segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Eleições e ambições


                                                           Jair Bolsonaro e seu mentor

O objetivo que prepondera no espírito político do Presidente Jair Messias Bolsonaro é a sua reeleição em 2022. Até ahí, tudo normal...é o que políticos fazem. Ao observador cabe, contudo, identificar se o roteiro por ele escolhido seguirá as regras do jogo democrático ou optará pela flexibilização que lhe garanta a vitória. . 

Sua recente derrota nas eleições municipais traz a primeiro plano a necessidade de aperfeiçoar sua estratégia para os próximos 700 dias.   Quais as vantagens a explorar, quais os obstáculos a superar?

No momento, importante vantagem política decorre da sua aproximação ao Centrão, com o  benefício defensivo de conter seus inimigos em eventual tentativa de impeachment e, no ofensivo,  dar-lhe munição para pontuais vitórias parlamentares.

No campo judiciário, o presidente vem reduzindo sua desvantagem no Supremo Tribunal Federal, tanto no relacionamento com alguns Ministros, tais quais Toffoli e Gilmar Mendes, na indicação do ministro Kassio (não esquecer o "K" que enobrece!), e na indicação de novos membros nos próximos dois anos. Pode-se esperar, também, maior presença do Planalto na indicação e remanejamento das Cortes subalternas visando desobstruir obstáculos futuros.

Na mesma direção, pode-se esperar pressões crescentes pelo afrouxamento dos limites orçamentários, revelando uma gradual substituição da inicial proposta econômica liberal, conforme defendida por Paulo Guedes, pela via do populismo econômico. No campo das reformas liberais nota-se retrocesso, com a interrupção da Reforma Tributária e da privatização de estatais. 

A adoção, talvez com outra designação,  da outrora famigerada  Bolsa Família  revela guinada pro-distributivismo dado a notável melhoria da imagem do Presidente após a distribuição do recente auxílio monetário anti-pandemia. O Planalto parece decidido a repetí-lo.

Porém, julgar o político e antever suas ações recomenda, também, a análise de sua personalidade. Suas preferências, sua instrução, sua zona de conforto psicológico, suas pulsões psíquicas, sugerem seu comportamento futuro. O bordão "Quem manda sou eu!" hábitualmente lançado através da imprensa escrita, falada e televisada pode revelar incontido autoritarismo.

Já se sabe que Jair Messias Bolsonaro tem dificuldade em lidar com a derrota. Como corolário, pode-se esperar sua negação dos resultados porventura desfavoráveis na próxima eleição presidencial. Não surpreenderia vê-lo seguir o comportamento exibido por Mr. Trump, seu alter-ego, igualmente negacionista.

Alastrando-se a pandemia, agora acentuada por nova cepa do vírus, onde as mortes se acentuam pari passu com as insuficientes  medidas  profiláticas do governo, cria-se ambiente de insatisfação com consequências políticas. 

Mesmo sob  vacinação em massa e a resultante queda de infecção pública, serão muitos os desafios econômicos. Se as classes mais favorecidas poderão colher substanciais benefícios na abertura das comportas consumistas imprudente será ignorar o déficit do emprego, o alto nível de endividamento pessoal e empresarial e público, a desestruturação da área imobiliária, todos estes de cunho depressivo. 

Ainda, o limite de gastos imposto constitucionalmente tolherá o recurso à medidas  anti-cíclicas de liberação fiscal. O recurso ao aumento de impostos, que aliviaría a pressão sobre o déficit e poderia conter ou reduzir o endividamento,  porém peca por ser anti-político, contrário ao objetivo eleitoral, este prioritário para o candidato`reeleição. 

Assim, em decorrência do provável desequilíbrio monetário, orçamentário e cambial, este último  afetado pela insegurança institucional alimentada pelo governo, surge a probabilidade de prolongada pressão inflacionária com impacto nefasto para as classes que compõem a base social. 

O quadro que se desenha não parece ser favorável às aspirações presidenciais.  

Seguindo esta linha hipotética, pode-se elencar suposições, estas sugeridas pelos fatos e comportamento conhecidos objetivando influir ou negar a vontade eleitoral. As ações abaixo descritos poderão ser acionados pelo atual Presidente e Comandante em Chefe das Forças Armadas para "corrigir erros e anomalias e os consequente resultados" porventura a ele desfavoráveis.

Uma notícia  relevante é transcrita abaixo. Surgiu há pouco dias na imprensa. Revela o que já se sabe. Jair Bolsonaro vem reforçando sua influência junto às instituições militares e policiais, emulando a experiência venezuelana. Lembra um velho adágio: "Os dois extremos se tocam." 

"Jair Bolsonaro participou de seis cerimônias militares e policiais só em dezembro. Foram formaturas de aspirantes das Forças Armadas, a conclusão do curso de delegados da PF e um evento de soldados da PM do Rio. Como bônus o presidente ainda visitou, no  início do mês, alunos de pós-graduação da Abin."

A este fato adiciona-se a relevante participação de militares, tanto reformados quanto da ativa,  em seu governo, abrangendo não apenas ministérios mas, também, agências e departamentos. Tanto as benesses do exercício do poder quanto os substanciais salários e benefícios disseminados pelos núcleos familiares que decorrem da distribuição de cargos públicos asseguram lealdade e obediência. Cria-se assim, uma nova casta político-administrativa. 

Já, como preparo para possível contestação de resultado eleitoral adverso, Bolsonaro já iniciou campanha para fragilizar a confiabilidade do atual sistema eleitoral, exigindo que comprovação escrita seja gerada para validar a apuração dos votos. Colocando em dúvida o sistema baseado nas urnas eletrônicas abre-se a porta para contestação e para nova e perigosa mudança nas regras do jogo.

Cumpre aos cidadãos brasileiros acompanhar atentamente o que vem por aí...  


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