quinta-feira, 23 de maio de 2019

Novas regras?


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Muito se fala da "nova ordem" nascida das cinzas de segunda Guerra mundial. As nações vencedoras, tendo pago terrível preço para alcançar a vitória, chegaram ao consenso de privilegiar a paz sobre todas as coisas. Coube às Nações Unidas e aos tratados celebrados evitar nova conflagração dentre as grandes potencias.

Não era uma ideia nova. No término da primeira Grande Guerra, os vencedores criaram a Liga das Nações, proposta pelo presidente americano Woodrow Wilson. Apesar das restrições iniciais dos Impérios Inglês e Francês, ciosos de sua soberania, a argumentação pró paz levou a melhor, sendo relevante o rol das nações integrantes.

Porém o projeto fracassou, pois o Senado norte americano recusou-se a ratificá-lo. Assim nasceu a Liga com severa atrofia de autoridade, levando a instituição ao gradual descrédito e à sua dissolução às vésperas da segunda guerra.

Hoje, vemos o  americano Donald Trump descartando a relevância do multilateralismo. Redunda no enfraquecimento da Organização das Nações Unidas,  e, quiça, na dissolução da mais admirável das instituições.

O desrespeito aos tratados internacionais evidenciada pelo presidente, conforme já relatado nesta coluna, vem minando, gradualmente, a autoridade das mais diversas instituições internacionais, cuja existência permite o level playing field, dando às nações de limitado poder as condições de defesa de seus interesses.

Impulsionada pela inigualável influência que emana dos Estados Unidos, observa-se em outras regiões tendência à contrapor-se às politicas de integração entre povos e culturas, dentre as quais a União Europeia.

Assim, na Polônia, na Hungria, na Áustria, na Itália e tendo a Inglaterra como excepcional exemplo  (não no Reino Unido como um todo) revela-se a crescente rejeição ao panteismo político, retornando-se à adoração dos deuses nacionais.

Talvez, conforme nos casamentos, onde o ordenamento e o ocasional sacrifício permitem sua constância, o que implica em perda, ainda que parcial, da soberania individual, chega-se à exaustação quando vence o desejo de independência irrestrita. O mesmo, em intensidade variada, parece estar acontecendo no contexto sócio-político das entidades e sociedades que compõem o planeta.

Observa-se, assim, uma crescente força centrífuga política acentuada pela guerra econômico-tarifária ora empreendida pelo presidente norte-americano. Razoável supor-se que, a prosseguir esta tendência, tenha-se por resultado a crescente diluição e a eventual dissolução de instituições internacionais, cujo objetivo é o de trazer à mesa de negociação as desavenças, evitando o ukase imposto pelo mais forte.

Já no Brasil, surge a preocupação de ver-se o país juntar-se às forças desagregadoras da ordem constituída no pós-guerra. Seguindo os confusos e simplistas "ensinamentos" de Olavo de Carvalho, o governo neles embasou  sua política externa, descartando a essencial proteção que o multilateralismo confere à países de baixa força relativa.

Assim, açodadamente, comprometeu-se nossa política externa a abandonar a real proteção da Organização Mundial do Comércio em troca de promessa de difícil cumprimento: o ingresso na OCDE. Não bastarão recados de Trump ao Board  desta instituição para que o Brasil nela seja aceito; necessário será, antes, colocar a casa em ordem.

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