quinta-feira, 9 de junho de 2022

Admiravel mundo novo*



O planeta Terra atravessa uma nova era de reposicionamento político-estratégico das grandes potencias e das nações subsidiarias. Diversos fatores impõem uma revisão de conceitos, tornando obsoletos os fatores outrora relevantes.  O advento e o aperfeiçoamento da cibernética, da comunicação instantânea, da inteligência espacial, dos satélites-espiões, dos foguetes, dos robôs e das armas anulam e fragilizam os antigos conceitos de segurança nacional. 

A guerra que ora se trava na Ucrânia lembra o  teste de novas armas e táticas quando da guerra civil espanhola cujos ensinamentos abriram as portas para a blitz-krieg nazista. O uso de novos recursos hoje redesenha o campo de batalha ao ameaçar a supremacia dos blindados, dominantes na segunda guerra mundial. Ainda, o afundamento do poderoso cruzador russo, o Moskva, graças a um par de mísseis disparados por drones abre um novo capítulo nos manuais de guerra naval. Ainda, o infante, antes relegado a um papel de suporte, hoje adquire novo poder ofensivo graças às novas armas portáteis.  Uma revolução técno-tática e estratégica está em curso.

Estas mudanças bélicas influem no jogo de poder entre as nações dominantes. As grandes distâncias se tornam pequenas, derrubando a proteçaõ que outrora traziam, assim tornando todas as nações vulneráveis. Porém, pouco mudou a logística do comércio e seus efeitos econômicos. Gargalos e longas distâncias perduram nas vias marítimas e ferroviárias, tornando-se o Calcanhar de Achilles da China, carente de petróleo e alimento. 

Na área financeira a batalha se travará no éter devido à interceptação digital dos canais financeiros, abrindo caminhos e fechando portas, fragilizando o fluxo que alimenta as nações. No caso de conflito, a segurança das rotas de abastecimento se degrada, neutralizando os benefícios da globalização do comércio.

Quanto à mente humana, esta permanece igual, com suas mesmas reações através do tempo, de amor e ódio, de generosidade e cúpidez, de tolerância e rejeição. Enfim, todos aqueles sentidos que alimentam o ser humano, que elevam ou amesquinham o ego, tanto no pessoal quanto no coletivo. O desejo de dominação é perene e, na medida em que o coletivo se expande e altera o equilíbrio de forças, surge a disputa pela supremacia entre tribos e nações. 

O  advento da  Era Nuclear, esta turbinada pela Era Digital, oferece ao frágil Homem o poder supremo da  distruição planetária. Joe Biden e Vladimir Putin, ao rejeitarem as pretenções recíprocas de dominação, não souberam entendê-las e negociá-las. Acuado por Biden pela expansão da OTAN, Putin cai em armadilha e comete relevante erro estratégico ao invadir a Ucrânia. O custo para a Rússia é colossal pois afastou a tímida porém crescente aproximação européia, caminho essencial à sua redenção política e econômica após o desmonte soviético. 

Para os Estados Unidos o preço também é relevante, pois se coloca face à um inimigo ativo, antes dormente, cuja visão nuclear difere da norte-americana assim criando uma zona de incompreensão cultural e estratégica potencializando as vulnerabilidades mútuas. Neste ambiente hostil e incerto a dúvida quanto às intenções adversárias torna mais provável o, até agora impensável, conflito nuclear.  

Ainda, a débito dos Estados Unidos, apresenta-se a questão chinesa, onde por iniciativa americana vê-se aumentar a hostilidade. A posição de Pekim, próxima à Rússia por razões estratégicas e comerciais, adota calma oriental face às posições hostís de Washington e oferece aos estrategistas americanos o desconforto de sua ambiguidade. Adicionando-se à perene ofensiva comercial chinesa no entorno asiático, africano e sulamericano, a "questão Taiwan" cresce em importância levando os Estados Unidos a dividir atenção e recursos à duas frentes consideradas inimigas. 

E assim abre-se a Caixa de Pandora que traz ao mundo a angustia da incerteza e o germe da discórdia e da destruição. 

 

* Minhas desculpas à Aldous Huxley

  






 






 


domingo, 29 de maio de 2022

Armas e Liberdade

Bolsonaro conclama os brasileiros a se armarem, e, assim, garantir a liberdade. Ainda, insiste em promover as armas "nas mãos do povo" para combater a violência. Seriam tais declarações validadas pela lógica? 

Importante perguntar-se a que liberdade  se refere o presidente? Contra qual ameaça se pronuncia? Não existe no país, desde o término do regime militar, qualquer constrangimento às instituições garantidoras da democracia e aos direitos do cidadão. Hoje, apenas às Forças armadas e às polícias  cabe o combate a subversão institucional  e a violência, ou seja. garantir a liberdade e impedir a violência. 

Já, a defesa da vida e da propriedade, legitimamente, cabe ao cidadão.  

Ao estimular atravéz dos meios de comunicação a compra de armas. Jair Bolsonaro cria um potencial de violência de difícil contrôle. 

- Favorece a formação e fortalecimento de milícias direcionadas ao crime

- O mesmo se aplica à facções com objetivo sócio-politico-ideológicos.

- Estimula a belicosidade política, adicionando a arma à palavra.

- Facilita a proliferação de atentados de toda a natureza, inclusive aqueles decorrentes de desequilibrio mental.  

Uma avaliação de países com liberdade de compra de armas (Estados Unidos) e aqueles que as limitam (Europa) evidencia a imprudência  do "laissez faire" adotado no governo atual. Em recente gráfico no New York Times, a morte por atentado de crianças norte americanas superou todas as outras causas. Ainda, as mortes por arma de fogo por grupo de 100.000 pessoas nos Estados Unidos supera, em muito, aquela observada na União Euroipéia. 

Já, tratando-se do Brasil, as elevadas mortes por arma de fogo por habitante estão abaixo dos Estados Unidos, porém, muito acima da Europa. 

Se o quadro que se observa no país é preocupante, pior será com o cenário libertário defendido por Bolsonaro. Importante notar-se que a conjuntura político-eleitoral que se avizinha trará a exercebação dos ânimos, prevendo-se choques dentre as facções políticas. Ainda que baixa, a probabilidade de recurso às armas não deve ser descartada. Discursos inflamatórios de parte a parte poderão tornar-se extremamente grave.

O quadro internacional publicado pelo New York Times revela a incidência de tais mortes sendo as tonalidades vermelhas as mais intensas. Nele tanto os Estados Unidos quanto o Brasil despontam. 

A ver...

alth







segunda-feira, 23 de maio de 2022

Em busca de um melhor equilíbrio


Enquanto nos séculos anteriores a evolução no ensino, na economia, na ciência, e nas armas ocorriam lentamente, em ritmo de progressão aritmética,  hoje, impulsionado pela cibernética  a progressão tornou-se geométrica.

No recém passado, a dificuldade do Estado em satisfazer as necessidades físicas e intelectuais das grandes  massas populacionais, estas ignorantes e mal nutridas,  tolhia o desenvolvimento  econômico, Hoje, com o benefício da cibernética, o apreendizado em massa torna-se elemento de aceleração do conhecimento popular. abrindo portas antes fechadas. 

Contudo,  o projeto de enriquecimento do país só será factível, realista e eficaz caso a priorização dos fatores seja harmoniosa, abrangendo os interesses tanto da base da pirâmide quanto do seu cume.

Já, o Brasil, perdido dentre confusas e contraditórias ambições, mergulhado nos desvios que obscurecem as prioridades nacionais, dominado por uma cleptocracia, dificilmente se valerá dos benefícios sociais e economicos que a cibernética oferece. 

Sem a viabilização econômica e social da base populacional brasileira não haverá o avanço tanto cultural quanto econômico; o país estará  condenado à mediocridade. Contentar-se  com a tese néo-liberal do "trickle down economy", onde o enriquecimento dos andares superiores irrigariam o crescimento da base seria um erro como demonstra nos Estados Unidos, o mais relevante dos laboratórios econômicos do planeta. Lá as classes médias, remediadas e pobres têem sua renda estagnada enquanto o PIB mantem sua ascenção, aumentando a desigualdade.

Para estimular a atração popular pelo capitalismo seria imprescindível nivelar as regras no campo fiscal (level playing field) e potencializar o ensino a baixo custo. Ganharia ela substância se houvesse uma reformulação fiscal onde o ônus recaísse, proporcionalmente, sobre as maiores fortunas, estas hoje protegidas pelos "loop-holes" (artifícios fiscais) beneficiando-se de proteção codenável. 

Tal remanejamento permitiria privilegiar a educação, a saúde, o ensino, a moradia, o transporte  essenciais à mobilização de todas as classes no projeto de crescimento brasileiro. A complascência para com a favelização, mental e física, do lúmpem ameaça a integridade da nação.  Parece ser essencial a incorporação econômica, cada qual na sua capacidade, de todos os brasileiros.  Sem fazê-lo, ter-se-á um crescente distanciamento entre as classes que compõem a demografia sócio-econômica, assim fragilizando a democracia e a nação.

A correção destas imperfeições não reside no empobrecimento das classes que compõem o topo da pirâmide. Pelo contrario, preservado o livre jogo do mercado, delas decorrem os investimentos que alimentam a prosperidade nacional. Porém, ao Estado cabe corrigir e equilibrar as situações monopolístas e privilegiadas, onde, pela sua natureza, as forças do mercado são distorcidas.

Neste sentido, a experiência europeia nos ensina que o capitalismo moderno, respeitando a economia de mercado, tembém é viável, num quadro de coordenação construtiva de todas as camadas que compõem a pirâmide econômica da Nação.

terça-feira, 10 de maio de 2022

A construção de um Golpe

                                                                 

                                                               



Os primeiros passos que ameaçam a democracia estão sendo dados graças à crescente cooptção de militares pelo Planalto.  Dentre seus aliados têm-se a atração do estamento policial pela concessão de contínuas benesses, a mobilização dos camioneiros com opoder de paralizar o país e têm-se, ainda, a inserção de um oficial general, partidário do presidente no Conselho de Transparência das Eleições.

Além de ser injustificável a presença de um militar na composição de um tribunal civíl, seu  conhecimento especializado da guerra, do conflito armado não o qualifica para julgar procedimentos civís. Pelo contrário, sua experiência de vida e formação castrense o distância das questões administrativas e políticas do país. Tem ele por missão defender o Estado, não administrá-lo. 

A combinação das duas funções do indicado, civíl e miliatar, resulta em insanável conflito de percepções  e métodos que prejudicam a formulação republicana que deve pautar o governo. O cumprimento de ordens, essencial á profissão militar, é, no seu âmago, contrário ao exercício da democracia. Assim ensina a História do Brasil. 

Com a indicação de um General fiel a Bolsonaro para a Comissão Constitucional Eleitoral ter-se-á a presença de militar cuja ascenção se deu graças ao candidato-presidente. Por consequência, estará comprometida a necessária imparcialidade, pois, ao contrario dos juizes que gozam de vitaliciedade em seus cargos que lhes permite a isenção de suas decisões, a indicação do general é apenas temporária tonando-o suscetível à pressões e preferências políticas.   

O procedimento judiciál, para ser eficaz,  deve pautar-se pela independância dos juízes e repelir o conflito de interesses. A Comissão Constitucional Eleitoral, como orgão de assessoria ao Tribunal Superior Eleitoral, isento por natureza, exige a mesma imparcialidade.

A ambiguidade que gera tal indicação permite prever-se desdobramentos nocivos à tranquilidade politica-eleitoral em outubro; dependendo da progressão na contagem de votos, caso seja ela favorável ao candidato Lula, é razoável prever-se o questionamento da lisura do processo eleitoral. Se assim for, cria-se uma crise política, terreno fértil para a instalação de regime de exceção e manipulação constitucional.

 



terça-feira, 26 de abril de 2022

Interrupção

 

Aos bons leitores, esta coluna, por razões temporárias e necessárias, será interrompida por breve  período.

       Pedimos a sua compreensão.


                                          Pedro Leitão da Cunha





segunda-feira, 18 de abril de 2022

Hoje e Amanhã



Tempos de eleição. O Brasil politico abandona toda pretensão de interesse público e volta-se, vorazmente para a captura dos votos que lhe trará o Poder material. Sim, porque em última análise, o gozo do poder se materializa com benesses e privilégios distribuídos aos protagonistas e seu entorno. 

Poucos serão aqueles que buscam a longínqua aprovação da história, o respeito da sociedade e a honra a de seu nome. Pelo contrário, a pressa está sempre presente, qualquer artimanha será válida. Vê-se a  formação de verdadeiras quadrilhas no ambiente parlamentar, abrindo as portas ao saque do erário, seja direta ou indiretamente;  neste quesito nada supera os manipuladores do Centrão, pois o fazem de forma legal, sem o risco que traz a ilegalidade. Alteram as leis...

Hoje, este aglomerado político torna-se o protagonista do cenário brasileiro,  deslocando o Presidente de líder para subordinado e cúmplice. A Criatura, antes dispersa, hoje engole seu Criador e assume a iniciativa. Todas as energias são agora direcionadas para a vitória eleitoral; os mais diversos grupelhos antegozando as delicias que lhes trarão as Chaves do Reino. 

Por resultado, a lei se degrada, vítima de manobras e artifícios engendrados por uma emergente e voraz  maioria parlamentar; o Erário se avilta com avenidas secretas longe dos olhos do eleitor; a Educação se torna acéfala por inconstância de sua liderança; a Saúde subordinada à politização de suas decisões; a Política Externa se atrapalha com objetivos imediatistas e contraditórios; a Economia torna-se cúmplice do movimento "fura teto"; e, como se o Ministério da Religião houvesse, o proprio Senhor é constantemente recrutado para validar as alianças e projetos monetários...

E quanto ao futuro próximo? Será a vitória nas urnas fonte de alegria para os vencedores?  Pouco provável. As correntes desordenadas que se entrechocam nas profundezas da Nação hão de trazer conflito e ansiedade. Cada vez mais, a formulação democrática perde prestígio, tanto na base quanto no cume do tecido social, buscando, na sua crescente decepção, o autoritarismo como solução. 

A anomia política que se observa revela a perda do poder de bem administrar um país, hoje na beira da indigência social. Urge reverter o crescente empobrecimento do lumpen através do investimento maciço na infra estrutura social constituía pelo conjunto Saúde, Educação, Transporte  e Habitação. 

Sem contar com esta infraestrutura, a desejada superestrutura económica, geradora da riqueza que um regrado capitalismo pode trazer à Nação, o atual "projeto Brasil" torna-se entrópico. Vive o "voo da galinha" que tem caracterizado o percurso econômico do país ao longo dos anos.

O equilíbrio fiscal, agravado pelos "loop holes" tributários que oferecem à uma pequena minoria do universo fiscal brasileiro as brechas tributárias, levando o fisco a compensá-las junto àqueles  contribuintes, pequenos e grandes, que optam pelo cumprimento integral de sua obrigação fiscal.  

Agravando o quadro tributário, o imposto sobre o consumo tem por resultado onerar mais do que proporcionalmente as classes de renda  modesta; sua redução seria amplamente compensada pelo fechamento das brechas que hoje beneficiam muitos que compõem o ápice da pirâmide econômica. 

Por resultados, acentua-se a disparidade na distribuição da riqueza e bem estar na Nação, revelando os índices de GINI e IDH, Estes revelam-se  degradados, desnudando o abandono das prioridades sociais que, por sua vez, se tornam fragilidade política em prazos médio e longo.  

Graças ao curto horizonte da administração política, observa-se crescente  distonia no processo de identificação das prioridades. Com a multiplicidade de objetivos conflitantes, em teor e prazo, esgarça-se o ímpeto psico-social da Nação, diluindo o vigor de seu empuxo.    

Em suma, estes desequilíbrios colocam a perigo a prevalência do Capitalismo, este essencial à prosperidade da Nação.



sexta-feira, 8 de abril de 2022

Petróleo e Voto

                                                                        




Entramos em clima de opereta ou opera bufa... O trato politico-administrativo dado pelo senhor Presidente à mais relevante das empresas brasileiras revela um abissal desencontro, onde as prioridades que deveriam reger o redirecionamento da Petrobras não foram devidamente identificadas, organizadas e implementadas. 

Tendo por premissa que a  "business mission" vigente  da empresa é convergir com o objetivo eleitoral através da manipulação e contenção do preço do combustível, fator de forte elasticidade na relação preço-voto, denota que sensibilidade política é prioritária. Assim, torna-se difícil a tarefa de identificação e seleção dos quadros superiores da empresa.   

No afastamento voluntario do Almirante Leal Ferreira, como presidente do Conselho, e do Gen. Luna e Silva, Presidente da Diretoria, evidenciou-se a metástase causada pela contradição das prioridades da empresa conforme desejo do Planalto.

A desastrada indicação dos novos dirigentes da Petrobras para os cargos de  presidente do Conselho de Administração  e da sua Diretoria Executiva, revela o colapso da racionalidade decorrente do despreparo do acionista majoritário. Assim, encontra-se ele em inesperado dilema:  que substitutos indicar?

O efeito perante os acionistas, o mercado, as empresas congêneres, as bolsas no Brasil e no exterior, representa alto custo  tanto interno quanto externo, Ainda, fragiliza a  afeta a imagem de um governo que, para melhor cumprir sua missão, necessita o reconhecimento e respeito internacional, que tanto representa mercado para seus bens e serviços quanto crucial  fonte de investimento. 

Preocupa o observador, que este caminho já vem sendo trilhado, acentuando-se  conforme a progressão do calendário eleitoral.  Sua tendência já se delineava  quando das demissões sucessivas  de Pedro Parente e  de Castelo Branco, ambos administradores de peso e respeito. Já desde de então o custo do combustível tornava-se o pomo da discórdia.  

Revela, ainda, em vésperas de eleição,  quão inesperado e impulsivo  pode ser o candidato, ao colocar uma das mais admiradas empresas brasileiras como se fosse   um mero instrumento político. O que houve com o líder "defensor das forças do mercado" e feroz adversário da esquerda? 

Nada como tempos eleitorais para reavaliar profetas e messias?

N.R.  A recente indicação de novos nomes para os cargos vagos nada corrige pois a causa permanece.