domingo, 8 de novembro de 2020

The day after




Finalmente, chega-se ao final das eleições norte-americanas. Joe Biden é o vencedor. Os Estados Unidos, colocados  por think tank de Harvard no 76° lugar dentre as nações democráticas do globo no que tange a (in)eficiência de seu processo eleitoral, revelam-se sob angústia e insegurança. Será a eleição para valer, ou, como acontecido no passado, votos serão descartados e resultado alterado? Já veremos...

Tão importante quanto a ascensão de Biden é a derrota de Donald Trump. Fosse outro o político derrotado, pouca atenção mereceria. No caso de Trump o cenário parece ser outro. Ainda que, hoje, moribundo políticamente, poderá ele retornar. Sua força política e carisma, como evidenciadas pela sua excepcional votação, torna possível a consolidação de sua facção, agressiva e intolerante, em busca de revanche.   

Ainda que em pápeis invertidos, ambos protagonistas continuarão tendo forte influência nos destinos do país. A clivagem ideológica refletida nos estreitos resultados eleitorais promete uma nação ferida, polarizada e intolerante, onde o adversário político torna-se inimigo pessoal.

Tal polaridade trará o espectro da instabilidade, tanto interna quanto internacional.

A vitória, importante frisar, não é completa, uma vez que o Senado (48 a 46) permanece em mãos Republicanas, e na Câmara  com as dos Democratas (233 a 197). Biden tem, diante de si forte desafío, pois os avanços terão que ser negociados em busca de desarmamento ideológico. 

A derrota da pandemia e suas consequências tanto no aspecto sanitário quanto no econômico será prioridade no âmbito interno; liberação da vacina e dos incentivos para a retomada econômica. O Covid 19, cujo recrudescimento já leva a 1000 mortes por dia, será o adversário imediato.

Porém, não menos importantes serão as providências para reverter a realidade Republicana.  O projeto da saúde popular exigirá aperfeiçoamento, as regras imigratórias humanizadas, a proteção ao meio ambiente fortalecida, as agências reguladoras revigoradas, a expansão do endividamento público contido, a disparidade de renda atenuada mediante reformulação fiscal.  

Já, no plano internacional, deverá haver a retomada da globalização, desprezada e hostilizada pelo governo Trump. As Nações Unidas e suas agências, tais como UNESCO, OMS, OMC deverão ser re-incorporadas na agenda do Departamento de Estado. Os tratados abandonados, desde o Acordo de Paris até o retorno ao tratado de  desnuclearização do Irã também merecerão atenção.

A revisão das relações com a Europa/OTAN (aproximação), China (negociação), Rússia (prevenção), Israel (contensão) e a pequena Cuba (atração) deverá merecer especial atenção.O Brasil, com ênfase na proteção ambiental da Amazônia, também estará na agenda de "Foggy Bottom".¹

No rescaldo post-eleitoral, a partir da posse de Joe Biden em janeiro 2021, será conveniente a neutralização política de Trump através de projetos legislativos bi-partidários, assim desmontando a perigosa fórmula da intransigência negocial. A persistir em rumo onde prevaleça a sombra ideológica do ex-presidente, terá o partido Republicano por resultado  tolher suas alternativas políticas futuras, atando-se à âncora do personalismo radical.    

Os dois partidos fariam bem em priorizar a despolarização da política norte americana, uma vez que a tendência ao uno-partidarismo existente sob o comando de Donald Trump mostrou-se ineficaz e traumático, colocando em risco a estabilidade democrática da nação americana. 

(1) State Department



2 comentários:

vida de doméstica disse...

Só fiquei espantada com a votação pró-Trump ! Achei que Biden ganharia com vantagem muito maior. Foram os cubanos, latinos e americanos radicais/racistas?

pedro leitão da cunha disse...

Creio que a esmagadora maioria dos TRUMPISTAS é constituída por brancos que antes não votavam. No geral, os latinos republicans são muito poucos se comparados com o total. Este aumento surpreendente também se verificou no campo Democrata.

Pedro