Nuvens negras se
acumulam e os Estados Unidos podem evitá-las.
300.000 soldados russos
e 60.000 militares chineses encontram-se nos confins da Ásia, onde a
Rússia e a China fazem fronteira.Estes exercícios militares, os
maiores já vistos desde o término da guerra fria, incluem tanques,
aeronaves, e demais apretrechos bélicos.
A mensagem parece
clara: ”não interfiram em nossa
segurança, ou haverá guerra!”
Já faz muito tempo,
enquanto Gorbachov desmontava o colosso Soviética, surgiu
um clima de paz entre as duas grandes potencias, a
União Soviética e os Estados Unidos da America. Promessas
foram trocadas e a paz anunciada. Enquanto
os exércitos do Pacto de Varsóvia eram desmobilizados e Moscou
se retirava dos países do Leste Europeu, os Estados Unidos,
por intermédio de seu Secretario de Estado, James
Baker, dava ao líder russo a garantia a
desmobilização da OTAN.
Enquanto
persistia a paridade de forças, fáceis
eram as juras de amor. Deu-se a substituição democrática de
Gorbachov por Boris Yeltsin. Simultaneamente,
desmontava-se a União Soviética, e sua
sucessora, a Rússia, abria mão de
seus mensos territórios conquistados à
época dos Tsares. Foram-se o imenso Cazaquestão e os demais “Stãos”. Foram-se a Georgia, a Armênia e
o Azerbaião.
Nos primeiros
momentos a política adotada por Washington rendeu importantes
frutos. Co-optou a gratidão das nações do Leste Europeu,
aproximou-se das recém independizadas repúblicas ex soviéticas, e,
sobre tudo, passou a exercer forte e direta influência sobre o
próprio presidente russo, Boris Yeltsin.
Cenas de explícita simpatia, entre Bill
Clinton e Boris Yeltsin, percorreram todas as mídias do planeta.
Assim,
as negociações que se iniciaram com
interlocutores de poder equivalente
tornou-se, em pouco tempo, um diálogo
entre poderes desiguais. A
partir de 1991, face ao hegemônico Estados
Unidos a Rússia perdia seu poder, tanto
militar quanto econômico. A transição de
uma economia comunista para capitalista, instalada por Boris Yeltsin,
causou, à época, o colapso de sua economia.
A partir deste
desequilíbrio de forças houve fundamental
mudança nos objetivos que orientavam os Estados
Unidos. Estes, incólumes em
seu poder, confrontou-se com uma Rússia
exaurida. Deixara de ser uma ameaça, tornando-se
uma presa fácil. O diálogo deixara de ser
entre potencias, mas sim entre o poderoso e o débil
interlocutor.
De imediato, manteve-se
a OTAN, cooptando-se novos parceiros
componentes da Europa Oriental; seguindo-se sua expansão
até o limite das fronteiras russas e de
estados tampão que protegiam a Rússia..
Não mais era tempo de concessões mas sim de imposições. Neste
momento os Estados Unidos passaram a priorizar, não mais uma relação
baseada na interlocução pacificadora e
integradora, mas sim na subordinação
de Moscou aos seus interesses de curto
prazo. Abandonou-se uma política de paz duradoura.
Ainda
no governo Yeltsin, a boa vontade mutua foi desfeita pelo ataque à
Sérvia, centenária aliada de Moscou, visando a independência do
Cosovo, até hoje contestada e incompreendida. Ainda, a interferência de Washington na rebelião
interna da Chechênia, parte do território russo, levou Yeltsin a afastar-se de Clinton. Já
no governo de Vladimir Putin, a situação degradou-se coma
interferência americana na Georgia e na Urânia, pretendendo
“otanizar” estes países limítrofes. Inevitavelmente, levou à
queda das boas relações.
Já
no continente asiático, o quadro geo-político revela crescente
hostilidade entre os Estados Unidos e a China. Neste contexto
torna-se importante, senão crucial, a captura diplomática da
Rússia, seja por Washington seja por Pequim. Quem com a Rússia se
aliar terá por prêmio a inquestionável preponderância nuclear e o
benefício geográfico-estratégico graças à incomparável extensão
de seu território Ainda, a permitir-se por omissão a consolidação da aliança
russo-chinesa a soma dos dois exércitos ampliaria exponencialmente o poder e influência geo-politica do
recém-formado bloco.
Tal
reformatação no poder entre os dois blocos principais aumenta a
probabilidade de conflitos regionais que caracterizaram as “proxy
wars”(¹) tão frequentes na Guerra Fria. Mas este cenário pode
ser evitado. Ainda há tempo para Washington rever e abandonar sua
política de confrontação com Moscou.
Contrariamente
à China, a Rússia não é uma ameça à segurança nacional
americana, nem tem condições de rivalizar os interesses econômicos
e políticos de Washington. Esta afirmação baseia-se na disparidade
de forças entre os dois países. A Rússia de hoje é pobre(²) e de
pequena população(³). Sua capacidade de defesa contra o colosso
americano restringe-se à retaliação nuclear. Por ser opção de
mútua destruição, pode ela ser descartada.
Havendo
reaproximação entre estas duas capitais reverter-se-ia o perigoso
quadro atual, afastando-se o urso russo da rivalidade que se acentua entre a águia americana e o dragão chinês.
(1) Gerra por procuração
(2) PIB aproximado ao do Brasil
(3) Apenas 145 milhões de habitantes
Nenhum comentário:
Postar um comentário