sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Eleições e contradições



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Nunca, na história moderna deste país, candidatos tão pouco respeitados e admirados compõem o quadro eleitoral. Na análise individual, a soma das suas qualidades é, não raro, suplantada pela de seus defeitos.

Ainda, desde os idos de 1964, nunca o país esteve tão polarizado entre esquerda e direita. O ódio surge do âmago de propostas ideológicas conflitantes potencializando às palavras e estimulando a violência. O inaceitável atentado contra a vida do deputado e candidato Jair Bolsonaro comprova a supremacia da emoção sobre a razão.

O colapso da ética no governo, da educação em massa, do respeito orçamentário, das projeções previdenciárias, da estruturação político-partidária, aponta para uma falência institucional cuja correção de rumo parece exigir o esforço de diversas gerações.

O ingênuo e ineficaz distributivismo tropical se confronta com a lógica da pre-condição da poupança e do investimento que, por sua vez, decorre da experiência invernal onde a frugalidade se impõe.

Observa-se o profundo fosso que separa os que investem seu tempo na busca da educação e aqueles que, por vezes pressionados por necessidades básicas, buscam solução no imediatismo, assim abandonando as oportunidades inserção econômica.

Agravando um quadro já instável, tem-se a perda da supremacia católica, tão presente na história brasileira, graças à fragmentação dos cristãos dentre as mais diversas denominações. A rivalidade pela captação das almas se dá pelo espiritualismo conservador católico, de uma lado, e pelo impositivo materialismo calvinista. Mais uma divisão na sociedade.

Esta combinação de circunstâncias parece sugerir sérias dificuldades na preservação da democracia no seu atual formato, com ambos os lados do espectro político desejando o seu "salvador da pátria". Busca-se no autoritarismo a solução.

Dando substância ao pessimismo que se alastra, o Brasil enfrenta uma expansão demográfica que ocorre nos segmentos de maior pobreza, onde o baixo nível
educacional reduz a produtividade da mão de obra nacional. No sentido inverso, torna-se preocupante o "brain drain" que sofre o país, onde crescente número de seus jovens da classe média migram para terras mais promissoras.

No campo econômico, a PEC 241 que limita, talvez excessivamente, as despesas orçamentárias parece divergir das prática vitoriosa adotadas por países desenvolvidos, como Estados Unidos e União Europeia, no enfrentamento das recessões que assolaram estes países. Enquanto lá amplia-se a base monetária, expandindo o crédito, reduzindo os juros, chegando-se à subsídios explícitos em áreas de influência sistêmica, já no Brasil aperta-se o fluxo monetário, aumenta-se as taxas de juros, permite-se a criação de oligopólios, concentra-se a atividade econômica. Em ambos os casos expande-se a dívida pública.

Não fora a atividade agrícola e sua contribuição para com as reservas cambiais do país, e a consequente confiança que inspira, a taxa de investimentos na economia brasileira seria ainda mais modesta. Por resultado cai o investimento publico e privado, reduzindo o potencial, tanto de produção quanto de emprego e consumo.

Como corolário da "malaise" econômica, o governo busca reforçar o erário mediante medidas pontuais, vendendo seus ativos e seu futuro na bacia das almas. A venda da Embraer reflete não apenas a desnacionalização de empresa bem sucedida, mas, sobretudo, a venda de parte relevante de seu futuro tecnológico. Na mesma linha observa-se o arrendamento da base de Alcântara, outrora núcleo da engenharia espacial no passado, sufocado pelo veto norte-americano. Na Embrapa, a politização de segmentos administrativos vem minando a qualidade de sua exemplar atividade na área agrícola. Desmonta-se, assim, a base tecnológica essencial à modernização e competitividade do produto "made in Brasil".

Ainda, a crescente pobreza causa a expansão da criminalidade observada em todos os quadrantes da nação. A intervenção militar no Rio de Janeeiro ainda não deu os frutos esperados. A insistência de criminalizar drogas como a reconhecidamente inofensiva maconha, alimenta o tráfico e a gestação contínua de novos contingentes criminais.

Voltando às eleições, fica a questão: qual o candidato mais apto a enfrentar tamanho desafio? Se for ele de esquerda, onde as soluções econômicas preferidas pelo destributivismo radical desafiam o bom senso e a realidade, ter-se-á um agravamento do quadro atual.

Inversamente, se o candidato vencedor da ala direita ignorar as exigências sociais das classes desassistidas ainda vítimas de enorme déficit na oferta dos serviços públicos essenciais tais como educação, saúde, habitação, segurança e transporte, então poder-se-á adiar para um longíquo futuro a redenção deste Brasil.






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