmica positiva, por saber da indignação que tal visita causaria, vista como blasfêmia pelo povo Palestino, Sharon, acompanhado de forte esquema de segurança, decidiu "visitar" o local da mesquita Al Acqsa, onde se situa o terceiro mais importante espaço da religião Muçulmana. Ora, até então, o Monte do Templo era escrupulosamente respeitado pelos Israelenses judaicos, reservando-se a area à exclusiva presença Muçulmana.

O plano de Sharon deu certo. Sublevados, os Palestinos esqueceram os benefícios dos Acordos de Oslo, e lançaram-se, impensadamente, na 2a Intifada. O resultado era de se esperar; após milhares de mortes o exército Israelense sufocou o levante, e simultaneamente apagou os vestígios físicos e politicos do tratado que concedia a autonomia Palestina.

Por isso, causa preocupação as recentes notícias, divulgadas na imprensa internacional. Os jornais noticiam que os Judeus Israelenses, após décadas de ausência respeitosa, agora contestam a exclusividade Muçulmana de acesso ao Monte do Templo onde se situa a Mesquita Al Aqsa. Esta situa-se no coração da parte Muçulmana de Jerusalem, preservado por decisão das Nações Unidas quando da partição da cidade sagrada.

Insinua-se, assim, a repetição da provocação de tempos idos; a cartada desestabilizadora de Sharon, no ano 2000. Qual será a consquência? Estaremos diante de uma 3a. Intifada, com o consequênte retrocesso no processo de paz? Estaremos ameaçados por novo conflito, fonte permanente de animosidade para com o Ocidente?
Talvez seja a hora do Governo Israelense impedir a evolução de movimento extremista, preservando a paz que a todos beneficia.

sábado, 21 de setembro de 2013


Comentários recebidos sobre  A Justiça e o Brasil

Tenho acompanhado os seus artigos, que também são de primeiríssima ordem.
Abraço,
Joaquim

  "Right on" seu artigo Pedro. Parabéns mais uma vez.
Grande abraço,
Felipe

É importantíssima essa modificação, até pq em nenhum outro Tribunal ainda vigoram os embargos infringentes, fato que permite que existam dois pesos e duas medidas nos julgamentos dos cidadãos brasileiros, ou seja, a permanecer do jeito que está existirão sempre os privilegiados.
Carmo

O erro esta no STF julgar crimes comuns para atender aqueles de foro privilegiado. Sendo assim, ele e a ultima e unica instancia, e da margem para se arguir que o reu teria direito a um recurso, uma segunda chance. Eliminado o instituto do foro privilegiado no STF estaria resolvida toda essa confusao.
Abs
Philip

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Justiça e o Brasil


Quando algo de muito grave acontece, o melhor é parar para pensar, refletir, meditar. O resultado da votação no Supremo foi um terrível golpe na Nação, pois revela a fragilidade de nossa Justiça, e sem Justiça não pode haver Nação.

O voto que tanto nos feriu decorreu mais de um sistema,  implantado desde a  República Velha,  ou seja, a criação dos Embargos Infringentes,  do que dos Juizes que julgaram sua procedência. Sem dúvida, Ministros houveram cujo voto foi partidário e comprometido com os réus, mas nem todos. O voto de Minerva foi proferido, e sobre  o Juiz derramou-se, injustamente, creio eu, uma avalanche de injúrias e vitupério.

O Ministro Celso de Mello é homem de ilibada reputação e de profundo conhecimento jurídico. Acredito que seu voto tenha sido sincero. Talvez, excluindo-se aqueles nítidamente partidários, outros tenham seguido sua consciência, ainda que contrária a preferência da sociedade. Não é fácil desdenhar-se benefício ao réu, inserido ha décadas, no regimento interno do Tribunal. Tal ato talvez pecasse pelo, e arcaria com a fragilidade, do  casuísmo Acresce que Celso de Mello manteve-se coerente durante todo o julgamento do Mensalão, votando e reafirmando sua convicção jurídica de condenar os culpados, o que lhe confere a estatura de homem probo.

Agora, o que importa, parece-me, é mudar a causa fundamental, ou seja, a existência dos Embargos uma vez proferida a sentença pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. O conceito de permitir  intermináveis prorrogações segundo o atual  Código Processual, fere a Justiça por atrazá-la, até mesmo paralizá-la.  A eliminação desta singularidade jurídica na Côrte Máxima da República, deve merecer, a partir de hoje, o amplo repúdio da sociedade Brasileira, pois deles valer-se-ão os futuros criminosos. Existe, hoje, no Congresso, projeto de reforma do Código Processual, que deveria merecer a atenção das redes sociais, no sentido de impor o seu ndamento.

Creio que mais eficaz será a luta contra este instituto legal, os Embargos Infringentes,  contrário ao interesse nacional, por facilitar a impunidade que grassa no país, do que dissiparmos nossa imensa energia coletiva acusando este ou aquele Magistrado. Lembremo-nos, que mesmo imperfeito, o Supremo Tribunal Federal é a última linha de defesa de nossa Democracia.

domingo, 15 de setembro de 2013

Comentários recebidos sobre Repensando a República

Não pode mais haver dúvida sobre a "ilegitimidade" de um processo eleitoral que expropria a vontade do eleitor redirecionando seu voto para eleger um candidato diferente daquele em que votou e talvez de um outro partido. Mais simplesmente: o eleitor brasileiro não sabe quem seu voto elege, só sabe em quem votou... Deputados estaduais, federais e vereadores representam o povo. Mas nós, o povo eleitor, não sabe quem o nosso voto elegeu e não tem a quem cobrar o que fez o SEU representante - ja que não lhe permitem saber quem ele é. A democracia brasileira funda-se assim no anomimato da representação popular. Os "representantes" não devem pessoalmente contas a ninguem e agem na liberdade de seus o interesses pessoais. O problema é que macacos sensatos não serram o galho em que estão sentados. Assim sendo, quem vai mudar o sistema eleitoral para que nós saibamos quem nosso voto elegeu? Só nós podemos, e nossa única arma legítima é o nosso voto. Manifestar é ótimo, mas uma urgente campanha por uma maciça em Repensando a República

Edgar F em 15-9-13



Caro Pedro
Análise e conclusão irretocáveis.
abs

Paulo R em 15-9-13

sábado, 14 de setembro de 2013

Repensando a República


Parece haver consenso sobre a contribuição das recentes passeatas em prol da moralização, da educação e da saúde, em fim, da boa governança. Seria preferível que tais revindicações se fizessem pelos canais democráticos, ou seja, através dos políticos e seus partidos, sobretudo daqueles da oposição, uma vez que trata-se de crítica à atual incompetência que emana de Brasilia. Porém, o caminho institucional se revelou inoperante, pois para o povo, não mais parece haver diferença entre os políticos da situação e aqueles da oposição. Daí o recurso às ruas.

A mensagem parece clara. A desmoralização das instituições tornam-se prenúncio de revolução, não armada, mas na busca de mudança na estrutura republicana, por ser ela considerada inacapaz de prover aquilo que o povo demanda. A legitimidade de um governo, ou do seu formato constitucional, depende do entendimento entre governantes e governados que o bem comum seja a argamassa de sua razão de ser. Por bem comum entenda-se que todas as classes sócio-economicas sintam-se beneficiadas pelo processo político, dentro da relatividade de suas aspirações. Caso contrário, o estamento político será visto como um ser que visa unicamente sua permanencia no poder, de onde extrai as vantagens dele decorrente, para os políticos e sua Corte, esta composta pelos apaniguados e familiares.

Tendo o poder como unica missão e responsabilidade, descura a classe política do interesse comum imposto pelo contrato social que cria o Estado Democrático.

Observamos, hoje, que o cerne do processo eleitoral, ou seja o voto, tornou-se objeto de comercialização, cuja obtenção e captura é entregue a marketeiros tendo por meta a compra da opinião pública, onde bilhões de Reais dominam e direcionam os meios de comunicação. O "voto  independente" torna-se, cada vez mais, uma ficção.

Ainda, a perpetuação de determinados políticos no poder, distanciam-nos, cada vez mais, dos reais interesses de seus eleitores, fazendo-se a continua recondução ao poder mediante intricados conchavos que o próprio poder lhes confere. Por exemplo, temos próceres políticos cuja longa permanencia no poder em pouco ou nada compensa seu eleitores, sendo estes, muitas vezes,  relegados à indigencia social. Os últimos ídices de Desenvolvimento Humado, elaborados pelas Nações Unídas, nos revela a coïncidência do longo mandato e sua baixa contribuição ao desenvolvimento social. Outros manteêm-se no poder dando a seus eleitores beneficios que ferem o bem comum, antecipando vantagens incompatíveis com o orçamento equilibrado. Muitas são as benesses oferecidas que terminam por aviltar a moeda e condenar o povo ao sacrificio da inflação.

Constata o povo Brasileiro, representado pelas diversas classes sociais, que o atual sistema político exige urgente aperfeiçoamento , condição que desagua na imperiosa necessidade de empreender-se uma Reforma Política, sem desrespeitar o direito a voto. Não só os políticos, mas também a alta magistratura,  acompanhada pelos representantes do mundo empresarial, das classes laborais e, sim, de representantes das Forças Armadas devem unir-se, o quanto antes, sob, e aí vai uma sugestão,  a mediação do presidente do Supremo Tribunal Federal, na missão de aperfeiçoar a hoje  maculada democracia brasileira.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

COMENTÁRIOS  RECEBIDOS REF "QUEM PERDE QUEM GANHA,,,"

muito bom.
compartilhei no Facebook.
Obrigada!, Cristina

Acho q de todos, o maior perdedor é o Obama, q nesta questão decepcionou todo mundo!
 Carmo

Excelente Pedro, parabéns!
 Forte abraço,

Eduardo

quarta-feira, 11 de setembro de 2013




QUEM PERDE QUEM GANHA...

Súbtamente, o pária (sob o ponto de vista de Washigton) Wladimir Putin, toma nas mãos, a iniciativa sobre a questão Síria. Encontrando  caminho alternativo à proposta dos defensores da violência, Moscou deu-se ao traballho de procurar uma solução pacífica, evitando assim de perder, pelo menos por enquanto, sua base naval na costa Síria. Esta base, de enorme valor estratégico, dá à Russia "um pé" no Mediterraneo, históricamente vulnerável pelo potencial fechamento dos estreitos do Dardanelos e Bósforo.

Ganha o Papa Francisco, cujo apelo à solução pacífica desta controvérsia, imprescindível para a redução dos ódios no Oriente Médio, onde as comunidades Cristãs estão sob constante assédio dos rebeldes Sírios. A recente ocupação, por forças  hostís Sunítas, resultando em precipitada fuga dos habitantes desta aldeia secular Cristã, é emblemática.

Ganha o Brasil, cuja postura tradicional e multipartidária, em pról da Paz, insistindo na negociação diplomática para questão Síria dentro do âmbito das Nações Unidas, confere ao nosso país o "gravitas" necessário para justificar sua ascenção ao Conselho de Segurança da ONU.

Ganha a União Européia que, atropelando as atitudes belicistas dos governos Britânico e Francês, recusou apoio à proposta de Washigton, optando por seguir  as determinações das Nações Unidas.

Ganha a China, sempre incomodada por incursões militares Norte-americanas, por serem elas prescedentes de consequência contrária aos interêsses de Beijing.

Ganham o Irã e o Iraque, aliados xiitas de Damasco, receosos de uma vitória Sunita e hostíl, às suas portas.

E ganham as populações, nas Américas, na Europa, e boa parte da Asia, onde as pesquisas de opinião revelam repúdio à solução armada e  apoio ao processo negociado.

Já as perdas se pousam, sobretudo, aos pés do Premio Nobel da Paz, que, contrariando seu perene discurso no repudio à guerra (exceptuando-se os "drones"), vê-se cair na armadilha mais surpreendente, sugado pelo roda-moinho do Oriente Médio. Barack Obama, expressamente desprezando a ONU, cortejou o desastre político ao desafiar as pesquisas e os políticos Republicanos e Democrátas, à sua proposta de ataque limitado. Às vésperas de uma possível derrota no âmbito doméstico, recebeu do presidente Russo o golpe de misericórdia, sendo obrigado a submeter-se, preliminarmente, às Nações Unidas. Acentuou sua canhestra condução da matéria ao insistir que se reserva o direito de atacar a Síria, caso a decisão do Conselho de Segurança não lhe agrade! Singular forma de negociar!

Perdem tambem a Grã Bretanha e a França, ao apoiarem o caminho da guerra apesar dos constrangimentos orçamentários, das pesquisas contrárias  e de ser o Primeiro Ministro derrotado no Parlamento Britânico e o segundo, o Presidente François Hollande,  em vésperas de sê-lo.

Tristes estarão as monarquias do Oriente Médio, tais como a Arábia Saudita, o Quatar, o Bahrein. Ainda pretendem esmagar os Xiitas da Síria, assim também reduzindo a proclamada ameaça Iraniana. Se lamentam terem perdido a contribuição Norte-americana.  Perde tambem a república Turca, hostíl a Assad.

Israel, satisfeito com a matança mútua entre as facções Sírias, lamenta-se não ter a ajuda de seu aliado preferêncial, os Estados Unidos, na destruição da infraestrutura militar de seu histórico inimigo. Vê, ainda, a sobrevivência do regime Assad, aliado do Irã, como ameaça permanente à integridade do Estado Judeu.

Mas, para aqueles que acreditam na previsibilidade do dossier Oriente Médio, que ponham as barbas de molho. A questão não esta definida, pois agora tudo depende da concordância de Bashar  Al Assad em cumprir, e de forma aceitável, o que Moscou propos à Comunidade Internacional.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Um jogo de poker



pokermaestros.es

Tenho amigo, o Ariovaldo,  que todos os meses se reune com seus companheiros para um jogo de poker. O grupo é grande, são uns dez. Ari, assim o chamamos, é um cara estranho. Muito cordial e brincalhão, sofre mudança de personalidade, oscilando entre arroubos socialistas e pretensões capitalistas, deixa os que o conhecem por vezes atônitos. Ele mesmo não sabe muito bem o que quer, mas tem boa índole, e nunca fez mal a ninguem.

Quando toma seu lugar, já entra um pouco intimidado com seu  dinheirinho, especialmente quando Jon Sam chega brincalhão, contando piada, dando gorgetas à empregada. O sorriso é constante, mas não esconde um brilho no olhar que parece dizer que está ali para ganhar.

À mesa, juntam-se otros. Pancho Azteca, com seu falar que acaba sempre em nota superior do que a do começo. Tem o sizudo Fritz, sempre correto, sem muita brincadeira, esperto pra caramba, com tendência a dar porrada quando a turma se distrair. Tem o eterno Jacques d'Arc, sempre falando, argumentando, intelectualizando até a encomenda do sanduiche. E não esquecer o barrigudo John Bullox; educadérrimo, incapaz de um deslize protocolar, mas não esconde a sutíl arrogância daqueles que tudo tiveram, mas não mais o tem. É primo do Joe Sam. Ainda, tem um cara bastante complicado, chamado Ivan Sovorov. Não ha simpatia entre ele e Joe, mas se toleram , pois na hora do aperto os dois têm como aumentar o cacife, muito além dos demais. Os participantes remanescentes são variados, pois nem sempre tem o dinheiro para o cacife. O próprio Ari só entrou pra valer no jogo, faz pouco tempo.

Pois bem, na última Sexta Feira, 13 de Agosto, o jogo começou. As cartas foram distribuidas por Fritz, com aquela  precisão que provoca tanto a admiração quanto a irritação. Mas tudo correu bem. Como de hábito, Joe sempre com sorte. As cartas o favorecem. Sabe bleffar como ninguem, e não cai no bluff do adversário. Parece saber as cartas do outro.  Com ele, ninguém paga pra ver.

Passado algum tempo, chegou a hora do cafézinho. Todos convesam com todos, pois alguns convidados nem jogam.   Um pouco afastado,  Ivan tem longa conversa muito com um amigo.  Parece séria. nada de sorrisos. O amigo, um tal de Eduardo Neve, tomava a palavra, e Ivan, quieto, ouvia.

Quando volta à mesa de jogo,  Ivan começa a fazer pequenos comentários. Inicialmente pareciam desconexos, mas, pouco a pouco, parecia se referir a Joe Sam. Este, esperto pra valer,  fingiu não ser com ele, mas, já na quinta intervenção, começou a perder a calma.

_  No  poker não é facil  fazer tanto bluff bem sucedido. Tenho uma avó que tentou e  acabou na ruina, disse Ivan com largo sorriso.

A turma, cansada de passar ficha para o Joe Sam,  gostou. Mas não Joe, cujos traços tornaram-se crispados, seus olhos semi cerrados, sua expressão gelada. Se pudesse, sua face teria se tornado rubra. As piadas se seguiram na medida que o amigo de Ivan,  lhe passava bilhetinhos.

Aí deu-se a balbúrdia. O jovem Neves, incontido,  passou a mandar os bilhetes para todos na roda. Começaram os sussurros, passando para a meia voz, e, finalmente, os protestos afloraram em grande tumulto. O Joe Sam estava trapaceando. Tinha conhecimento das cartas adversarias, assim explicando o seu sucesso constante.

Foi um pandemonio. Gritos indignados, ameaças, recriminações, protestos. Todos falavam, ninguém ouvia, exceto, é claro,  Joe Sam. Desmascarado, a todos surprendeu. Com palavras ponderadas, explicações respeitosas, e até demonstração de carinho para alguns parceiros :

_ Meus amigos, para que tanta inquietação. Jogamos ha décadas e estamos todos felizes. Lembrem-se que, por vezes salvei da iminente bancarrota este ou aquele bom parceiro, para que pudessemos continuar a jogar.
_ E Você a ganhar!  - não se conteve Ivan
_É verdade, meu caro Ivan, mas quem o livrou do comunismo? Sejamos sensatos. Afinal, quando do aperto, quem está aqui para salvá-los?
_ Então basta. Voce ja é, de longe,  o mais rico de todos nós. Nâo é maneira de tratar seus  amigos. Dê-nos a chance de jogo leal. - retrucou o ingênuo  Ariovaldo.
_ Sejamos cordatos e realistas. Vou continuar a jogar à minha maneira. Se quizerem sair do jogo, não tem problema... mas pensem bem... Que me dizem?

Pouco a pouco, alguns com um sorriso cínico escondendo o enfado, outros com olhar envergonhado, e outros, muito poucos, pensando em retribuição, voltaram à mesa. E o jogo recomeçou.