sábado, 30 de maio de 2020

Reflexões sobre uma reunião


Vídeo de reunião ministerial: Leia a íntegra da reunião ...


Indagações, perplexidade, supresa resultam da reunião do Ministério em  22 de abril passado..

Vale começar pela indagação de qual o objetivo de Jair Bolsonaro ao convocá-la?  Seria para estimular e oferecer diretrizes para seus ministros na árdua missão de dirigir o país face à atual crise? Ou como planejar a retomada post-epidemia, tanto social quanto econômica?  Seria para que o Presidente oferecesse orientação e estimulasse o debate sobre as prioridades mais imediatas exigidas pela nação?

A reunião de 22 de maio revestiu-se de um clima emocional, pouco indutor à reflexão e à moderação. Mais pareceu ser um ambiente onde a clara insegurança psicológica do líder se trasformava em necessidade de afirmação, o da imposção de uma autoridade inconteste. Como exemplo, a ameaça de demissão dirigida ao Ministro Sergio Moro, que poderia ter sido feita na discreção de seu gabineta, foi exibida perante todos. 

O Presidente parece se exaltar com suas própias  palavras, atropelando os limites da prudência e da educação. Sua preferência pelo palavrão, recurso desagregador, não substitui a clareza da palavra bem escolhida. Incontidamente, revelou interferir nas operações da Polícia Federal,  conforme por ele ele mesmo explicitado, para proteger filhos e amigo.  Levado pelo arroubo, defendeu "armar o povo" não sendo capáz de esclarecer o que entende por povo. Será o homem comum que se vê na rua ou terá ele em mente um "povo" para-militar?

Os ministros presentes, serviram não só como testemunhas mas, também, como cúmplices. Os ministros militares não exibiram qualquer restrição à visão de armamento popular. Weintraub, Salles, Araujo e até mesmo Guedes revelaram ter-se contaminado pelo virus da impropriedade. Assim, concedeu-se à Bolsonaro explícita anuência à sua visão de governo, onde o Presidente pode tudo e onde eventual obstáculo à suas pretenções revela conspiração oriunda dos demais poderes da república.

Contudo, liderança exibida no grito não é legítima. Esta emana de uma personalidade destacada, de uma superioridade moral, intelectual ou técnica. E não de um tom desmedido eivado de violência.. A asserção de  autoridade (aqui quem manda sou eu) bem como o uso de palavrões constituem alicerces pouco sólidos para uma liderança política. O clima de intimidação deve ser evitado para melhor governar..

Há quem diga que o Presidente se vale do conflito para estimular a radicalização, o que lhe traria crescente apoio popular. Tal tese é defendida por setores próximos ao governo. Será?

A instabilidade gerada pelo esgarçamento político tem consequência econômicas da maior gravidade. Perante conflitos institucionais, as fontes de investimento, tanto nacionais quanto internacionais, se iníbem e postergam decisões. Ainda, o conflito que se torna cada vez mais ideológico e emocional reduz a eficácia  das medidas sanitárias  contra a epidemia.

Ainda o alijamento dos tradicionais parceiros no comércio internacional acentua os erros  que vem sendo cometidos pela política externa atual. Fica, assim, comprometida a geração de divisas internacionais essenciais à`economia brasileira. 

Quanto poderá durar esta configuração política sem grave dano? Parece ser essencial a revisão de rumo, em harmonia com os três Poderes. Será a influência dos demais poderes da República, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal suficiente para o retorno à normalidade? E qual a  contribuição das Forças Armadas, poder moderador e garantidor da Constituição? Todos são necessários para compor-se um bom governo. Cabe ao Presidente mobilizá-las.






segunda-feira, 25 de maio de 2020

Brasil visto de longe...

Recebido de bem informado empresario inglês, preocupado com nosso país. Vale uma reflexão.


Pedro,

Always interesting to read your blogs !

I would have some comments about the current situation. I don't believe that much was achieved by making the video of the 22nd April presidential conference available to the public because it didn't really substantiate Moro's claims which were far better elucidated by his WhatsApp exchange with the president prior to that meeting and which made the president's position with regards to muzzling the PF very clear. The video however did demonstrate the low level of competence of the leaders of the Government and for that I specifically single out the ministers Ernesto Araujo, Ricardo Salles, Weingarten, Damares, and the Minister for Tourism. Even Paulo Guedes made some stupid remarks together with expletives to copy his president.

The president's speech (shouting as usual) was not that of the leader of a nation and statements like his wish to arm the citizens to counter a possible takeover were inflammatory, to say the least. I have been worried by recent rumours that the Military are considering taking over the country even though they seem to have already taken over several important posts in the Government, but a census last week showed that soldiers up the rank of sergeant are not interested in a "golpe" (true or false ?).  The problem is that Bolsonaro is managing to antagonise a great number of people , particularly with his (non)handling of the pandemic, and that only serves to encourage the Opposition which in turn could make him feel forced to come up with a reaction.

I believe that there are 3 main concerns for Brasil : the coronavirus, politics and the Amazon and these are all affecting Brasil's image abroad in a very negative way. The burning of the Amazon and the environment  is becoming a key issue with shareholders of international companies and just this week the supermarket chains in the UK have threatened to stop importing goods from Brasil because of the Amazon deforestation. At the same time Brasil has been excluded from the countries scheduled to receive the vaccine when it becomes available because of its current policy regarding reaction to the spread of the virus. Furthermore, with the prospect of reduction in globalisation after the pandemic, Brasil cannot afford to exclude itself from the world market. In this respect remarks against China are not advisable.



sábado, 23 de maio de 2020

De ferida à cancer

Abaixo exibimos Blog publicado nesta coluna em 23 de dezembro de 2018 cujo teor merece sua atenção, visto sua atualidade. De ferida, à câncer e à metastase






domingo, 23 de dezembro de 2018


De ferida à câncer


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Fabrício Queiroz


Dentro do recente quadro ético brasileiro, onde os mais execráveis crimes de corrupção ocorrem, o "affair" Flavio Bolsonaro e Fabrício Queiroz seria irrelevante. Afinal, que importância tem os 1,2 milhões de reais citados pela COAF quando comparados com as dezenas de bilhões que ornam os mal feitos descobertos ao longo dos anos?

Mas na política a lógica se curva perante a psicologia de massa. O "caso" acima citado ocorre em momento onde um dos pilares que sustenta a eleição de Jair Bolsonaro é o repúdio e o combate à Corrupção.

O COAF, órgão da  Receita Federal, recém constatou e existência  de movimentação atípica nas contas de Fabrício Queiroz, onde pagamentos teriam sido feitos à pessoas ligadas ao Senador Flávio Bolsonaro. Em condições normais, caberia, então, aos dois, patrão e empregado, oferecer os esclarecimentos necessários às autoridades fazendárias. Contudo, contrariando as expectativas dos que apoiam o campo vitorioso na recém finda eleição, até o momento nada foi feito para apurar-se o que de fato aconteceu, deixando este vazio profunda consternação.

Como tal não aconteceu, torna-se possível, senão provável, que irregularidades existam. Ora tal silêncio só seria possível com a anuência, passiva ou ativa, do pai do Senador, o presidente recém eleito. Ainda no terreno das hipóteses, se tal conversa ocorreu, dela decorreria duas alternativas:

  • A primeira,  reconhecer o erro e pagar as multas e outras penalidades devidas., assim aceitando o dano politico imediato, desobstruindo o caminho para recuperação do capital político hoje esgarçado. Penoso, porém superável no tempo e no exemplo. 
  • A segunda,  negar tudo, impedir ou adiar o depoimento do Sr. Queiroz para depois da posse do Senador Bolsonaro, então protegido pelo Foro Especial.

A primeira hipótese causaria um ferida dolorosa, porém curável. A segunda, mais parecerá um câncer cujo tempo agrava, causando grave dano.

O Presidente Jair Bolsonaro só poderá combater o colapso ético que a Nação enfrenta dando seu exemplo, elemento essencial e insubstituível. Sua imagem não pode associar-se à mensagem dos cínicos, onde "tudo continua na mesma", onde "muda-se os bandidos e permanece a corrupção". Sem expiar o crime, se houver, o Presidente será perseguido ao longo se seu mandato, sem que a ferida sare.

São poucos os dias que nos separam da posse do novo Presidente, são poucos os dias para fazer a coisa certa.

           

quinta-feira, 21 de maio de 2020

The Day After...

PADRE REUS: cemitério dos padres - Foto de Padre Reus, São ...


Talvez o único benefício do Novo Corona Virus, além do estímulo à introspecção, tanto pessoal quanto política, seja o apaziguamento das disputas internacionais. Neste raro momento de inimigo único universal, o objetivo de sobrevivência trazida à tona pela pandemia torna contraditório qualquer conflito entre nações.

Os esforços internacionais em busca de coordenação e interação na busca de vacinas acentua a importância do globalismo virtuoso, onde tanto barreiras culturais quanto econômicas devem ceder ao bem da humanidade.

Porém armadilhas existem.

Talvez nenhum produto tenha tanta influência no comportamento das nações quanto o petróleo. A precipitosa queda na demanda levou os preços do barril a níveis impensáveis e anti-econômicos, provocando revisões táticas e estratégicas, tanto para os produtores quanto para os consumidores.

Os Estados Unidos, perdem o acréscimo marginal de poder que lhe traz o “fracking”. A Rússia tem reduzida sua principal fonte de receita, assim contendo sua estratégia agressiva de fatos consumados. No Grande Oriente Médio o efeito é épico; a Arábia Saudita é levada, por falta de recursos, a suspender sua guerra ao Iémen e a adiar a reforma social que pretendia o Principe bin Salman. O Irak e o Irã se aproximam do colapso fiscal. E mesmo Israel, com sua incipiente produção de petróleo, vê adiada sua independência energética. Os prejuizos se alastram pelos países produtores da Africa, Ásia e Ámerica latina.

Porém, neste quadro sombrio, a União Europeia, a China e o Japão, importadores permanentes, se beneficiam da queda dos preços, dando novos matizes às relações internacionais.

Dentre as nações de relevância, apenas os Estados Unidos mantem acesa a chama da discordia. Sua máxima, “América Primeiro” privilegia o conflito atraves da “permanente competição”, lembrando a já defunta “revolução permanente” de Trotsky.

Entendendo o mundo como se fosse um imenso porém finito mercado imobiliário Nova-Yorquino, Donald Trump não concebe o conceito onde a prosperidade do seu vizinho resulta em prosperidade própria. Assim, vê como ameaçadora à sua hegemonia a expansão economica e política da China, como se jogo de soma “0” fosse.

Hoje, alem da guerra comercial deflagrada contra Pequim, onde os canhões, em vez de obuses, arremessam tarifas destrutivas, tem-se, também, vindo de Washington, uma singular e surpreendentede questão de paternidade do novo coronavirus, onde a China é acusada de gerar o virus maléfico com o intuito de....não se sabe. Considerando que todos os países, amigos e inimigos, revelam-se vulneraveis à epidemia, difícil entender-se as vantagens decorrentes de tal tese.

Mas, se durante o flagelo viral as prioridades são mórmente pacificas, o mesmo não parece ser provável no período post-pandemia. Talvez ingênuaente, prepondera a visão onde tamanha mortandade levaria o homem e a sociedade à uma reflexão solidária, onde as premências de riqueza e poder seriam atenuadas em favor de ampla revisão de valores e prioridades, onde se destaca a profunda desigualdade na distribuição da riqueza. Também, poderá observar-se um novo impulso civilizatório do Iluminismo e seu desdobramento humanista aliado às religiões que codifiquem e disseminem a generosidade e a solidariedade. 

Como exemplo marcante vê-se a União Europeia criar um fundo de auxílio de Eur$500 bilhões em benefício das nações associadas. Já a China promete 2 bilhões de dólares à Organização Mundial de Saúde. As entidades multinacionais tais com a ONU e Fundo Monetário Internacional preparam planos de combate à pobreza e recessão.

No campo scientífico, ganha força a visão globalista da vacina, onde a troca de informação se sobrepõe à hermeticidade das pesquizas individualizadas. Onde o seu custo, o de salvar vidas, seja integralmente absorvido pelos tesouros nacionais assim como, paradoxalmente, ocorre com o custo das armas, cujo objetivo é o de ceifar vidas.

Por outro lado, razoavel supor-se que o duplo imperativo que rege a espécie humana, a Procriação e a Sobrevivência, leva o Homo Sapiens à constatação que sobreviver exige Poder para dominar o meio ambiente do qual o Homem-rival faz parte. E Poder dependeria do binômio Força (física e psiquica) e Riqueza, os quais exigem, por sua vez, o Egoismo.

Quais serão os vetores a reger a renascença post-virus? Ver-se-á o embate entre a Razão e a Pulsão?









sexta-feira, 15 de maio de 2020

O Muro da Mandioca

Ernesto Araújo | Humor Político – Rir pra não chorar

"An Iron Curtain has descended across the Continent." Esta frase antológica, pronunciada por Winston Churchill, anunciava  o fim da transparência entre o Ocidente capitalista e o Leste europeu sob o domínio comunista.

Hoje temos a anúncio de uma nova versão do que vai acima, ainda que com contornos inegáveis de subdesenvolvimento. Baixou o Muro da Mandioca. Trata-se da barreira erigida por Ernesto Araujo, ministro das Relações exteriores, com o fim de bloquear a transparência entre o Brasil e seus representantes no exterior.

Qual servo obediente Araujo petende resguardar os diplomatas de notícias que denigram o governo Bolsonaro. Só as "boas" notícias serão esvaziadas às embaixadas e consulados. Tal qual um Goebbels nativo, o constipado Ministro  pretende livrar os cérebros de seus subordinados da infecção trazida pelo virus da realidade.

Assim, se inquiridos  sobre as derrapagens bolsonarianas pelos seus pares extrangeiros, nossos embaixadorres poderão, premidos pela desinformaçao, exercer a nobre arte do gaguejar e nada dizer. 

Assim navegaria o sofrido Itamaraty, mergulhado na desconexão entre as mais respeitadas tradições de cordialidade internacional e o terra-planismo do novo Brasil. Porém, Araujo comete mais um disparate ao dar-se o proverbial tiro no pé, pois parece esquecer a atualidade tecnológica que permite a todos o acesso a toda informação, venha de onde vier. 

Constata-se que o Muro da Mandioca está fadado ao iminente desfazimento.

sábado, 9 de maio de 2020

O Militar na República

Intervenção Militar - Como ocorreria? | Intervenção militar ...


Em rítmo crescente o presidente Bolsonaro se transforma em usina de crises e confrontos. Obsecado pela sua determinação de vencer as próximass eleições, quer, desde já, assegurar o domínio de todos os trunfos necessários ao alcance de seu objetivo.

Preliminarmente, a condição para chegar-se à reeleição passa, necessáriamente, por ter-se realizado um bom governo e a chave para tal será uma administração que tenha oferecido emprego e crescente riqueza para as classes sociais que compõem o eleitorado. Contudo, o advento do Covid 19. e a paralisia da atividade econômica que o acompanha como resultado do isolamento social, cria, em Jair Bolsonaro, o repúdio a qualquer iniciativa que prejudique seu objetivo político.

Neste quadro, o presidente se depara com duas opções; a primeira, conter o alastramento da epidemia favorecendo a contenção social e econômica, ou, a segunda, que privilegia a atividade econômica relegando a segundo plano o risco epidêmico. A primeira alternativa gera o empobrecimento mediante a paralização temporária do comércio e da industria, enquanto a segunda traria crescente mortandade e o colapso da rede hospitalar, porém mantendoa economia aquecida.

Diante da escolha, Bolsonaro opta pela segunda via. Está disposto, segundo diz, a correr o risco, segundo ele, para que garanta a sua permanência no poder quando do segundo mandato. Mas sabe muito bem que o risco correm os infectados, não ele. A seu ver, vale a pena.

Olhando para o passado recente constata-se que a formaçãoo inicial da equipe do governo Bolsonaro mereceu elogios. A maioria de seus integrantes parecia competente, com apenas alguns ministros destoando, tais como os das Relações Exteriores, da Educação, dos Direitos Humanos, do Meio Ambiente.

Já o contingente militar era composto pelos Gen. Heleno -Sugurança institucional, Gen. Fernando Azevedo Silva - Defesa, Gen. Carlos Alberto Santos Cruz - Secretaria do Governo, e do
Almirante Bento Costa Lima de Albuquerque - Minas e Energia.  Quatro dentre 23.

Depois de um mortícinio político, onde pelo menos oito ministros, dentre civís e militares, perderam seus cargos, observa-se que a atual composição do time Bolsonaro contêm 6 oficiais generais, um aumento de 50% desde o início do governo. Ainda, digno de nota, foi recém indicado o Gen. Eduardo Pazuello para sub-Ministro da Saúde. Estaria o recém-vindo prestes à assumir a pasta visto a relutancia de Nelson Teisch em decretar o fim do isolamento social? Provável.

Ter-se-ia, então, compondo o governo,  7 oficiais generais da ativa. Já o Gen. Mourão, vice-presidente eleito, representa um fator ainda indefinido, ora apoiando o governo, ora oferecendo um arremedo de crítica.  Não lhe impede, porém, de participar de missões governamentais.

Ora, tal quadro dificilmente isentará, perante a opinião pública,  a co-participação das Forças Armadas brasileiras no comando político da Nação. Para o bem ou para o mal.

Talvez, sejam pertinentes algumas conjecturas. Ao participar das decisões politicas tomadas pelo Executivo, os ministros militares colocam seu prestigio em jogo, e, ao faze-lo, criam uma teia interna de co-responsabilidade, assim lançando a semente do conflito de interesse entre a pessoa  política e o  profissional militar.

O erro (sendo aquilo que fere a lei ou o interesse nacional)  cometido por imposição presidencial, o que já se delinea na questão sanitária, contaminará sua farda, levando-o, ou à renuncia ao posto político ou à justificativa continua dos erros cometidos e a cometer. No segundo caso, ao permanecer no cargo, cria-se então uma crescente cumplicidade com o jogo político, levando à fragilização da ética castrenses.

A manter-se uma composição ministerial em quadro de submissão hierárquica, ter-se-á uma implícita e gradual diluição da prevalência Constitucional, acentuando a clivagem com a missão das Forças Armadas, ou seja, a defesa da Nação e não o alinhamentoa com o Governo de ocasião. Corre-se o risco de adubar-se, assim,  a germinação de um governo populista, onde a expressão "O Povo é quem manda" pretende, enganosamente, ter o Presidente por seu representante direto. Traduz-se pela desvalorização e subordinação das instituições democráticas.

São inúmeros os governos latino-americanos, africanos e asiáticos onde tal contaminação redundou na falência democrática. Observa-se na Venezuela, onde a cooptação dos militares ao governo Chavista teve por efeito a sua politização e o posterior abandono das imposições constitucionais.

A transformação de um governo democrático em projeto autoritário é conhecida. A troca de comandantes na estrutura militar e para-militar por elementos favoráveis ao Executivo, a concessão de benefícios, tanto de carreira quanto de teor material tais como salário, armamento, privilégios, ampliação de autoridade, todos estes fatores podem servir como disruptores da disciplina e da estrutura hierárquica e ética das Forças Armadas.

Para tal, a inigualável crise econômica gerada pela atual pandemia cria o terreno fértil para medidas excepcionais de poder. Em suma, todo cuidado é pouco. A Nação respeita e  precisa de suas Forças Armadas, que sejam apólíticas e que defendam a ingridade nacional, tanto geográfica quanto constitucional.



sábado, 2 de maio de 2020

Requiem ou ressurreição?



Ícaro sobrevoando o Mar Egeu - E. J. de Morais - Medium














Começou mal, e acabou pior. A venda da Embraer-civil à Boeing representou a renúncia brasileira à tecnologia e à modernidade. Vendia-se um dos poucos núcleos de excelência tecnológica no país, compartilhado com a Embrapa, o complexo Fio Cruz e mais uma lista restrita.

Graças á concordância da Golden Share do Estado (vide Jair Bolsonaro e Paulo Guedes),  foi vendido à Boeing o controle (80% do capital votante) do segmento aviação comercial.

Tal decisão, além de comercial foi, sobretudo estratégica. Renunciava-se, assim, à continuidade da capacidade tecnológica e empreendedora nacional. Transferia-se ao exterior as decisões sobre as prioridades.

Único país não desenvolvido a conquistar um sólido lugar no sofisticado mercado, como a maior produtor de aviões regionais,  o governo brasileiro e os acionistas da empresa optaram por um Brasil menor. Abriu-se mão deste status diferenciador. Também abriu-se, mão de benefícios futuros.

O desenvolvimento humano, comercial, industrial lastreia-se, cada vez mais, no desenvolvimento tecnológico. As inovações que decorrem destas empresas e de seus engenheiros inseminam, se derramam sobre o resto da economia, gerando em ritmo exponencial a capacidade inventiva, criativa, inovadora nos mais diversos campos de atividade.

A Embraer e demais empresas de ponta, não são apenas empresas; são universidades que projetam seus ensinamentos, suas experiências através do tecido sócio-econômico.

Porém, a oportunidade de substancial lucro aliado ao temor de um futuro incerto, levou os acionistas brasileiros a aceitarem a oferta de compra de 80% do capital da Embraer pela Boeing ao preço de US$ 4,2 bilhões. Proprietária de maioria acionária incontestável, criava-se a vulnerabilidade quanto a permanência da empresa no Brasil, sendo explicitada no contrato o direito de transferência geográfica de sua produção.

Se pelo lado do acionista privado, cabe-lhe a decisão, já pelo lado do acionista representante da Nação, detentor da Golden Share,  a análise de sua conveniência envolve outros fatores. Estes, não  são tão somente financeiros  mas, também, estratégicos. Constata-se, também, que o sucesso até então obtido pela Embraer deveu-se a sinergia criada por esta associação, do privado com o estatal. Do lado privado criava-se o produto de alta qualidade ajustado à demanda do mercado e, do lado estatal, provia-se a tecnologia militar e o financiamento essencial à sua comercialização.

A decisão do governo Bolsonaro em apoiar a operação revelou uma  visão da Embraer  como empresa do presente mas não do futuro. Ao defender sua venda não atribuiu valor aos benefícios diretos e indiretos, tanto no up-stream quanto no down-stream. que uma empresa aeroespacial trás ao país. Ainda, desprezou-se a crescente sofisticação das empresas  fornecedoras, de seus dirigentes e funcionários.

Não parece ter levado em conta que graças aos benefícios diretos e indiretos, empresas similares  internacionais  existem e prosperam graças aos subsídios de seus governos.

Para alguns a visão aritmética limita o futuro; despreza a inspiração e a vontade. Mas na história do desenvolvimento humano, 2+2 por vezes não resulta em 4; o conhecimento, a vontade e a ambição humana potencializam aquela soma à um valor só limitado pelo horizonte a ser conquistado. .Ao olhar-se para trás, rememorando o modesto início na produção do seu primeiro avião comercial, evidencia-se o avanço exponencial da empresa. Nos anos que se seguiram, a qualidade e a tecnologia de seus aviões, tanto comerciais quanto militares excederam o que seria, à época, a mais imprudente projeção.

Ad astra per aspera. As grandes nações desenvolvidas superaram suas limitações iniciais, lutaram por sua grandeza; unindo o homem à suas aspirações. Recusados os sonhos e desafios, prevalecem os grilhões da inferioridade que condenam toda uma Nação à subserviência internacional e à mediocridade nacional. Esta condição é a realidade tacanha que precisa ser vencida. O Brasil precisa ousar.

Novo episódio! Com o affair 737 MAX a Boeing revelou falhas, não só técnicas, mas éticas e morais. Na ânsia de manter voando o avião condenado pelas agências internacionais, tropeçou em sua incontida ambição. Terríveis as  mortes e grandes os prejuízos por sua incúria. Obrigada a rever seu plano de negócios, constata que a Embraer nele não mais se encaixa. Para desobrigar-se, acusa a sócia brasileira de descumprimento contratual...

Hoje, à Embraer, ferida pelas inevitáveis mudanças e adaptações  ao longo destes últimos dois anos sob o comando da Boeing, caberá adaptação à nova  realidade societária, e, ainda mais grave, enfrentar a depressão que atinge o setor do transporte aéreo mundo afora.

Dificilmente terá a Embraer condições de sobrevivência sem um parceiro com deep pockets. A China é lembrada como possível parceira ainda que, face à hostilidade que lhe move a diplomacia brasileira, difícil será chegar-se à um acordo.

Talvez Bolsonaro,  e Paulo Guedes tenham alguma boa ideia...





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