Não é tão grave quanto parece, é
tão somente o apelido do General Jim Mattis, ministro da Defesa dos
Estados Unidos, que agora nos visita.
Depois de longo período de afastamento
e indiferença, os Estados Unidos iniciam uma reaproximação. Compreende-se que para
Washington a América Latina não é prioritária, exceto quando algum
evento ameace seus interesses.
No passado, quando os tentáculos comunistas a
todos ameaçavam, quando o gigante Soviético expunha as suas garras, Washington dedicava especial atenção à América do Sul, agindo
comercialmente, politicamente e, quando necessário, militarmente.
Não tolerava concorrência em seu “quintal”. E sua ajuda era,
para a maioria, bem vinda.
Com o desmoronamento soviético, outras
prioridades ocuparam o tempo e pensamento do que se tornara o Império
inconteste, relegando à plano terciário suas relações com a
América Latina. Até chegar-se à emergência da China, sua expansão
econômica e política no âmbito internacional, surpreendeu o mundo
e, particularmente os Estados Unidos. Surgiu um desequilíbrio
nocivo ao confortável status quo até então reinante.
Hoje a China é a maior parceira
comercial do país, principal responsável pela invejável solidez
das reservas cambiais do Brasil. O investimento direto no país
ultrapassa, em 2017, chegando a 40 bilhões de dólares, contrastando com a hoje
modesta contribuição de capitais oriundos dos Estados Unidos.
À luz deste alerta, Washington
abandona sua complacência, ao constatar que o vácuo deixado por
sua anêmica politica vem sendo preenchido pela China, seu maior
rival geopolítico. A missão do General Mattis parece visar,
sobretudo, a reversão da atual tendência. O tom usado pelo militar
foi de alerta contra a ameaça que a presença chinesa traria para a
segurança brasileira Destaca-se sua frase,“cuidado com os
investimentos e presentes vindos da China”.
Outro item da agenda do general
norte-americano é a Venezuela. Sua produção de petróleo é
importante para os Estados Unidos; sua redução ou interrupção
teria consequências relevantes para a economia norte-americana. A instabilidade política em região de importância estratégica, sua tendência socialista e, ainda, a aproximação russa e chinesa ao regime
Chavista é, no mínimo, incômoda. Urge, portanto, uma correção de
rumo.
A ascenção do novo presidente
colombiano, Ivan Duque, discípulo do linha dura Alvaro Uribe, fiel
aliado de Washington, sugere ambiente que permita postura mais contundente de Washington
para com Caracas. A ida de Mattis à Bogotá após esta visita ao
Brasil reforça a suspeita de que uma intervenção militar, direta
ou indireta, não deva ser descartada. A chegada à Colômbia de navio
hospitalar da marinha dos Estados Unidos, especializado em medicina
militar não parece ser irrelevante. Vale a especulação: estariam
nas cartas uma reedição da aventura da Bahia dos Porcos (1) onde
armas e apoio logístico colombo-americano seriam oferecidos à rebeldes venezuelanos?
Tendo a recente visita do Secretário
de Estado norte-americano ignorado o Brasil em seu périplo pela
America do Sul, não parece ser desimportante a escolha de um general
chefe do Pentágono, a maquina bélica mais poderosa do planeta, como
interlocutor com as autoridades brasileiras. Mais valerá falar com
os generais brasileiros do que interagir com o segmento político
nacional? Que dirão as entre-linhas? Qual a interface e relação
entre os dois exércitos nos assuntos abordados? Tendo sido o canal
militar preferido pelo governo Trump, parece importante e
necessário conhecer-se a extensão do diálogo ocorrido.
Para a sociedade brasileira, a
sugestão de que sua relação pacífica com a China mereça atenção
militar estrangeira é surpreendente e indesejável.. Parece
contrariar a prioridade que cabe ao Brasil de expandir e diversificar
sua presença comercial no planeta enquanto mantendo relações
construtivas com todos os parceiros.
1) Invasão de Cuba por força paramilitar composta de refugiados cubanos, treinados e armados pela CIA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário