quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Obama e a maldição de Othelo
Dias difíceis para Barack Obama. Os resultados eleitorais são explícitos, até mesmo cruéis. O povo norte americano formalisou seu repúdio ao primeiro presidente negro da nação. A Câmara já não lhe pertência, e agora, perde o Senado. Pior do que Lame Duck, o presidente torna-se comatoso.
No entanto, foi Mr. Obama que recebeu de seus oponente Republicanos uma das mais amargas heranças que qualquer político teria a desventura de receber. O crash de 2007 impôs ao governante severas limitações, resduzindo sua capacidade de ação no campo interno visto o constrangimento orçamentário e o resultante aumento da dívida pública. Assim, perseguido impacávelmente pelos Republicanos e seu braço radical, o Tea Party, recebe o partido Democráta sobre os ombros o ônus do cáos por eles criados.
Mas foi tudo tão ruim assim? No campo econômico, certamente não. De um déficit superior a um trilhão de dólares no início da Grande Recessão, hoje ele se situa em 460 bilhões. O desemprego que atingira mais do que 10%, hoje está em 5,7%. O PIB, anteriormente em quada livre, hoje se apresenta em franco crescimento. As bolsas atingiram preços altíssimos. No campo social, os Estados Unidos finalmente se juntaram ao clube dos países socialmente responsáveis através do programa Obamacare, dando a todos os cidadãos acesso à saúde. Mas também é verdade que desde a 2a. Guerra Mundial não se via tão grande o abismo entre ricos e pobres
Também pesou sobre os Democratas a exploração do medo, o fantasma terrorista aguçado pelo descontrole no Oriente Médio. Neste caso, a responsabilidade do Presidente parece ser mais nítida.
Porém, a nociva herança recebida não foi apenas financeira e orçamentária; a elas somaram-se a política externa em frangalhos após as guerras iraquianas e afegãs. Também, naquele mesmo teatro, a aliança incondicional com Israel, instituida por George Bush, engessou a capacidade de manobra de Washington no Oriente Médio.
Impediu a Paz na Palestina bem como a democratização do Egíto e a consequente redução de tensão regional. Dificultou, ainda, o desarmamento e o rapprochement com o Iran. Já a retirada americana do Iraque, tornava-se inevitável pelos sacrificios em homems e capital, e, também, por não mais aceitar o governo xiita tropas extrangeiras isentas de responsabilidade penal. O vácuo criado pela retirada deu livre curso às desavenças e ódios entre as diversas facções religiosas, cujas fronteiras tornaram-se ideológicas e não físicas.
Ainda, a questão Síria se agrava e complica. Washington é lançado em confusão de objetivos, mantendo-se hostíl à Assad, enquanto bombardeia as tropas do Califado que se espalham pelo Oriente Médio. Para acentuar a perplexidade que ora domina Washington, o Califado é, também, inimigo de Damasco. Já, o Exercito Livre da Síria, composto por guerrilheiros anti Assad e pró-ocidental, é derrotado pela Al Qaeda Síria, inimiga figadal de Assad e Obama e aliada do Califado. Será que o eleitorado norte americano entendeu alguma coisa ? Pouco provável.
E, last but not least, a questão Ucraniana. Em passo de grande imprudência Obama pretendeu cooptar aquela estado-tampão para a órbita euro-norte-americana. Ingenuamente, acreditou que o Urso estivesse dormindo. Não estava. Vladimir Putin vendo a segurança da pátria ameaçada, reagiu, levando o mundo a nova e perigosissima confrontação. Assim, potencias nucleares lutam por primazia sobre um território desimportante para o Ocidente, e vital para a Rússia.
Assim, tornou-se o peso eleitoral, insustentável. A opinião pública norte americana não aceita a imagem de seu país ferida no campo internacional. Os mitos de excepcionalidade e de invencibilidade são arraigados, e a visivel incapacidade para a solução exigida gera, perante os norte americanos, profundo desconforto.
E, assim, Barack Obama sai, pouco a pouco, de cena. Pena.
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