quinta-feira, 30 de agosto de 2018

A Tríade

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Esta jovem senhora terá sua cabeça decepada pela espada do verdugo Saudita nos próximos dias. Não se trata de metáfora; a informação é literal. Seu crime foi o de protestar, sem violência, contra a perseguição movida pelos Rei e príncipes sauditas contra a minoria xiita, da qual faz parte. Face à tão cruel ato, onde estarão os protestos das chancelarias Ocidentais?

O silêncio talvez se deva à instalação de uma tríade que está em vias de dominar o Oriente Médio. Esta é composta, no seu ápice, por um país, os Estados Unidos, que se transforma. Seus aliados, o Estado de Israel, que hoje traz a religião como base nacional, aproximando-se de uma teocracia, e o mais retrógrado dos Reinos, a teocrática Arábia Saudita.

Sob o comando de Bibi Netanyahu (apelido de criança inocente?) destila-se agressividade, refletida na ocupação policial e militar da Cisjordânia cujos cidadãos respondem com violência só admissível quando se lhes roubam as terras dos antepassados milenares. Bem próxima, a prisão em que se tornou a faixa de Gaza, tendo por carcereiros os exércitos Israelense e Egípcio, alimentando o domínio do cruel e violento Hamas. Garante-se, assim, a perenidade do ódio e da matança.

Do lado saudita descortina-se uma das mais cruéis guerras da história moderna, onde um genocídio está em curso no Iêmen. Construídos, armados e abastecidos por Washington, aviões Sauditas despejam indiscriminadamente suas bombas tendo por alvos qualquer aglomeração, seja ela de militantes armados, crianças na escola, casamentos ainda felizes, hospitais repletos. Todos merecem a atenção do Príncipe Salman, filho e dono do Rei.

Não apenas as Nações Unidas, mas todas as organizações humanitárias do planeta manifestam-se contrárias ao horror que se instala no Sul da península Arábica, líder na geografia da pobreza mundial. Neste momento, a propagação da cólera dentre suas crianças atinge níveis de genocídio.

E sobre estes Cavaleiros da Guerra reina Donald Trump, o Belzebú. Com a riqueza de Baal e a crueldade de Zebub.








sábado, 25 de agosto de 2018

A nova Doutrina Monroe


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Já lá vão 200 anos. O então presidente James Monroe promulgou a Doutrina Monroe, onde os Estados Unidos considerava contra seus mais profundos interesses qualquer ingerência política Européia nas Américas e, muito menos, qualquer veleidade expansionista ou  ação armada tendo por alvo as Américas. A aplicação do "ukase" cabia, exclusivamente, ao colosso Americano. Assim, tanto o Centro como o Sul do continente tornou-se, em graus diferentes, um quintal dos Estados Unidos.

À expulsão da Espanha do solo Americano seguiu-se a guerra, concedendo lhe grandes vantagens econômicas e estratégicas. Ainda, as intervenções armadas, diretas ou indiretas, no Caribe e países centro americanos fez parte da politica externa de Washington até os anos 80 do Século XX.

Com a queda da União Soviética tal política abrandou-se, uma vez que o que poderia ser considerado ameaça à segurança dos Estados Unidos não mais se manifestava. A solução armada  tornou-se obsoleta.

Porém, o Século XXI apresenta relevante mudança no quadro geo-político. A expansão geométrica da economia chinesa e a resultante independência econômica-militar que se seguiu permitiu a Peking  sua liberação das pressões e advertências norte-americanas. Defronte de desafio hercúleo de trazer prosperidade para um bilhão e trezentos milhões cidadãos, a China, com produção insuficiente em alimentos e matérias primas, busca no comércio internacional as condições de suprimento estável e crescente.

Para fazê-lo, torna-se imprescindível reforçar a constância no relacionamento internacional. Ou seja, Xi Jinping tem interesse em garantir o longo prazo de suas relações geo-políticas. Tornar seus investimentos e compras no exterior em elemento de fricção política seria visceralmente contrário a seus objetivos; inversamente, a boa vontade gerada por tais investimentos e comércio junto às nações receptivas reforçaria a confiabilidade dos suprimentos de que tanto necessita. Quanto ao Brasil, face à penúria que aflige o erário brasileiro, onde capitais faltam para a retomada de seu desenvolvimento.

Eis quando surge o renascimento da Doutrina Monroe. Enunciada por diferentes agentes  do governo norte-americano, a mensagem começa a chegar às capitais latino-americanas. Do pequeno El Salvador ao gigante Brasil a advertência é clara: capitais chineses são perigosos, devem ser evitados, sua proliferação é contrária aos interesses da região, vide Washington.

As eventuais retaliações não são do conhecimento público. A extensão da agenda trazida recentemente pelo General Mattis é desconhecida apesar de sua advertência ter chegado à imprensa. Já no caso de El Salvador  a ameaça foi divulgada: não atendimento resultará em represália econômica.

Neste contexto vale lembrar a nova arma no arsenal dos Estados Unidos, cada vez mais usado em suas controvérsias internacionais: as Sanções financeiras. Sem o uso sequer de uma bomba ou um tiro, esta nova arma pode destruir uma nação, pois a sua decretação obriga a solidariedade, ainda que involuntária, dos demais "players" na economia mundial.

Estarão as Américas diante de um retrocesso Imperial, onde os súditos não terão  alternativa senão curvar-se?

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Inteligência Artificial


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A última edição da prestigiosa revista norte-americana, "The Atlantic" publica notável artigo de Henry Kissinger sobre o avanço avassalador da Inteligência Artificial. Deve ser lido.

Engendrada por exímios programadores, aliados a extraordinários computadores de crescente capacidade processual a Inteligência Artificial  já encontra, através da auto evolução de seus algoritmos, soluções que escapam à capacidade intelectual de seus criadores.

A  IA recebe do homem o núcleo de uma missão mas não se atém somente a ela, uma vez que,  para desbravar seu caminho busca não apenas a resposta mas todas as respostas à todas as perguntas levantadas em todas as possíveis opções. Nesta jornada abre portas insuspeitas, e por elas adentra ampliando e expandindo e deixando no rastro a missão original, adquirindo mais conhecimento, mais poder.

Tal poder, potencializado pela capacidade de interação com os demais núcleos computacionais mundo afora, permite imaginar uma IA sem limites, sejam eles geográficos, sejam eles éticos. Ao dominar a interação de rede computacional em ilimitada expansão, torna-se ilimitada, também, a abrangência de sua "missão" bem como seus objetivos e atuação, ampliados por moto próprio. Cada etapa trás no seu bojo a necessidade de mais outra. Tomando a si as rédeas de sua ação, não mais dependerá do ser humano.

Cria-se a nova fonte de poder. Chega-se ao momento da submissão do homem pela incontida progressão da lógica numérica, onde a criatura cibernética torna-se dominante.

A não ser que, desde já, insira-se no "chip" deste Frankenstein incorpóreo a mágica da música, a inspiração do amor, a admiração do belo.
   


sábado, 18 de agosto de 2018

A visita do Cão Louco


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Não é tão grave quanto parece, é tão somente o apelido do General Jim Mattis, ministro da Defesa dos Estados Unidos, que agora nos visita.

Depois de longo período de afastamento e indiferença, os Estados Unidos iniciam uma reaproximação. Compreende-se que para Washington a América Latina não é prioritária, exceto quando algum evento ameace seus interesses.

No passado, quando os tentáculos comunistas a todos ameaçavam, quando o gigante Soviético expunha as suas garras, Washington dedicava especial atenção à América do Sul, agindo comercialmente, politicamente e, quando necessário, militarmente. Não tolerava concorrência em seu “quintal”. E sua ajuda era, para a maioria, bem vinda.

Com o desmoronamento soviético, outras prioridades ocuparam o tempo e pensamento do que se tornara o Império inconteste, relegando à plano terciário suas relações com a América Latina. Até chegar-se à emergência da China, sua expansão econômica e política no âmbito internacional, surpreendeu o mundo e, particularmente os Estados Unidos. Surgiu um desequilíbrio nocivo ao confortável status quo até então reinante.

Hoje a China é a maior parceira comercial do país, principal responsável pela invejável solidez das reservas cambiais do Brasil. O investimento direto no país ultrapassa, em 2017, chegando  a 40 bilhões de dólares, contrastando com a hoje modesta contribuição de capitais oriundos dos Estados Unidos.

À luz deste alerta, Washington abandona sua complacência, ao constatar que o vácuo deixado por sua anêmica politica vem sendo preenchido pela China, seu maior rival geopolítico. A missão do General Mattis parece visar, sobretudo, a reversão da atual tendência. O tom usado pelo militar foi de alerta contra a ameaça que a presença chinesa traria para a segurança brasileira  Destaca-se sua frase,“cuidado com os investimentos e presentes vindos da China”.

Outro item da agenda do general norte-americano é a Venezuela. Sua produção de petróleo é importante para os Estados Unidos; sua redução ou interrupção teria consequências relevantes para a economia norte-americana. A instabilidade política em região de importância estratégica, sua tendência socialista e, ainda, a aproximação russa e chinesa ao regime Chavista é, no mínimo, incômoda. Urge, portanto, uma correção de rumo.

A ascenção do novo presidente colombiano, Ivan Duque, discípulo do linha dura Alvaro Uribe, fiel aliado de Washington, sugere ambiente que permita  postura mais contundente de Washington para com Caracas. A ida de Mattis à Bogotá após esta visita ao Brasil reforça a suspeita de que uma intervenção militar, direta ou indireta, não deva ser descartada. A chegada à Colômbia de navio hospitalar da marinha dos Estados Unidos, especializado em medicina militar não parece ser irrelevante. Vale a especulação: estariam nas cartas uma reedição da aventura da Bahia dos Porcos (1) onde armas e apoio logístico colombo-americano seriam oferecidos à rebeldes venezuelanos?

Tendo a recente visita do Secretário de Estado norte-americano ignorado o Brasil em seu périplo pela America do Sul, não parece ser desimportante a escolha de um general chefe do Pentágono, a maquina bélica mais poderosa do planeta, como interlocutor com as autoridades brasileiras. Mais valerá falar com os generais brasileiros do que interagir com o segmento político nacional? Que dirão as entre-linhas? Qual a interface e relação entre os dois exércitos nos assuntos abordados? Tendo sido o canal militar preferido pelo governo Trump, parece  importante e necessário conhecer-se a extensão do diálogo ocorrido.

Para a sociedade brasileira, a sugestão de que sua relação pacífica com a China mereça atenção militar estrangeira é surpreendente e indesejável.. Parece contrariar a prioridade que cabe ao Brasil de expandir e diversificar sua presença comercial no planeta enquanto mantendo relações construtivas com todos os parceiros.

1) Invasão de Cuba por força paramilitar composta de refugiados cubanos, treinados e armados pela CIA.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Economia e eleições


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Falar de política sem levar em conta o imenso desemprego e a estratosférica taxa de juros bancários será, ao ver de muitos, clara rejeição da realidade. Quanto maior for o tempo para a solução destes dois desafios, maior será a radicalização das soluções oferecidas pelo estamento político, já exacerbado pelas iminentes eleições.

Para o observador dos meandros de nossa economia, tem-se por destaque o enorme desemprego que fustiga o país, e a consequente morosidade na melhoria da economia brasileira. Será o desemprego causa ou efeito? Ou terá sido efeito de medidas econômicas inapropriadas mas que, agora, se torna causa da estagnação vigente? Ainda, a penúria e sofrimento  que afeta o desempregado são  potencializados pelas taxas de juros inéditas no planeta que, pela sua magnitude, impedem qualquer re-equilíbrio financeiro do devedor. Os desempregados já somam 13,5  milhões de brasileiros enquanto  o número de inadimplentes bancários chega a 61 milhões.

A ortodoxia econômica indica que a solução do desemprego adviria da recuperação dos investimentos, por sua vez resultado de maior segurança política, fiscal e jurídica, o que exigiria profundas e difíceis negociações na esfera política. Sem dúvida, o conceito é correto.  Porém, será possível esperar tanto, 5 ou 6 anos, para retornar-se ao pleno emprego? Ou torna-se premente buscar-se medidas administrativas que induzam à absorção, o quanto antes, da massa desempregada?

E, ainda, pergunta-se: deveria ser a contenção de gastos prioritária, conforme propugna a ortodoxia econômica  e como defendia o presidente Hoover acentuando a Grande Depressão americana, ou, inversamente, dever-se-ia buscar no aumento de gastos e investimentos públicos, conforme preferência de Roosevelt em 1933 bem como as intervenções de  Bush e Obama na primeira década do Século XXI em busca da retomada econômica?

Deveria a taxa de juros manter-se nos píncaros atuais, ou deveria ser drasticamente reduzida, conforme ocorrido ao reverter-se a recente Grande Recessão norte-americana?

Tudo indica que o adiamento na solução destes problemas que esmagam uma relevante parte da população brasileira poderá redundar em forte desequilíbrio sócio-político, ameaçando a segurança nacional. Para os que julguem exagerada tal avaliação, basta observar-se o acentuado aumento da criminalidade no país, onde o número de  assassinatos excedeu 63 mil no ano de 2017.

A falta de perspectiva para tão grande segmento de cidadãos, alijado da vida digna e financeiramente segura, poderá levar estes desamparados à exasperação e à radicalização.

Mesclam-se estas importantes tensões sociais ao ambiente eleitoral, onde os candidatos buscam suas prioridades, prometendo tudo que se lhes passa pela cabeça. Dentre eles destaca-se candidato imbuído de bem servir o país, porém com personalidade impositiva tendente ao radicalismo, pronto a atropelar obstáculos que impeçam o que considera ser necessário. Ao eleitor convém a reflexão de que tal candidato, apesar de tido por ser de direita, parece sugerir que não favorecerá este ou aquele espectro segmento da sociedade, podendo a criatura voltar-se contra as instituições e seus criadores que tolham seus objetivos.

Agravando o cenário político brasileiro, observa-se que aproximadamente 50% do eleitorado manifesta-se alheio à escolha de candidato. Tal alienação sugere perda de confiança no processo eleitoral e naqueles que o representam. Tamanha massa de manobra poderá desfazer e criar novos cenários, ao que tudo indica, contrários ao status quo.

Vale a opinião que nunca foi tão difícil, na história política brasileira, bem escolher o próximo Presidente da República.