quarta-feira, 9 de maio de 2018

Trump e o Tratado

Resultado de imagem para mapa oriente médio

Com palavras inflamadas o presidente americano anunciou em 8 de maio  a retirada de seu país do acordo nuclear com o Irã. A decisão parece, a primeira vista, impulsiva. Porém, ao observar-se a sequência de fatos anteriores, lícito será concluir-se que cuidadoso planejamento antecedeu a declaração de ontem.

As recentes reuniões, presenciais e telefônicas,  entre Donald Trump e Benjamim Netanyahu parecem indicar, por objetivo, não apenas o  estreitamento dos laços entre os dois países mas, também,  preparar, quando conveniente, um ataque às instalações de misseis e centrífugas de urânio do Irã.

Ao repudiar o tratado, Trump declara um estado de pre-guerra com o Irã, uma vez que, descartando as obrigações contratuais assumidas pelo governo dos Estados Unidos, assume posição de intensa hostilidade. O faz em estreita consonância com Israel, a ponto de Netanyahu preparar uma justificativa pública através da mídia internacional, para, em seguida, finalizar o destrato.

Outros fatos reforçam esta suspeita. A cessão à Israel dos modernos F 35 à Tel Aviv, aviões com a autonomia necessária para executar  missões contra o Irã, não parece ser coincidência. Ainda, a recente aproximação de Israel à Arábia Saudita, intermediada por Washington, possibilita o sobrevoo da península Arábica, necessário para atingir-se o território iraniano.

Vendo-se liberado por Washington para a guerra, Israel não poupará os alvos na Síria e no Líbano onde se situam ativos militares pró-Irã. Tais ataques, ao ocorrerem, criarão sérios embaraços à Moscou, aliado de Damasco.

Existem, assim, neste  momento, todas as condições para o inicio de mais uma aventura bélica no Oriente Médio-Próximo, cujo consequente desmoronamento lembrará os efeitos da invasão do Iraque empreendida por George W Bush.

Mas os efeitos da retirada do tratado anti-nuclear não se limitam à inimigos e armamento. Afetam seriamente os interesses econômicos de seus aliados.

The international reach of US sanctions makes the US the economic policeman of the planet, and that is not acceptable, é a recente  declaração do Ministro  das Finanças francês, Bruno Le Maire.

O volume de negócios empreendidos pela União Europeia e o Irã em 2107 atingiu 25 bilhões de Euros. Em consequência das fortíssimas sanções econômicas  a serem aplicadas pelos Estados Unidos ao Irã, as empresas européia vir-se-ão compelidas a renunciar a seus negócios face à retaliação do Tesouro norte americano.

França e Alemanha já manifestaram sua extrema preocupação no que denominam de "sanções secundárias", ou seja, aquelas que penalizam a atividade de empresas europeias nos Estados Unidos, por negociarem com empresas e governo iranianos.(¹)

Alarga-e assim o fosso entre os interesses de Washington e Bruxelas. Já por diversas e cada vez mais frequentes manifestações levanta-se a questão de quão convergente será a atual política externa norte americana com àquela da União Europeia. A resposta vem sendo cada vez mais negativa.

1. Vide artigo desta coluna "Sanções e Crime" de 12 de abril p.p.



Nenhum comentário: