O planeta Terra atravessa uma nova era de reposicionamento político-estratégico das grandes potencias e das nações subsidiarias. Diversos fatores impõem uma revisão de conceitos, tornando obsoletos os fatores outrora relevantes. O advento e o aperfeiçoamento da cibernética, da comunicação instantânea, da inteligência espacial, dos satélites-espiões, dos foguetes, dos robôs e das armas anulam e fragilizam os antigos conceitos de segurança nacional.
A guerra que ora se trava na Ucrânia lembra o teste de novas armas e táticas quando da guerra civil espanhola cujos ensinamentos abriram as portas para a blitz-krieg nazista. O uso de novos recursos hoje redesenha o campo de batalha ao ameaçar a supremacia dos blindados, dominantes na segunda guerra mundial. Ainda, o afundamento do poderoso cruzador russo, o Moskva, graças a um par de mísseis disparados por drones abre um novo capítulo nos manuais de guerra naval. Ainda, o infante, antes relegado a um papel de suporte, hoje adquire novo poder ofensivo graças às novas armas portáteis. Uma revolução técno-tática e estratégica está em curso.
Estas mudanças bélicas influem no jogo de poder entre as nações dominantes. As grandes distâncias se tornam pequenas, derrubando a proteçaõ que outrora traziam, assim tornando todas as nações vulneráveis. Porém, pouco mudou a logística do comércio e seus efeitos econômicos. Gargalos e longas distâncias perduram nas vias marítimas e ferroviárias, tornando-se o Calcanhar de Achilles da China, carente de petróleo e alimento.
Na área financeira a batalha se travará no éter devido à interceptação digital dos canais financeiros, abrindo caminhos e fechando portas, fragilizando o fluxo que alimenta as nações. No caso de conflito, a segurança das rotas de abastecimento se degrada, neutralizando os benefícios da globalização do comércio.
Quanto à mente humana, esta permanece igual, com suas mesmas reações através do tempo, de amor e ódio, de generosidade e cúpidez, de tolerância e rejeição. Enfim, todos aqueles sentidos que alimentam o ser humano, que elevam ou amesquinham o ego, tanto no pessoal quanto no coletivo. O desejo de dominação é perene e, na medida em que o coletivo se expande e altera o equilíbrio de forças, surge a disputa pela supremacia entre tribos e nações.
O advento da Era Nuclear, esta turbinada pela Era Digital, oferece ao frágil Homem o poder supremo da distruição planetária. Joe Biden e Vladimir Putin, ao rejeitarem as pretenções recíprocas de dominação, não souberam entendê-las e negociá-las. Acuado por Biden pela expansão da OTAN, Putin cai em armadilha e comete relevante erro estratégico ao invadir a Ucrânia. O custo para a Rússia é colossal pois afastou a tímida porém crescente aproximação européia, caminho essencial à sua redenção política e econômica após o desmonte soviético.
Para os Estados Unidos o preço também é relevante, pois se coloca face à um inimigo ativo, antes dormente, cuja visão nuclear difere da norte-americana assim criando uma zona de incompreensão cultural e estratégica potencializando as vulnerabilidades mútuas. Neste ambiente hostil e incerto a dúvida quanto às intenções adversárias torna mais provável o, até agora impensável, conflito nuclear.
Ainda, a débito dos Estados Unidos, apresenta-se a questão chinesa, onde por iniciativa americana vê-se aumentar a hostilidade. A posição de Pekim, próxima à Rússia por razões estratégicas e comerciais, adota calma oriental face às posições hostís de Washington e oferece aos estrategistas americanos o desconforto de sua ambiguidade. Adicionando-se à perene ofensiva comercial chinesa no entorno asiático, africano e sulamericano, a "questão Taiwan" cresce em importância levando os Estados Unidos a dividir atenção e recursos à duas frentes consideradas inimigas.
E assim abre-se a Caixa de Pandora que traz ao mundo a angustia da incerteza e o germe da discórdia e da destruição.
* Minhas desculpas à Aldous Huxley
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