Pode-se dizer que o
discurso de Jair Bolsonaro nas Nações Unidas, no último do 26 de
setembro, dividiu-se em seis partes:
A primeira, ou seja sua
apresentação perante as nações que compõem as Nações Unidas, o
presidente fez-se ver como o redentor da pátria brasileira. Segundo
ele, coube-lhe afastar o socialismo, termo usado de forma constante, da política brasileira. O fez de forma radical jogando
tanto a Fabian Society quanto o partido Bolchevique, bem como Tony Blair e Vladimir Lenine como se da mesma sacola fossem.
Ignorou o governo de
Michel Temer, este sim responsável pela arregimentação das forças
parlamentares que levaram ao impedimento político de Dilma Rousseff e o
abandono do governar com pretenções socialistas. Ainda no governo
Temer medidas corretivas tais como o congelamento do gasto
orçamentário e a modernização da lei trabalhista vêm à mente.
Bolsonaro se outorgou
mais do que por enquanto merece.
Quando à sua diatribe
contra a Venezuela e Cuba, justificada na essência mais não na
forma, umas poucas frases bem costuradas teriam bastado. Se uso dos
médicos cubanos como exemplo …...... não foi feliz, pois estes
prestaram relevantes serviços a população marginalizada do país,
hoje novamente abandonada por falta de substitutos. Afinal, 3.000,00
dólares por ano e por médico não parece ser fora de propósito
haja visto a importância dos benefícios alcançados. Deveria
Bolsonaro ter-se fixado no financiamento do porto de Mariel e outros
similares, à Angola e Bolívia, estes sim emblemáticos do excesso
ideológico do governo Lula.
Seu uso contínuo do
termo “socialismo” como ogre político econômico não valorizou
suas palavras, pois mais pareciam misturar, como se fossem uma só
entidade política, sistemas de esquerda e regimes cleptomanos.
Pareceu ignorar todos os matizes dos diversos sistemas socialistas,
alguns respeitáveis, como na Escandinávia e outros execráveis como
em Cuba e Venezuela. Enfim, transmitiu Bolsonaro à uma platéia
sofisticada imagem de limitado conhecimento, desvalorizando a
eficácia do discurso.
Abrangendo a Amazônia,
refletiu a preocupação nacional quanto à inquestionável soberania
brasileira sobre a região. O puxão de orelha em presidente
estrangeiro, justo. Desnecessário, porém, dirigir-se à Srta.
Kalapalo, pessoa por todos desconhecida e não merecedora desta
atenção. Pequeno detalhe que revela pouca ou incompetente
assessoria. Onde estava o Chanceler?
Já, outra parte
acentua o combate à corrupção, novamente recorrendo ao maniqueísmo
econômico e ideológico como causa. Ao fazê-lo, Bolsonaro diminui a
eficácia de sua mensagem, uma vez que, o correto seria atribuir-se à
direção e aos quadros do Partido dos Trabalhadores a avalanche
corruptora que por pouco não afoga o Brasil. Nada tem de ideológico
mas sim de predatório.
Merece destaque o
reconhecimento perante o público internacional da inegável
contribuição do Juiz Dr. Sergio Moro. E isto no momento em que a
estrutura legal que permitiu o processo redentor se encontra em sério
risco de desmoronamento, onde forças políticas de todos os matizes
e crenças, tanto governistas quanto de oposição, se afincam nesta
tarefa. Teria a gentil menção um objetivo anestésico sobre o
agraciado, espécie de compensação por uma traição?.
Quanto à mortandade
que o crime violento traz, arroga-se o presidente o mérito pela
redução dos assassinatos no seis meses de seu governo. Justo
perguntar-se se esta bem vinda tendência não corre o risco de ser
revertida uma vez liberada a posse indiscriminada de armas, conforme
nova lei de sua responsabilidade? A história ainda não chegou ao
seu fim, mas o mérito terá sido antecipado?
Já a parte final faz
bom relato sobre a histórica fidelidade brasileira aos princípios
que nortearam a criação das Nações Unidas e o engajamento e
colaboração do Brasil ao longo de sua história.
O encerramento segue os
padrões tradicionais de privilegiar seus aliados mais próximos. Em
seguida volta-se ao cenário nacional onde, nos poucos parágrafos,
menciona “ideologia” quatro vezes, tendo por efeito confundir o
ouvinte uma vez que dá ao vocábulo a condição de adjetivo
negativo e não de substantivo neutro. Já, a citação bíblica de
“João 8.32: E conheceis a verdade, e a verdade vos libertará.”
mereceria um contexto mais claro em discurso de tão importante teor.
Sobretudo ao constatar-se que a humanidade ainda busca encontrar a
verdade, termo fugidio que depende de quem a busca.
Contudo, ao finalizar
seu discurso vê-se o toque do “guru” Olavo de Carvalho, onde
cria-se uma diferenciação imprópria entre colaboração entre
nações, vide globalização, e soberania nacional. Como se a
primeira negasse a segunda. Parece ignorar que a globalização
permitiu, em muitos momentos da história moderna, gerar
extraordinária prosperidade.
E assim encerra seu
discurso:
“Esta não é uma
Organização de Interesse Global !! É a Organização das Nações
Unidas. Assim deve permanecer !!” (sic)
O Planeta, possivelmente um pouco
confuso pela afirmação, promete meditar...
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