É inegável a perda de respeito que
sofre a casta política. Por sua causa, mesmo a admirada
democracia hoje sofre reticências. Não raro, tais políticos na
ânsia de agradar o eleitorado menos esclarecido e assim perpetuar-se
no poder, promovem o desequilíbrio entre direitos e deveres, tornando
mais árdua a tarefa de guiar a nação.O processo é, ainda, agravado pela corruptora
monetização do processo eleitoral.
Também, o avanço da radicalização
ideológica, muitas vezes apresentadas como “verdades” empurram
eleitores e nação ao abandono do sábio “in medio virtus”.
Pecam, tanto as teses, por vezes simplistas, da extrema direita,
onde o mercado é o único árbitro confiável quanto as da esquerda
messiânica, onde só o Estado omnisciente garante o bem estar do
povo. Ambas ofuscam a realidade, que pede prudente dosagem em ambas
as fontes para prover o bem estar social.
A observação dos experimentos
sociais, econômicos, políticos parece ensinar que nenhuma tese
política merece a condição de verdade absoluta, de sucesso
indiscutível. Enquanto em alguns países é imensa a fortuna,
profunda, também é, a desigualdade de oportunidade dentre seus
cidadãos; enquanto àqueles que buscam garantir a igualdade
econômica mediante decreto travam sua capacidade de enriquecimento
econômico e social.
Assim, surge na França novo
projeto, de singular oportunidade na história da Política. O jovem
Emanuel Macron (40 anos), recém-chegado à atividade política, teve
o talento de identificar a inadequação da rígida formulação da
política tradicional, incapaz de tornar convergentes os interesses das diversas classes da sociedade. Resta-lhe encontrar as soluções.
Como primeiro passo, elegeu-se
presidente da República. Decepcionado com as limitações práticas
e teóricas do partidarismo socialista francês; repudiou, também,
as imposições da direita tradicional. Defende uma terceira via
reminiscente daquela defendida pelo britânico Tony Blair em 1997.
Se o primeiro passo, a conquista da
presidência, foi surpreendente, o segundo, aquele das eleições
legislativas, tornou-se revolucionário. Graças à grande abstenção
do eleitorado desiludido com os partidos históricos, o partido de
Macron, o En Marche! obteve forte maioria no parlamento, tornando-se
uma promessa renovadora para uma França antiquada.
No entanto, uma
importante proporção dos deputados e senadores eleitos serão
políticos de primeira viagem o que trás riscos e oportunidades.
Muitos deles amadores e libertos de uma disciplina partidária
poderão causar problemas para uma direção una, integrada e eficaz.
Por outro lado, o partido estará livre das algemas de compromissos
históricos. Terão por missão defender a complexa plataforma do
presidente, a qual propõe medidas oscilando entre os polos
ideológicos.
Esta visão ecumênica trará tensões,
tanto internas como nos partidos opositores, arraigados às suas
tradicionais formulas. Nos próximos 100 dias, período estimado pelo
jornalismo político como sendo o de lua-de-mel, ter-se-á um indício
quanto à viabilidade de tão notável projeto.
Ao ler-se o que vai acima, salta aos
olhos a importância deste experimento para um Brasil castigado pela
irrelevância e a ilegitimidade de seus atuais quadros políticos.
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