sábado, 15 de setembro de 2018

Redesenhando os inimigos


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Nuvens negras se acumulam e os Estados Unidos podem evitá-las.

300.000 soldados russos e 60.000 militares chineses encontram-se nos confins da Ásia, onde a Rússia e a China fazem fronteira.Estes exercícios militares, os maiores já vistos desde o término da guerra fria, incluem tanques, aeronaves, e demais apretrechos bélicos.

A mensagem parece clara: ”não interfiram em nossa segurança, ou haverá guerra!”

Já faz muito tempo, enquanto Gorbachov desmontava o colosso Soviética, surgiu um clima de paz entre as duas grandes potencias, a União Soviética e os Estados Unidos da America. Promessas foram trocadas e a paz anunciada. Enquanto os exércitos do Pacto de Varsóvia eram desmobilizados e Moscou se retirava dos países do Leste Europeu, os Estados Unidos, por intermédio de seu Secretario de Estado, James Baker, dava ao líder russo a garantia a desmobilização da OTAN.

Enquanto persistia a paridade de forças, fáceis eram as juras de amor. Deu-se a substituição democrática de Gorbachov por Boris Yeltsin. Simultaneamente, desmontava-se a União Soviética, e sua sucessora, a Rússia, abria mão de seus mensos territórios conquistados à época dos Tsares. Foram-se o imenso Cazaquestão e os demais “Stãos”. Foram-se a Georgia, a Armênia e o Azerbaião.

Nos primeiros momentos a política adotada por Washington rendeu importantes frutos. Co-optou a gratidão das nações do Leste Europeu, aproximou-se das recém independizadas repúblicas ex soviéticas, e, sobre tudo, passou a exercer forte e direta influência sobre o próprio presidente russo, Boris Yeltsin. Cenas de explícita simpatia, entre Bill Clinton e Boris Yeltsin, percorreram todas as mídias do planeta.

Assim, as negociações que se iniciaram com interlocutores de poder equivalente tornou-se, em pouco tempo, um diálogo entre poderes desiguais. A partir de 1991, face ao hegemônico Estados Unidos a Rússia perdia seu poder, tanto militar quanto econômico. A transição de uma economia comunista para capitalista, instalada por Boris Yeltsin, causou, à época, o colapso de sua economia.

A partir deste desequilíbrio de forças houve fundamental mudança nos objetivos que orientavam os Estados Unidos. Estes, incólumes em seu poder, confrontou-se com uma Rússia exaurida. Deixara de ser uma ameaça, tornando-se uma presa fácil. O diálogo deixara de ser entre potencias, mas sim entre o poderoso e o débil interlocutor.

De imediato, manteve-se a OTAN, cooptando-se novos parceiros componentes da Europa Oriental; seguindo-se sua expansão até o limite das fronteiras russas e de estados tampão que protegiam a Rússia.. Não mais era tempo de concessões mas sim de imposições. Neste momento os Estados Unidos passaram a priorizar, não mais uma relação baseada na interlocução pacificadora e integradora, mas sim na subordinação de Moscou aos seus interesses de curto prazo. Abandonou-se uma política de paz duradoura.

Ainda no governo Yeltsin, a boa vontade mutua foi desfeita pelo ataque à Sérvia, centenária aliada de Moscou, visando a independência do Cosovo, até hoje contestada e incompreendida. Ainda, a interferência de Washington na rebelião interna da Chechênia, parte do território russo, levou Yeltsin a afastar-se de Clinton. Já no governo de Vladimir Putin, a situação degradou-se coma interferência americana na Georgia e na Urânia, pretendendo “otanizar” estes países limítrofes. Inevitavelmente, levou à queda das boas relações.

Já no continente asiático, o quadro geo-político revela crescente hostilidade entre os Estados Unidos e a China. Neste contexto torna-se importante, senão crucial, a captura diplomática da Rússia, seja por Washington seja por Pequim. Quem com a Rússia se aliar terá por prêmio a inquestionável preponderância nuclear e o benefício geográfico-estratégico graças à incomparável extensão de seu território Ainda, a permitir-se por omissão a consolidação da aliança russo-chinesa a soma dos dois exércitos ampliaria exponencialmente o poder e influência geo-politica do recém-formado bloco.

Tal reformatação no poder entre os dois blocos principais aumenta a probabilidade de conflitos regionais que caracterizaram as “proxy wars”(¹) tão frequentes na Guerra Fria. Mas este cenário pode ser evitado. Ainda há tempo para Washington rever e abandonar sua política de confrontação com Moscou.

Contrariamente à China, a Rússia não é uma ameça à segurança nacional americana, nem tem condições de rivalizar os interesses econômicos e políticos de Washington. Esta afirmação baseia-se na disparidade de forças entre os dois países. A Rússia de hoje é pobre(²) e de pequena população(³). Sua capacidade de defesa contra o colosso americano restringe-se à retaliação nuclear. Por ser opção de mútua destruição, pode ela ser descartada.

Havendo reaproximação entre estas duas capitais reverter-se-ia o perigoso quadro atual, afastando-se o urso russo da rivalidade que se acentua entre a águia americana e o dragão chinês.

(1) Gerra por procuração
(2) PIB aproximado ao do Brasil
(3) Apenas 145 milhões de habitantes





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