domingo, 13 de agosto de 2017

Venezuela e o furacão

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O governo Bolivariano reflete o resultado de uma formulação política em desastrada busca por justiça social desprezando, no entanto, a disciplina que a economia impõe para atingir-se uma equilibrada riqueza nacional. Ainda, ultrapassando o período Chavista, Maduro elimina, através do autoritarismo, o “feed back” dos diversos segmentos sociais e econômicos, necessários ao ajuste e à correção de rumo político e econômico, exercício essencial ao sucesso do projeto.

Por resultado tem-se um país em estado pré-falimentar apesar de sua imensa riqueza decorrente do petróleo, onde os investimentos cessaram, onde a inflação atinge mais de 700% a.a., onde seu PIB, mensurado pelo poder de compra, despencou mais de 20% entre 2014 e 2016.

Hoje, a Venezuela é uma país empobrecido socialmente, desorganizado economicamente, desabastecido comercialmente, amordaçado politicamente.

Uma observação mais abrangente sobre a questão venezuelana revela uma progressão que se encontra em muitos países latino americanos. Nestes, a percepção do desequilíbrio econômico e social entre as classes que compõem a sociedade, contida enquanto regimes fechados, vêm à tona ao instalar-se a democracia. A prevalecer tais desproporções, as forças políticas se congregam em torno da maioria eleitoral que abrange, sobretudo, o lúmpen, de modesto nível cultural. Torna-se assim, presa fácil do discurso das soluções milagrosas, das medidas salvadoras. Daí para a entronização do populismo, é um pequeno passo.

Seguindo este modelo, o movimento Chavista herdou do presidente Caldera um país rico, porém para poucos. Seu nível de pobreza atingia, no último ano de seu governo, 50% da população, o Índice de Desenvolvimento Humano oscilava em 67, o Índice de Gini em 49.

Com Chaves, estes índices evoluiram para 36%, 76, e 39* . Porém, ao corrigir estas relevantes distorções e colher a irrestrita admiração do povo, caiu na armadilha da omnisciência e do desprezo às realidades que regem o comportamento da economia. Seu sucessor, Nicolás Maduro, tão mais despreparado quanto mais profundo o desregramento público, enveredou para a ditadura explícita buscando na morte de opositores o silêncio, ceifando a vida de cidadãos indignados.

Após longo período, hoje surgem reações de um povo não mais admirado, mas, sim, revoltado. Tal reação não mais se atêm à ações políticas mas, também armadas. Talvez seja um começo que venha provocar a centelha que leve à derrubada da ditadura, o redirecionamento da Venezuela.

Pois no momento em que as primeiras luzes prenunciam a reversão de quadro tão nefasto, tem-se a manifestação de outro “player”, conhecido pela suas impensadas intervenções. Ao ameaçar militarmente a Venezuela, Donald Trump torna mais difícil a arregimentação do movimento oposicionista. A ojeriza que pauta o mundo Latino Americano às intervenções de Washington ao longo se sua história, exerce poder aglutinador contrário às ameaças “yanquis” e, por analogia inversa, acentua o apoio às suas pretensas vítimas. Assim, corre-se o risco de Maduro receber de Washington inesperada blindagem.

Para atenuar os estragos causados pela Casa Branca, e seguindo caminho inverso, agiu bem o Itamaraty ao levar o Mercosul a formalmente recomendar a repulsa à solução armada externa, privilegiando o diálogo e a diplomacia como instrumento para a solução. Em outras palavras, cabe aos venezuelanos, politicamente se possível, armados se necessário, reconduzir seu país à trilha da democracia. Ao Brasil a atual situação venezuelana representa um risco à sua segurança, cabendo-lhe auxiliar as iniciativas, ostensivas ou não, que restaurem a democracia naquele país.


* Quanto menor o Índice Gini, melhor a distribuição de renda do país


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