Que novo mundo emerge após a Pandemia? Talvez mais calmo para cuidar de suas feridas; talvez mais ativo para acelerar sua recuperação econômica, talvez mais raivoso por ter perdido muito tempo.
O
planeta iniciou a década atual com quatro blocos de poder: Os
Estados Unidos e seus escudeiros, dentre os quais os países Anglo
Saxões, Israel e o Japão. Ainda, a União Europeia post Brexit; a Rússia;
e a China.
Já,
a India, populosa demais para ser satelite e pobre demais para ter protagonismo, altera sua preferência entre
Washington e Moscou, enquanto evita as ameças chinesas. Enquanto o Paquistão islâmico oscila entre um Washigton desconfiado e Pequim interessado por seu acesso ao Oceano Indico, evitando a perigosa passagem pelo estreito de Malaca. Ambos são potencias nucleares, e manobram com o benefício da indefinição.
Quanto ao Oriente Médio e regiões adjacentes, cuja inconstância e
instabilidade política, étnica e religiosa lembra os Bálcãs das
primeiras décadas do Século XX, reflete os interesses conflitantes
de potências externas como os Estados Unidos, Rússia e China.
Somente a União Europeia se mantém discreta, dada à dílução de
seu potencial determinismo internacional, inibida pela diversidade nacional, cultural e política que a compõem.
Esta
região, maior produtor mundial de petróleo, o ouro negro condenado
à irrelevância, porém ainda não hoje, desestabilizada no
rescaldo da intervenção norte-americana pela desestruturação da
solução Curda, pelo aprofundamento da brecha entre Sunitas e
Xiitas, pelo contínuo expansionismo israelense com o beneplácito
de Washington, pelo despertar político-militar da Arábia Saudita,
por um Irak ambivalente em sua proximidade com os Estados Unidos e o
Irã, e por uma Síria, apoiada pela
Rússia, afirmando sua soberania sobre as forças rebeldes a um
enorme custo humantário.
Em
seu entorno, as potencias emergentes, Turquia e o Irã, fazem valer o
seu peso na balança político-militar. O primeiro, ainda que membro
da OTAN, mantém seus objetivos regionais a despeito de interesses
norte-americanos. O segundo demonstra surpreendente resiliência
política e capacidade tecnológica, dentro de quadro claramente
hostíl à Washington e seus aliados. Em ambos os casos mantêem
relações próximas com Moscou.
A
África, a grande esquecida a não ser quando eventos ferem os
interesses ocidentais, ainda se recupera de logo período de
submissão imperial; é uma colcha de retalhos onde diferenças
étnicas e diversidade religiosa resultam em caleidoscópio de
infinita variança. A mais relevante e bem vinda novidade decorre do interesse
crescente da China por suas matérias primas, o que, por sua vez,
promete levar outros blocos à competição.
Na
América do Sul, históricamente sob a tutela indireta dos Estados
Unidos, observa-se iniciativas políticas da Rússia, usando a
Venezuela para fustigar os Estados Unidos como no passado fizera com
Cuba. Já a China acentua sua influência econômica, sobretudo junto
ao Brasil e Argentina.
Face ao desequiíbrio das forças tradicionais causado pela notável expansão do poderio econômico e militar da China, ajustes estratégicos pós-pandêmicos se impõem ao adentrar o mundo na segunda década do Século XXI.
As
fortes mudanças no quadro internacional trazidas pela eleição de
Donald Trump, onde os interesses nacionais suplantam o
compartilhamento de interesses internacionais, impõem uma
reavaliação dos efeitos de tal política junto aos demais polos
geo-políticos. Tal revisão afeta as relações,
tanto econômicas quanto políticas, com os demais blocos. Destaca-se o contencioso Estados Unidos-China. O
neo-isolacionismo que ora se instala em Washington acirra a
competição e, face à seu inigualável poder, leva à imposições
estremadas que favoreçam tanto o congelamento competitivo, negando o
mercado norte americano aos produtos chineses, quanto ao uso de
instrumentos econômicos como a manipulação de tarifas bem como ao
impedimento regulatório de fluxos monetários e comerciais.
O
perigo reside na intransigência e abrangência negocial. Se tal
redundar na interrupção do crescimento econômico chinês ou
negação ao acesso de imprescindível matéria prima por pressão
externa norte-americana, terse-ia, talvez por involuntário erro de
cálculo, a geração de um casus belli. Senão um conflito generalizado,
“incidentes militares” poderiam ocorrer cujo desdobramento seria
imprevisível.
Tal
hipótese agravar-se-ia na busca por alianças, estas
constrangidas pelo teor nuclear do potencial conflito. Para onde penderiam as demais potencias nucleares? A Rússia, formidável potencia militar, tornar-se-ia o fiel da balança? Ou Moscou prefereria vender caro sua neutralidade? E a União Europeia, arriscaria uma renovada destruição, de sua gente e de seus tesouros culturais, num conflito nuclear? Ou tenderia à neutralidade? Os asiáticos, Coréia do Sul e Japão, atrever-se-iam a desafiar o dragão chinês? Pouco provável.
Manifestações
passadas de líderes chineses, a começar por Mao Tse Tung, acentuam seu destemôr pela arma
nuclear, assim abrindo a porta ao seu uso contra o adversário. Esta posição parece escudada na sua mega população onde as mortes tornar-se-iam mera estatítica.. Por outro lado, a aceitação do risco de obliteração, mesmo que parcial, parece inaceitável para os Estados Unidos e seus aliados. Assim,
parece que o trunfo principal pertence à Pequim, por devastador que
seja.
O
slogan “America First” deve ser recalibrado para ajustar-se à
nova realidade geo-política do Século XXI. Também, a China de Xi Jinping é responsável pela crescente aspereza do diálogo, divergindo do conselho de Xiao Peng à China, de manter um Low Profile em sua ascensão. Ainda, e talvez o mais importante fator transformador e preocupante do Império do Meio, tenha sido a abolição da liderança a prazo determinado anterior à Xi Jingping, que hoje reina sem limite temporal..
Assim, a prudência recomenda que na sua relação com a
China, aos Estados Unidos cumpre negociar e ganhar tempo. Washington deve buscar regras equitativas em seu comércio com Pequim sem, contudo, gerar tensões indesejáveis no campo politico. À medida
que a China prospere em seu capitalismo semi estatal,
tão maiores serão os benefícios obtidos em ambiente pacífico, aproximando-se gradualmente, como já acontece, aos valores comuns ao Ocidente.
Parece razoável concluir-se que a política externa norte-americana deve favorecer, e não confrontar, a jornada chinesa em direção ao capitalismo. Assim adubam-se os interesses comuns.
A pensar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário