sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Solidariedade ou rivalidade?


Su-25, Su-24m and Su-34 planes © Sergey Pivovarov, Igor Zarembo, Vladimir AstapkovichConforme sugerido nesta coluna, parece estar se iniciando uma coordenação entre os presidentes Obama e Putin com vistas ao enfrentamento com o Estado Islâmico. O interesse comum aos dois presidentes será a derrota de um “estado terrorista”, cuja expansão trará perigos reais e iminentes, tanto aos Estados Unidos quanto à Rússia.

Na luta contra o Estado Islâmico a contribuição norte-americana se atêm à intervenção aérea, seja por drones, seja por caças bombardeiros. Ainda, Washington coordena a aviação dos estados do Golfo da Arábia Saudita e da Jordânia. Não oferece soldados no terreno, a não ser o pequeno Exercito Livre da Síria. Até o momento a formula engendrada por Washington para derrotar as tropas de Al Baghdadi parece ser inócua.

Se por um lado os bombardeios continuados da coalizão montada por Obama causam baixas nas hostes djihadistas, estas parecem ser bem inferiores à crescente leva de novos seguidores recrutados tanto na Ásia muçulmana como no Ocidente.

Mas talvez o ponto mais fraco da estratégia dos Estados Unidos seja a falta de tropa no chão (boots on the ground). As perdas sofridas pelo exército norte americanos em suas aventuras Iraquianas e Afegãs retiraram-lhe o suporte político essencial para sua inclusão na atual formulação militar. A tentativa de buscar a vitória somente através das missões aéreas sem a tropa para lhe dar sequência parece sugerir o insucesso. Ainda, a mortandade de civís causada pelos aviões em busca de alvos torna-se mais um elemento recrutador de novos seguidores do Califado.

A única fonte de tropa disponível à Coalizão arquitetada por Washington provém dos estados Sunitas. Estes dificilmente lançarão seus exércitos contra o Estado Islâmico, também Sunita, assim favorecendo seu mais execrável inimigo, o regime Xiita de Bashar Al Assad.

Hoje, os estados Sunitas parecem ser cada vez mais liderados, não pelos Estados Unidos, mas sim pela Arábia Saudita. Estes dificilmente concordarão com a proposta russa. Voltar seus exércitos contra o Estado Islâmico, de confissão Sunita, em apoio a um estado laico comandado por um Xiita parece um paradoxo de difícil digestão. Ainda, ao lançar suas tropas contra Al Baghdadi, não seria desprezível a possibilidade de fratura na lealdade da soldadesca, com imprevisíveis consequências dentre fronteiras da Coalizão.

Face a inviabilidade da dúbia estratégia escolhida por Barack Obama, resultante da inviabilidade político-militar de seus elementos, Obama terá que optar, seja pela insistência na formulação atual, seja pela sua reformulação.

Esta lhe é oferecida pelo presidente russo. A proposta de Putin traz à mesa as tropas de Assad, os soldados e milicias Iraquianas, o Hizbollah libanês e forças do Quds Iraniano. Além propiciar as botas no terreno, Moscou coloca uma cinquentena de aviões baseados na cidade síria de Tartus, para apoio tático contra o Califado. Do ponto de vista militar, sua estratégia parece ser a única com probabilidade de sucesso na derrota do principal inimigo do Ocidente, o Estado Islâmico.

Obama já reconhece deixar a questão Assad para depois; no entanto, o acumulo de desconfiança histórica que pesa na relação entre os dois antigos inimigos, representa sério obstáculo. Contudo, a lógica parece recomendar, como prioridade, a destruição das forças de Al Baghdadi. Ou bem Obama aceita aliar-se a Putin nesta empreitada, ou o desacerto decorrente de duas potencias armadas num só teatro de guerra poderá ter conseqüências que irão muito além das fronteiras do Oriente Médio.


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