Assim, as duas facções passaram fazer o jogo das duas grandes potências, Alemanha e Rússia, alimentados que foram por homens e material bélico de toda ordem. Tanto Berlim como Moscou, finda a manipulação de suas marionetes espanholas, terminaram por se enfrentar na mais sangrenta das guerras.
Passemos à Ucrânia. O país está políticamente dividido, com o setor Oeste (Kiev) sob influência Euro-americana, enquanto o setor Leste (Donetsk e Luhansk) é ligado a Moscou. Se não houver um desarmamento de espíritos nas próximas semanas, será provável o recomeço do conflito, temporáriamente interrompido pela cessar fogo. Numa primeira fase, tal confronto provávelmente fará com que armas ocidentais e russas abasteçam, cada vez mais, os beligerantes; já numa segunda fase, é forte a probabilidade de envolvimento de “voluntários” dos dois campos, assim dificultando, cada vez mais, o retorno à mesa de negociações. A terceira fase seria a internacionalização do conflito, com a participação ostensiva da OTAN e da Rússia.
O que diferencia e agrava o atual conflito da experíência espanhola, é serem ambos os opositores potencias nucleares. Assim, seja por intenção, seja por “erro de cálculo”, o que começou como uma aventura geopolítica pode transormar-se numa guerra de consequências imprevisiveis.
O contencioso Ucraniano teve por inicio o indevido apoio Ocidental à derrubanda do presidente eleito do país. Empossado em Kiev o ultra direitista Primeiro Ministro rebelde, anunciou-se o cancelamento do regime bilingue, onde o ucraniano e o russo conviviam secularmente, bem como outras conceções à população russófona. Em resposta às “alterações nas regras do jogo cívico” seguiu-se o levante dos rebeldes, desta vez no Leste, com o inevitável apoio de Moscou.
As recentes eleições, tanto na parte Oeste como no Leste da Ucrânia agravam a situação, por enquistar e engessar os pólos em conflito. Legitimam uma facção, e relega o adversário à ilegitimidade.
Torna-se urgente desarmar-se as pressões bélicas de parte a parte, pois a crise promete deterioração incontida. Vale, neste momento onde soluções pacíficas se impõem, o exame da formula imposta pela OTAN para o conflito do Kosovo contra a Sérvia. A independencia da província separatista sérvia embasou-se em quatro critèrios:
1, o territorial (Utis Possidetes),
2, o étnico,
3, o idioma e
4, o religioso.
A formulação então propugnada pelos Estados Unidos parece aplicar-se, com surprendente fidelidade às condições que hoje se verificam na Ucrânia, como um todo, e nas duas partes contestatárias. Os rebeldes detêm a terra reinvidicada, a etnia é diversa do ucraniano, o mesmo se aplica ao idioma, que é o russo e a religião Ortodoxa, e não a Católica.
Aplicou-se, com sucesso a formula como base para ligitimização da separação do Kosovo. Parece aplicar-se, também, no caso Ucraniano. Resta formalizar o procedimento eleitoral e pacificador, com a aprovação de ambas as partes.
Há um ditado inglês que diz: “A visão do patíbulo aguça a mente” *. Se houver bom senso e boa vontade, outras alternativas, que não a apresentada acima, certamente surgirão. Antes que seja tarde.
* The sight of the gallows sharpens the mind
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