quinta-feira, 22 de junho de 2017

Macrom, ingênuo ou gênio?

É inegável a perda de respeito que sofre a casta política. Por sua causa, mesmo a admirada democracia hoje sofre reticências. Não raro, tais políticos na ânsia de agradar o eleitorado menos esclarecido e assim perpetuar-se no poder, promovem o desequilíbrio entre direitos e deveres, tornando mais árdua a tarefa de guiar a nação.O processo é, ainda, agravado pela corruptora monetização do processo eleitoral. 
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Também, o avanço da radicalização ideológica, muitas vezes apresentadas como “verdades” empurram eleitores e nação ao abandono do sábio “in medio virtus”. Pecam, tanto as teses, por vezes simplistas, da extrema direita, onde o mercado é o único árbitro confiável quanto as da esquerda messiânica, onde só o Estado omnisciente garante o bem estar do povo. Ambas ofuscam a realidade, que pede prudente dosagem em ambas as fontes para prover o bem estar social.

A observação dos experimentos sociais, econômicos, políticos parece ensinar que nenhuma tese política merece a condição de verdade absoluta, de sucesso indiscutível. Enquanto em alguns países é imensa a fortuna, profunda, também é, a desigualdade de oportunidade dentre seus cidadãos; enquanto àqueles que buscam garantir a igualdade econômica mediante decreto travam sua capacidade de enriquecimento econômico e social.

Assim, surge na França novo projeto, de singular oportunidade na história da Política. O jovem Emanuel Macron (40 anos), recém-chegado à atividade política, teve o talento de identificar a inadequação da rígida formulação da política tradicional, incapaz de tornar convergentes os interesses das diversas classes da sociedade. Resta-lhe encontrar as soluções.

Como primeiro passo, elegeu-se presidente da República. Decepcionado com as limitações práticas e teóricas do partidarismo socialista francês; repudiou, também, as imposições da direita tradicional. Defende uma terceira via reminiscente daquela defendida pelo britânico Tony Blair em 1997.

Se o primeiro passo, a conquista da presidência, foi surpreendente, o segundo, aquele das eleições legislativas, tornou-se revolucionário. Graças à grande abstenção do eleitorado desiludido com os partidos históricos, o partido de Macron, o En Marche! obteve forte maioria no parlamento, tornando-se uma promessa renovadora para uma França antiquada. 

No entanto, uma importante proporção dos deputados e senadores eleitos serão políticos de primeira viagem o que trás riscos e oportunidades. Muitos deles amadores e libertos de uma disciplina partidária poderão causar problemas para uma direção una, integrada e eficaz. Por outro lado, o partido estará livre das algemas de compromissos históricos. Terão por missão defender a complexa plataforma do presidente, a qual propõe medidas oscilando entre os polos ideológicos.

Esta visão ecumênica trará tensões, tanto internas como nos partidos opositores, arraigados às suas tradicionais formulas. Nos próximos 100 dias, período estimado pelo jornalismo político como sendo o de lua-de-mel, ter-se-á um indício quanto à viabilidade de tão notável projeto.

Ao ler-se o que vai acima, salta aos olhos a importância deste experimento para um Brasil castigado pela irrelevância e a ilegitimidade de seus atuais quadros políticos.


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