terça-feira, 11 de novembro de 2014
Espanha revisitada?
Após a derrubada do Rei Afonso XIII em 1931, formou-se um governo republicano, dominado pelos socialistas. Em 1936 militares monarquistas se rebelaram, liderados pelo já famoso general Franco. Assim começou na Espanha tres anos de cruenta guerra civíl. No combate foi testada a eficacidade de novas armas e o poder de novas ideologias. Os monarquistas foram apoiados pelo nazismo e fascismo, enquanto os republicanos (com os comunistas no comando militar) tiveram o suporte da Rússia e das brigadas voluntárias socialistas e anarquistas, vindas dos Estados Unidos, França, Inglaterra e outros países.
Assim, as duas facções passaram fazer o jogo das duas grandes potências, Alemanha e Rússia, alimentados que foram por homens e material bélico de toda ordem. Tanto Berlim como Moscou, finda a manipulação de suas marionetes espanholas, terminaram por se enfrentar na mais sangrenta das guerras.
Passemos à Ucrânia. O país está políticamente dividido, com o setor Oeste (Kiev) sob influência Euro-americana, enquanto o setor Leste (Donetsk e Luhansk) é ligado a Moscou. Se não houver um desarmamento de espíritos nas próximas semanas, será provável o recomeço do conflito, temporáriamente interrompido pela cessar fogo. Numa primeira fase, tal confronto provávelmente fará com que armas ocidentais e russas abasteçam, cada vez mais, os beligerantes; já numa segunda fase, é forte a probabilidade de envolvimento de “voluntários” dos dois campos, assim dificultando, cada vez mais, o retorno à mesa de negociações. A terceira fase seria a internacionalização do conflito, com a participação ostensiva da OTAN e da Rússia.
O que diferencia e agrava o atual conflito da experíência espanhola, é serem ambos os opositores potencias nucleares. Assim, seja por intenção, seja por “erro de cálculo”, o que começou como uma aventura geopolítica pode transormar-se numa guerra de consequências imprevisiveis.
O contencioso Ucraniano teve por inicio o indevido apoio Ocidental à derrubanda do presidente eleito do país. Empossado em Kiev o ultra direitista Primeiro Ministro rebelde, anunciou-se o cancelamento do regime bilingue, onde o ucraniano e o russo conviviam secularmente, bem como outras conceções à população russófona. Em resposta às “alterações nas regras do jogo cívico” seguiu-se o levante dos rebeldes, desta vez no Leste, com o inevitável apoio de Moscou.
As recentes eleições, tanto na parte Oeste como no Leste da Ucrânia agravam a situação, por enquistar e engessar os pólos em conflito. Legitimam uma facção, e relega o adversário à ilegitimidade.
Torna-se urgente desarmar-se as pressões bélicas de parte a parte, pois a crise promete deterioração incontida. Vale, neste momento onde soluções pacíficas se impõem, o exame da formula imposta pela OTAN para o conflito do Kosovo contra a Sérvia. A independencia da província separatista sérvia embasou-se em quatro critèrios:
1, o territorial (Utis Possidetes),
2, o étnico,
3, o idioma e
4, o religioso.
A formulação então propugnada pelos Estados Unidos parece aplicar-se, com surprendente fidelidade às condições que hoje se verificam na Ucrânia, como um todo, e nas duas partes contestatárias. Os rebeldes detêm a terra reinvidicada, a etnia é diversa do ucraniano, o mesmo se aplica ao idioma, que é o russo e a religião Ortodoxa, e não a Católica.
Aplicou-se, com sucesso a formula como base para ligitimização da separação do Kosovo. Parece aplicar-se, também, no caso Ucraniano. Resta formalizar o procedimento eleitoral e pacificador, com a aprovação de ambas as partes.
Há um ditado inglês que diz: “A visão do patíbulo aguça a mente” *. Se houver bom senso e boa vontade, outras alternativas, que não a apresentada acima, certamente surgirão. Antes que seja tarde.
* The sight of the gallows sharpens the mind
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