domingo, 18 de outubro de 2015

Sonho de uma noite de verão





Aproxima-se o momento quando os brasileiros terão que decidir o destino do pais para a próxima década. O possível impeachment da presidenta poderá transformar-se no grande divisor de águas da política sócio-econômica. Por consequência, ter-se-a ou a eclosão de turbulenta tempestade ou o rumo será o da normalização e retomada?


O PSDB sob comando incerto, ora do mineiro Aécio, ora dos paulitas Serra e Alckmin, ora sob a direção do carioca Fernando Henrique Cardoso, navega atabalhoadamente, votando contra o ajuste fiscal, assim contrariando sua tradicional plataforma econômica e abraçando o “quanto pior melhor”. Conspira, ainda, com o dúbio Eduardo Cunha, como melhor tática para defenestrar Dilma Rousseff.


A iniciativa dupla, parece ser de alto risco. Empurrar o Brasil para o desequilíbrio estrutural da sua economia levaria à perda do “investment grade”. Seria, assim, o início de uma viagem de fim incerto tendendo ao tenebroso. A atitude restritiva no mercado financeiro internacional empurraria a taxa de cambio a novos e elevados patamares, com imediato reflexo nas taxas de juros, face à fragilidade crescente do déficit em Transações Correntes. A partir deste cenário, fortíssimas serão as correntes internas contrárias à expansão da atividade empresarial, redundando na progressão inflacionária, na inadimplência de consumidor e produtor, no crescimento do desemprego. Difícil será prever que benefícios tirará o PSDB de águas tão turvas.


Ainda, a experiência sugere não ser provável bom negócio com sócio de patamar ético divergente. Os acordos celebrados entre o comando Tucano e o presidente da Câmara estarão assentados sobre terreno enlameado, instável, podendo levar à ruptura e decepção a qualquer momento.


Quanto ao impeachment, parece ser, também, uma aventura de alto risco. A destituição de Dilma imporá a convocação de novas eleições, por ser a vigência de seu segundo mandato inferior a dois anos. Neste caso, o PSDB demonstra confiança em seu prognóstico de vitória. Tal otimismo seria fundamentado sobre dois pontos principais; a baixíssima aprovação do governo atual com reflexos negativos sobre a imagem do Partido dos Trabalhadores e, ainda, na lembrança das eleições passadas, onde a Oposição chegou perto de derrotar a aliança governamental.


Não fosse o fator Lula, a avaliação acima pareceria digna de crédito. Contudo, a realidade política parece ser outra, uma vez que, face o enorme desafio, Luis Ignácio da Silva saberá, mais uma vez valer-se de sua laterciliedade (capacidade de mudar a aparência). Do administrador ortodoxo em questões ficais que caracterizou seu primeiro mandato, Lula deverá surgir como o redentor do povo esmagado, lançando mão dos argumentos e artifícios que levaram povos crédulos à ruína.


No seu recente discurso de abertura do 12° Congresso da CUT, a 9 de outubro, defende a quebra da responsabilidade monetária e fiscal, conclamando os bancos oficiais a abrirem suas portas, desprezando a inadimplência que hoje exaure o consumo e o financiamento familiar. Confrontado nos palanques pelas recessivas realidades geradas pelas políticas insustentáveis, Lula, à alta dos juros responderá por acusação aos bancos. À desvalorização do Real, acusará o imperialismo aliado à Wall Street. Ao desabastecimento, denunciará os empresários de serem maus brasileiros.


Difícil será avaliar quão eficaz, eleitoralmente, serão suas diatribes. O risco será enorme. Mesmo derrotado, não haverá rescaldo, pois as esperanças aguçadas e frustradas, ainda que infundadas, poderão tornar-se, por algum tempo, adubo de cruéis confrontos sociais.


Qual o melhor caminho? Deus dirá, pois não ha homem capaz de fazê-lo. Porém, para o Brasil, senão para este ou aquele partido, torna-se imperativa uma coalizão partidária de objetivo específico: apoiar toda medida de saneamento fiscal, seja desta ou daquela autoria. O sucesso do reequilíbrio fiscal traria a queda da inflação, a início da retomada do emprego, cujos benefícios políticos seriam, necessariamente, colhidos quando das novas eleições em 2018.

Quiça em acesso idealista, quem sabe se, sob o slogan “Primeiro o Brasil”, o PSDB devesse iniciar uma campanha parlamentar permanente, adotando diuturnamente o que, habitualmente, deixa para fazer quando da época eleitoral. Um denso planejamento de comunicação sócio-política, mobilizando todos os ativos do partido, projetaria junto ao eleitorado a atuação parlamentar retificadora e contrária ao populismo que fere a nação. A cada legislação corretiva aprovada com seu apoio ostensivo e propalado, o partido de oposição deixaria claro os danos do governo petista e a necessidade de corrigi-los.

Será um sonho de uma noite de verão?







Nenhum comentário: