sexta-feira, 16 de junho de 2017

Trump nas arábias


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Talvez a mais difícil tarefa entregue ao recém eleito presidente norte-americano é administrar o vespeiro Oriente Próximo. Desconhecedor da sua história e cultura, confunde nacionalidades e etnias, crenças e religiões, fronteiras e regiões, ódios e alianças. Avesso à compreensão do cinza, busca no branco e preto o caminho da solução. À este quadro mental une-se a natureza impulsiva de Donald Trump melhor descrita no idiomático “shoot from the hip”.(1)

Lançando-se em viagem à Arábia Saudita, buscou no reino Wahhabita, o mais radical dos reinos regionais e que originou a Al Qaeda, a consolidação de sua mais relevante aliança. Ao conferir um empréstimo de 110 bilhões de dólares para aquisição de ainda mais armamentos, permite ao Rei Salman a liderança sobre os estados sunitas da região.

Consolida-se, assim, o projeto há pouco iniciado pelo jóvem Príncipe bin Salman, de transformar seu país, de uma posição de satélite e súdito dos Estados Unidos para uma nação autônoma e determinante de seu próprio  destino. Deixa de ser imperativa a convergência com a política norte-americana. O fará em consonância com os seus antigos mentores, mas, se necessário, saberá privilegiar seus interesses.

Ao romper relações e bloquear economicamente o Catar, a Arábia Saudita revelou sua natureza autoritária, impositiva e assertiva, agindo sem o benefício do diálogo e da negociação. Sem conceder a Doha qualquer pré-aviso, Riad determinou o bloqueio econômico do seu, há pouco, aliado. Declarou ser inaceitável o apoio do Emir catar, Halmad al-Thani, à Irmandade Muçulmana e à Al Jazeera, agência de notícias estatal, por vezes crítica de seus vizinhos. Assim, levou perigosa intranquilidade à Turquia, aliada dos Estados Unidos na OTAN, e ao Irã, onde presidente moderado e favorável ao diálogo com o Ocidente acaba de ser eleito.

Desprezando o fato do Catar ser, também, seu aliado e abrigar sua maior base aérea na região, Trump deixou-se influenciar pelos argumentos do Rei Salman, concedendo-lhe o beneplácito para ato desagregador dentre seus aliados no Golfo Pérsico. Fragilizou uma importante aliança estratégica e tornou-se menos confiável.

Fortalece-se, assim, o poder de Riad mediante crescente capacidade bélica e política. O consequente rompimento de equilíbrio de forças tem, ao longo da história, aberto as portas ao conflito. Tendo em vista a vitriólica retórica do reino sunita dirigida ao Irã e demais regiões sob comando xiita, parece razoável esperar-se o agravamento das tensões regionais, podendo chegar ao confronto armado contra o Irã. 

Por absurdo que possa hoje parecer, a agravar-se o contencioso não seria impensável ver-se, num futuro próximo, uma aliança tácita, senão explicita, entre Israel e a Arábia Saudita, dentro do princípio semita de que inimigo de meu inimigo meu amigo é. A permissão de Riad ao sobrevoo de aviões israelenses abriria as portas a arrasador ataque aéreo às instalações militares no Irã, relegando à longínquo futuro qualquer projeto nuclear porventura projetado por Teerã. Difícil medir-se a extensão das mútuas retaliações ao deflagar-se tal incêndio.

Trump parece estar perdendo o controle sobre os acontecimentos na mais perigosa região do planeta, onde grassa o terrorismo. O cavalo Saudita parece ter tomado o freio em seus dentes; ao cavaleiro (ou será cow-boy?), cuidado.

(1) Atire de primeira



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