sábado, 23 de janeiro de 2021

Rescaldo de uma dupla


                                                                      

Trata-se de uma dupla, assim como Didi e Dedé.  Um fica sério e diz bobagens, o outro é risonho e diz bobagens. Como um sobreviveria sem o outro? Difícil, mas, aconteceu.

Donald Trump, despedido de sua função pelo povo norte-americano, rebelou-se. Açulou suas hordas na direção do Congresso em ato sem paralelo na história dos Estados Unidos. Sua audácia impensada fruto de ambição incontida.

Não deu certo. Projeto fracassou. Em 20 de janeiro, 2021, foi despejado da Casa Branca. E aqui, no distante Brasil, ficou seu "side-kick" tropical, seu Dedé, atônito com a queda  de sua alma gêmea. 

Mas Jair é militar, valente. Aperta o cinto, encolhe a barriga, estufa o peito e.."Vamos em frente"! Pois bem, já há algum tempo vem ele preparando seu projeto de permanência. Se não for por bem, talvez tenha que ser por mal...

O clima de incerteza, alvoroço, e suspense criado por incessante fluxo de declarações desencontradas e provocadoras que emanam do Planalto lhe garante a atenção da mídia e, assim, lhe aduba uma incerteza que lhe beneficia. Estimula a polarização das facções e a radicalização das idéias, assim preparando suas hostes para o que der ou vier.

No plano do falatório, tem-se "Aqui será bem pior se o voto, em 2021, nao for impresso!" ou "quem decide se o Brasil será uma democracia ou uma ditadura serão as Forças Armadas", ou "o povo armado é um povo livre". E por aí vai...

Já, em suas ações, Bolsonaro coopta as Forças Armadas e as Polícias,  não raro travestidas em Milícia. Em afago constante, prestigia, com sua presença incansável nas cerimônias castrenses, oferece promessas, não só de maiores proventos mas, também, de maior poder, aquinhoados que são nos corredores da administração pública. Pagos, é claro, com o dinheiro da "viúva". 

Tendo por exemplo, segue o receituário da  Venezuela ao seduzir, paciente e paulatinamente, o  estamento armado nacional.

Ainda, incansável na consolidação de seu poder, prestigia seitas de conservadorismo hermético de Calvino, apropriado ao Século XVI, contrárias aos  aperfeiçoamentos do Iluminismo que os Séculos seguintes trouxeram. Assim, Bala e Bíblia se associam às preferências e propósitos  de Jair Messias.

Para  dar substância ao Verbo, importam-se mais Armas do mundo afora, livres de imposto e contrôle, distribuídas aos fiéis seguidores como se não bastasse as que aqui já tanto matam.. Em contraste obscurantista, aplica-se, pela primeira vez, imposto sobre livros.

Bom estrategista, Jair vê o Caminhoneiro como aliado. Amaciados e protegidos desde a primeira greve que paralisou o país, o Presidente, cioso da extensão do poder que a categoria encerra, mantêm, ainda hoje, mantêm conveniente intimidade. A mobilização da "categoria", em momento de crise, pode, ao subtrair o imprescindível combustível e paralisar o trânsito, inibir qualquer ação que lhe seja desfavorável. 

Significaria, o que vai acima, uma previsão de ação inconstitucional de Jair? A resposta é Não.  Nas eleições de 2022 ter-se-á o veredito das urnas, e o vencedor terá o respeito do vencido. Ou assim se espera...e assim é a regra do jogo democrático. Ou...

Contudo, o Presidente já manifestou sua preferência pelas urnas que registrem, físicamente, os votos. Caso se mantenha contra sua vontade o atual sistema eletrônico,  e caso não vença o pleito, prevê ele revolta popular mais grave, ainda, do que a ocorrida em Washington,  como "justa" reação à inconfiabilidade de um processo eleitoral tido por viciado.

E, se assim for? Dependendo da vontade de um Líder (Fuhrer em alemão, Duce, em italiano), com uma penada, uma piscadela, uma meia palavra cai por terra uma democracia...

A não ser que os brasileiros prestem muita atenção...