sexta-feira, 5 de junho de 2020

Geo-política Revisitada

Mapa Mundi com nome de todos os paises e capitais (com imagens ...

Que novo mundo emerge após a Pandemia? Talvez mais calmo para cuidar de suas feridas; talvez mais ativo para acelerar sua recuperação econômica, talvez mais raivoso por ter perdido muito tempo.

O planeta iniciou a década atual com quatro blocos de poder: Os Estados Unidos e seus  escudeiros, dentre os quais os países Anglo Saxões, Israel e o Japão. Ainda,  a União Europeia post Brexit; a Rússia; e a China.

Já, a India, populosa demais para ser satelite e pobre demais para ter protagonismo, altera sua preferência entre Washington e Moscou, enquanto evita as ameças chinesas.   Enquanto o Paquistão islâmico oscila entre um Washigton desconfiado  e Pequim interessado por seu acesso ao Oceano Indico, evitando a perigosa passagem pelo estreito de Malaca. Ambos são potencias nucleares, e manobram com o benefício da indefinição.

Quanto ao Oriente Médio e regiões adjacentes, cuja inconstância e instabilidade política, étnica e religiosa lembra os Bálcãs das primeiras décadas do Século XX, reflete os interesses conflitantes de potências externas como os Estados Unidos, Rússia e China. Somente a União Europeia se mantém discreta, dada à dílução de seu potencial determinismo internacional, inibida pela diversidade nacional, cultural e política que a compõem.

Esta região, maior produtor mundial de petróleo, o ouro negro condenado à irrelevância, porém ainda não hoje, desestabilizada no rescaldo da intervenção norte-americana pela desestruturação da solução Curda, pelo aprofundamento da brecha entre Sunitas e Xiitas, pelo contínuo expansionismo israelense com o beneplácito de Washington, pelo despertar político-militar da Arábia Saudita, por um Irak ambivalente em sua proximidade com os Estados Unidos e o Irã, e por uma Síria, apoiada pela Rússia, afirmando sua soberania sobre as forças rebeldes a um enorme custo humantário.

Em seu entorno, as potencias emergentes, Turquia e o Irã, fazem valer o seu peso na balança político-militar. O primeiro, ainda que membro da OTAN, mantém seus objetivos regionais a despeito de interesses norte-americanos. O segundo demonstra surpreendente resiliência política e capacidade tecnológica, dentro de quadro claramente hostíl à Washington e seus aliados. Em ambos os casos mantêem relações próximas com Moscou.

A África, a grande esquecida a não ser quando eventos ferem os interesses ocidentais,  ainda se recupera de logo período de submissão imperial; é uma colcha de retalhos onde diferenças étnicas e diversidade religiosa resultam em caleidoscópio de infinita variança. A mais relevante e bem vinda novidade decorre do interesse crescente da China por suas matérias primas, o que, por sua vez, promete levar outros blocos à competição.

Na América do Sul, históricamente sob a tutela indireta dos Estados Unidos,  observa-se iniciativas políticas da Rússia, usando a Venezuela para fustigar os Estados Unidos como no passado fizera com Cuba. Já a China acentua sua influência econômica, sobretudo junto ao Brasil e Argentina. 

Face ao desequiíbrio das forças tradicionais causado pela notável expansão do poderio econômico e militar da China,  ajustes estratégicos pós-pandêmicos se impõem ao adentrar o mundo na segunda década do Século XXI.

As fortes mudanças no quadro internacional trazidas pela eleição de Donald Trump, onde os interesses nacionais suplantam o compartilhamento de interesses internacionais, impõem uma reavaliação dos efeitos de tal política junto aos demais polos geo-políticos. Tal revisão afeta as relações, tanto econômicas quanto políticas, com os demais blocos.  Destaca-se o contencioso Estados Unidos-China. O neo-isolacionismo que ora se instala em Washington acirra a competição e, face à seu inigualável poder, leva à imposições estremadas que favoreçam tanto o congelamento competitivo, negando o mercado norte americano aos produtos chineses, quanto ao uso de instrumentos econômicos como a manipulação de tarifas bem como ao impedimento regulatório de fluxos monetários e comerciais.

O perigo reside na intransigência e abrangência negocial. Se tal redundar na interrupção do crescimento econômico chinês ou negação ao acesso de imprescindível matéria prima por pressão externa norte-americana, terse-ia, talvez por involuntário erro de cálculo, a geração de um casus belli. Senão um conflito generalizado, “incidentes militares” poderiam ocorrer cujo desdobramento seria imprevisível.

Tal hipótese agravar-se-ia na busca por alianças, estas constrangidas pelo teor nuclear do potencial conflito. Para onde penderiam as demais potencias nucleares? A  Rússia,  formidável potencia militar, tornar-se-ia o fiel da balança? Ou Moscou prefereria vender caro sua neutralidade? E a União Europeia, arriscaria uma renovada destruição, de sua gente e de seus tesouros culturais, num conflito nuclear? Ou tenderia à neutralidade? Os asiáticos, Coréia do Sul e Japão, atrever-se-iam a desafiar o dragão chinês? Pouco provável.

Manifestações passadas de líderes chineses, a começar por Mao Tse Tung, acentuam seu destemôr pela arma nuclear, assim abrindo a porta ao seu uso contra o adversário. Esta posição parece escudada na sua mega população onde as mortes tornar-se-iam mera estatítica.. Por outro lado, a aceitação do risco de obliteração, mesmo que parcial, parece inaceitável para os Estados Unidos e seus aliados. Assim, parece que o trunfo principal pertence à Pequim, por devastador que seja.

O slogan “America First” deve ser recalibrado para ajustar-se à nova realidade geo-política do Século XXI. Também, a China de Xi Jinping é responsável pela crescente aspereza do diálogo, divergindo do conselho de Xiao Peng à China, de manter um Low Profile em sua ascensão. Ainda, e talvez o mais importante fator transformador e preocupante do Império do Meio, tenha sido a abolição da liderança a prazo determinado anterior à Xi Jingping, que hoje reina sem limite temporal..

Assim, a prudência recomenda que na sua relação com a China, aos Estados Unidos cumpre negociar e ganhar tempo. Washington deve buscar regras equitativas em seu comércio com Pequim  sem, contudo, gerar tensões indesejáveis no campo politico.  À medida que a China prospere em seu capitalismo semi estatal, tão maiores serão os benefícios obtidos em ambiente pacífico, aproximando-se gradualmente, como já acontece,  aos valores comuns ao Ocidente. 

Parece razoável concluir-se que a política externa norte-americana deve favorecer, e não confrontar, a jornada chinesa em direção ao capitalismo.  Assim adubam-se os interesses comuns. 

A pensar...






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