Após uma tumultuada semana, onde dois
grupos ou facções se enfrentaram em Charlottesville cabem algumas
observações sobre o impacto resultante na opinião pública norte
americana. Recente pesquisa realizada pelo Washington Post coloca o
assunto em perspectiva surpreendente; o repúdio à posição do
presidente Trump não é tão extenso como fazia supor os clamores da
grande imprensa norte-americana. Conquanto a maioria repudiou tanto o
presidente como o comportamento dos brancos supremacistas, pode-se
concluir que o lado oposto, os que defendem a permanência dos
símbolos Confederados, é surpreendentemente elevado.
Trinta por cento dos adultos americanos
apoiaram o protesto contra a derrubada das estatuas confederadas, 62%
dos republicanos também. Enquanto 42% dos consultados consideram as
declarações de Trump como racistas, 35% discordam e, talvez mais
importante, 23% não manifestaram opinião, ou seja, não se sentiram
ultrajados pelo presidente.
Ora, a se considerar a maciça oposição
da mídia, liderada pelo jornal NewYork Times e pela rede de
televisão CNN, o apoio ao presidente é surpreendente. Além da
lealdade partidária talvez encontre-se relevante solidariedade de
segmento contra a agressão à imagem da Confederação que uniu os
estados sulistas. Esta, apesar de derrotada, encontra nos livros e
filmes um tratamento invariavelmente respeitoso e, até mesmo,
laudatório. Generais sulistas como Robert E Lee e Stonewall Jackson
são vistos, por grande parte da população, como heróis,
derrotados mas heróis.
Já, as forças liberalizantes e
racialmente tolerantes enveredaram, neste episódio, por uma trilha
que não lhes é favorável. Atribuir ao “soldado confederado” o
ânimus escravagista é diminui-lo perante a história. A Guerra
Civil norte americana teve por razão direta, não a escravidão,
mas sim o States Rights, ou seja o principio da preponderância
da autonomia política dos estados sobre o governo central, depois
denominado de União. De seu lado, o objetivo da guerra não parece
ter sido a abolição da escravidão mas sim a entronização do
Governo Central, ou a União. Não só cinco estados escravagistas
integravam as forças do Norte, como a abolição da escravidão pelo
governo da União deu-se somente em 1865, ao fim da guerra, o inimigo
já vencido.
De volta ao Século XXI, não parece
haver dúvida que aos movimentos liberais cabe o lado da razão. A
derrubada das barreiras racistas é essencial ao progresso
civilizatório. Mas cuidado se impõe, tanto na ação como na
justificativa que dão aos protestos e passeatas, a legitimidade lhes é essencial. Em Charlottesville, viu-se violência; de um lado
nazistas e o famigerado KKK, do outro, os black-blocks. A prosperar
este clima de confronto físico corre grande risco a pacificação
racial nos Estados Unidos.
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