Este Blog tem o prazer de publicar colaboração do Dr. Joaquim Francisco de Carvalho com observações relevantes sobre a pretendida associação da Embraer com a Boeing.
A associação da Embraer com a Boeing, mediante a
criação de uma joint venture em que a
segunda detém 80% do controle acionário, foi objeto de copioso noticiário orquestrado
em tom de propaganda, onde o negócio aparecia como altamente vantajoso para a
Embraer.
Para estear a propaganda, citava-se a associação da
canadense Bombardier com a Airbus, esquecendo que o grupo europeu assumiu não
mais do que 50,1% do controle da sociedade e que o objetivo deste acordo é o de
ampliar o acesso das duas empresas ao mercado de jatos de médio porte (100 a 200
passageiros). Os aviões continuarão a ser produzidos no Canadá (fuselagem e cockpit) e na Irlanda do Norte (asas).
A Embraer foi criada em 1.969 por engenheiros
oriundos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que tinha sido criado
em 1950, em São José dos Campos.
Esta origem e a proximidade geográfica favoreceram uma
estreita cooperação entre pesquisadores e engenheiros das duas instituições, estimulando
o desenvolvimento da tecnologia nacional nos campos da ciência dos materiais,
eletrônica de instrumentação e controle, mecânica fina e de precisão, etc.
Na estruturação desse importante complexo
industrial, foi decisiva a participação do Estado, com sua capacidade de
investimento e compra de equipamentos e, principalmente, sua liberdade para
reinvestir parte dos lucros na transferência e adaptação de tecnologias
provenientes de países desenvolvidos, bem como na formação de engenheiros,
técnicos e operários especializados.
Foi assim que se consolidou no Brasil uma importante
indústria de equipamentos eletromecânicos, criaram-se pequenas e médias
indústrias e formaram-se milhares de engenheiros e técnicos altamente
qualificados, não apenas no campo da construção de aeronaves, mas também em
diversos segmentos industriais, em áreas como construção mecânica, equipamentos
elétricos, mecânica fina e eletrônica de instrumentação e controle. As
indústrias de autopeças e de máquinas-ferramentas, entre outras, progrediram
muito no Brasil, graças a tecnologias desenvolvidas no ITA e na Embraer.
O ativo intangível representado pelo know-how acumulado nessa espécie de “Vale
do Silício” não foi contemplado na associação com a Boeing – e esta não assume nenhum compromisso de manter no Brasil as atividades de
pesquisa/desenvolvimento aqui desenvolvidas.
A Boeing concentra nos Estados Unidos toda a
fabricação de seus aviões. É pouco provável que a joint venture por ela controlada tenha interesse por contratar serviços
com firmas de engenharia brasileiras, muito menos por adquirir componentes
fabricados no Brasil, de modo que, de certeza,
serão extintas muitas empresas-satélites da Embraer, perdendo-se assim milhares
de postos de trabalho qualificado, exatamente
como vem acontecendo com as empresas de energia elétrica, que começaram a ser
vendidas para grupos estrangeiros durante o governo FHC. E por aí vai-se
desindustrializando o Brasil.
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