terça-feira, 22 de agosto de 2017

Charlottesville


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Após uma tumultuada semana, onde dois grupos ou facções se enfrentaram em Charlottesville cabem algumas observações sobre o impacto resultante na opinião pública norte americana. Recente pesquisa realizada pelo Washington Post coloca o assunto em perspectiva surpreendente; o repúdio à posição do presidente Trump não é tão extenso como fazia supor os clamores da grande imprensa norte-americana. Conquanto a maioria repudiou tanto o presidente como o comportamento dos brancos supremacistas, pode-se concluir que o lado oposto, os que defendem a permanência dos símbolos Confederados, é surpreendentemente elevado.

Trinta por cento dos adultos americanos apoiaram o protesto contra a derrubada das estatuas confederadas, 62% dos republicanos também. Enquanto 42% dos consultados consideram as declarações de Trump como racistas, 35% discordam e, talvez mais importante, 23% não manifestaram opinião, ou seja, não se sentiram ultrajados pelo presidente.

Ora, a se considerar a maciça oposição da mídia, liderada pelo jornal NewYork Times e pela rede de televisão CNN, o apoio ao presidente é surpreendente. Além da lealdade partidária talvez encontre-se relevante solidariedade de segmento contra a agressão à imagem da Confederação que uniu os estados sulistas. Esta, apesar de derrotada, encontra nos livros e filmes um tratamento invariavelmente respeitoso e, até mesmo, laudatório. Generais sulistas como Robert E Lee e Stonewall Jackson são vistos, por grande parte da população, como heróis, derrotados mas heróis.

Já, as forças liberalizantes e racialmente tolerantes enveredaram, neste episódio, por uma trilha que não lhes é favorável. Atribuir ao “soldado confederado” o ânimus escravagista é diminui-lo perante a história. A Guerra Civil norte americana teve por razão direta, não a escravidão, mas sim o States Rights, ou seja o principio da preponderância da autonomia política dos estados sobre o governo central, depois denominado de União. De seu lado, o objetivo da guerra não parece ter sido a abolição da escravidão mas sim a entronização do Governo Central, ou a União. Não só cinco estados escravagistas integravam as forças do Norte, como a abolição da escravidão pelo governo da União deu-se somente em 1865, ao fim da guerra, o inimigo já vencido.

De volta ao Século XXI, não parece haver dúvida que aos movimentos liberais cabe o lado da razão. A derrubada das barreiras racistas é essencial ao progresso civilizatório. Mas cuidado se impõe, tanto na ação como na justificativa que dão aos protestos e passeatas, a legitimidade lhes é essencial. Em Charlottesville, viu-se violência; de um lado nazistas e o famigerado KKK, do outro, os black-blocks. A prosperar este clima de confronto físico corre grande risco a pacificação racial nos Estados Unidos.


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